Um retrato das miudezas

Revista Desvario
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2 min readJul 15, 2024

uma resenha do livro de Diana Pilatti

Foto de livro, int, fundo branco. Ao centro da imagem, o livro “Pequenas Sinestesias” está na vertical sobre uma mesa. Ao sue lado esquerdo, há um ramo de folhas e frutos vermelhos que se reclina sobre sobre a capa do livro.
(arquivo da autora)

A escritora Diana Pilatti sabe como ninguém trabalhar a brevidade em versos. Mesmo já familiarizada com sua escrita nas Palavras Diáfanas e Palavras Póstumas, me surpreendi com a originalidade da autora em trabalhar a complexidade de temáticas como a saudade e a solidão nos sucintos tercetos de Pequenas sinestesias.

Nesse seu quinto livro, Diana reúne 65 poesias compostas em poetrix, um formato de escrita em até trinta sílabas métricas distribuídas ao longo de de três versos, sob um título de significado complementar. Confesso que desconhecia esse tipo poético específico até ler Pequenas sinestesias, publicado em 2023 como parte da Coleção IV do Coletivo Mulherio das Letras.

Na obra, os versos dos poemas são desapegados de rimas, mas extremamente atentos à oralidade como no caso de Sonho floral: lápide alva / foge na noite branca — visagem / alma pétala. O ritmo se sobressai bem demarcado pelas consoantes, havendo usos raríssimos de pontuação para o ensejar a pausa ou, no caso de Tarde, conferir nitidez ao eu-lírico: raras nuvens / uma lambida de sol / eu, saudade de inverno.

A fluidez do livro se desenvolve ao longo de um único conjunto de poemas selecionados. Sem seções ou partes delimitadas, Diana nos apresenta uma seleção de retratos que revelam a permanência do instante através do minimalismo. Em versos, olhamos para um pequeno acontecimento que se traduz na permanência do sentir através de uma territorialização do fugaz. Isolamento, um dos meus preferidos, capta “no tempo presente, solidão /
são longos os dias no exílio / a hora imóvel me habita”.

Assim, Pequenas Sinestesias é um livro rápido, quase fugitivo em sua precisão. Cada poema é um momento, cada verso um recorte. A leitura ganha um caráter de imediatismo sem se descolar da robustez de significados inerentes à escrita poética. Diana Pilatti usa a miudeza da palavra para fotografar e tornar visível aquilo que facilmente poderia passar despercebido.

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