Foto: Daniel Marenco

qual o meu estado

Marcos Oliveira
deus ex machina

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estado
de espírito em dor
de peixe fora d’agua
com gosto de mercúrio
na boca e merthiolate na guelra
chumbo e estanho na escama
cercado e embaixo de encostas
de montanhas de pés de barro
esgotado por minerador
leão isento de derrama
com nome de santo
de pau oco
rejeito
se perguntarem o meu gentílico
direi sou geralista do nordeste
não mais que sou mineiro
de certo que sou de fronteira
tenho sotaque e trejeito
pelo Doce tirado da boca de outro rio
se apropriaram também do Vale
(o único que dispensa o complemento)
avalença ainda é o "O" que o precede
tomaram os diamantes e as águas
vale a pena dizer que Onha é peixe
e vergonha é pouca
hoje sou do Córrego Onça
barranqueiro que sonha
em margens de rios cobertos
de concreto ou lama
do vale de Mariana ou qualquer outro
valente se chama
roubaram o braseiro do meu adjetivo pátrio
pra forjar o ferro do meu peito
mas não replantam as árvores dos meus pulmões
depois de passar pelo espírito santo
o rejeito começa correr pelo Mar de meu nome!
poema de Marconi Marques

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