Formação acadêmica na área de tecnologia da informação:

Necessário ou complemento?

Redação Paulo Henrique, Thiago Batista
Edição Emily Maia, Thaynara Andrade
Ilustração Nillia Sousa

Artigo disponível na Sandbox 3

Devo ou não fazer uma graduação antes de trabalhar em T.I.?

Essa acaba sendo uma grande dúvida quando se pensa em entrar para a área de tecnologia. Isso se deve a sua atual grande demanda que é diversificada para inúmeras possíveis áreas de atuação. Partindo do desenvolvimento de softwares para desktop, smartphones, sites, até o âmbito mais humano como um gerente de comunidades. Sendo o ultimo alguém que tem a responsabilidade de lidar diretamente com as comunidades de interesse para a empresa.

Independente de qual local você está situado dentro desse vasto mar, sempre haverá uma pessoa que inicia essa discussão ao seu lado ou alguém próximo a você que está pensando em, enfim, fazer uma transição de carreira para TI: Eu preciso de faculdade? Qual graduação devo fazer? Quanto tempo posso ficar trabalhando sem formação na área?

Há quem ache chato esse tipo de pergunta, porém, essas perguntas são válidas hoje e devemos tratar elas da melhor maneira, exemplificando e mostrando com argumentos as diferentes formas de se enxergar essa discussão. Mas afinal, é um problema trabalhar sem graduação? Isso é algo bem comum de se perguntar, mas já é de conhecimento da maioria que não, não é um problema trabalhar sem uma titulação formal, nem ao menos sem certificado de cursos profissionalizantes.

O campo da tecnologia da informação possui uma cultura de trocar conhecimento por meio de diversos locais abertos como blogs, fóruns, vídeos, etc, diferentemente de outras áreas.

Essa cultura permitiu mudar até mesmo a forma de contratação, que hoje se dá através de portfólios, em que o candidato demonstra dominar o conteúdo por meio de projetos que tenha participado e projetos pessoais que ele esteja mantendo. Essa tem sido a forma mais comum e que todos dão mais atenção.

Entretanto, claro que ainda existem locais que prezam pela titulação, principalmente em se tratando de empreendimentos conservadores, ou que tem processos seletivos por meio de editais e similares. É importante entender que não é só uma titulação que vai garantir você dentro do mercado, bem como também cargos mais altos, afinal, existem diversos bons profissionais que ocupam altos cargos sem possuírem essa formação, assim como em outras áreas.

Nesse contexto, entrevistamos Jonas Albuquerque, Fullstack Developer na Gran Cursos Online, e que não possui uma graduação na área. Jonas acredita que graduação é algo importante para a área, mas que depende do que a pessoa necessita para o momento. A seguir, um pouco mais de sua opinião sobre o assunto.

Sandbox: Você já deixou de assumir algum cargo/vaga por conta de não ter graduação?

Jonas: Nunca ocorreu. Algumas empresas até tem projetos de introduzir os colaboradores em faculdades, acho isso bastante interessante, e, inclusive, admiro a cultura da empresa que pensa no colaborador: investindo no plano de carreira do funcionário para ajudá-lo a se profissionalizar cada vez mais.

Sandbox: Você acredita estar em desvantagem em relação a essas pessoas? Como lida com essa pressão?

Jonas: Não acredito estar em desvantagem, como acredito estar em vantagem em relação a um aluno que acabou de terminar a faculdade e espera entrar em boas posições em vagas de empresas, pois, sem a mínima experiência, fica até difícil conseguir uma vaga de junior hoje em dia. A maioria das vagas tem bastantes requerimentos e experiências. É uma das coisas mais contraditória que eu percebi nesses últimos anos, como que ganha experiência se só tem vaga que quer você com experiência?

Sandbox: Você acredita sofrer certa desconfiança no mundo do trabalho devido ao fato de não realizar uma graduação?

Jonas: Nunca, o que pode acontecer é alguns recrutadores não escolherem o seu currículo, pois a vaga requere ensino superior completo. Esse pensamento está bastante defasado e empresas que seguem isso estão ficando paradas no tempo. Pelo menos nas entrevistas que já participei, que foram um pouco mais de 15, nunca foi me pressionado ou até perguntado se eu possuía ensino superior.

"Como que ganha experiência se só tem vaga que quer você com experiência?"

E quem já está na academia a um tempo, o que tem a dizer?

Outra visão que podemos acompanhar é a de alguém que está a muito tempo dentro da área acadêmica, que começou como desenvolvedor freelancer, mas em que certo ponto resolveu dar uma chance a graduação e acabou não parando mais. Leonardo Oliveira Moreira, conhecido como Leo, é docente efetivo do curso de Sistemas e Mídias Digitais (SMD) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e, desde sua entrada, vem buscando inovar através da pesquisa e também orientando diversos trabalhos. A seguir, você pode conferir sua visão quanto a universidade para o mundo de T.I.

Sandbox: Se você tivesse começando hoje na área, sem experiência alguma, faria alguma graduação?

Leo: Sim, inclusive comecei a graduação de computação quando já atuava como desenvolvedor freelancer, apenas procurei nela formalizar esse conhecimento. No curso, aprendi novas técnicas que faltavam de certa forma, então, o que eu aprendi na graduação complementou bastante, comparado ao que já tinha antes. A vivência em projetos e o contato com a teoria computacional, agregaram muito. […] Nunca me imaginei como professor. Por toda [minha] família ser cientista, acabei tendo essa influência do meu tio, para entrar no curso e posteriormente no mestrado. Sempre gostei de desenvolver, mas nunca gostei de ficar na mesmice e dentro da academia pude descobrir novas formas de desenvolver, além do que fazia em empresas, encontrei novos proje — tos, orientação de trabalhos e publicações. […] A graduação preencheu buracos de conhecimento que existiam em mim, me tornando uma pessoa melhor de forma técnica e científica.

Sandbox: Você acredita ser possível aprender bem os conteúdos da área sem o auxílio de uma graduação, apenas com conteúdos compartilhados na internet?

Leo: É possível, porém, mais difícil, pois a graduação possui toda uma grade pensada, em que determinados assuntos possuem seus pré — -requisitos. Eu vivi isso, afinal, sabia programar, mas não sabia bem os fundamentos e, assim, não sabia das possibilidades existentes para desenvolver. […] para isso, o melhor seria possuir uma mentoria, em que alguém irá dizer o que para aprender sobre certo conteúdo, que é melhor ver isso antes… tornando mais eficaz o processo de aprendizagem.

“ Sabia programar, mas não sabia bem os fundamentos e, assim, não sabia das possibilidades existentes para desenvolver."

Além disso, devemos ter criticidade ao conte údo, pois alguns não possuem um bom conte údo, assim como existem outros incríveis e que ajudam bastante, realmente saber como avaliar esse conteúdo e a figura do mentor ajuda nisso.

Sandbox: O que foi lhe possibilitado através da formação acadêmica?

Leo: Ela me possibilitou a primeira renumera ção, através de monitoria. Também possibilitou uma vivência do compartilhamento de conhecimento. Eu não estava entendendo, mas ali eu já tinha obtido o insight de como a partilha de conhecimento engrandece.

Sandbox: Como você vê as pessoas que se formam na graduação e como se dá a inserção dessas no mundo do trabalho?

Leo: Eu tive o privilégio de orientar 45 alunos de graduação no curso de SMD. Dois ex-alunos, no semestre passado, estavam em banca de mestrado ao meu lado. Outro, eu soube que virou coordenador em outra universidade, outro que foi para Amsterdã […]. Então, hoje, eu vejo meus ex-alunos como colegas, que estão disseminando conhecimentos, orientando, dando consultorias para o exterior. É muito realizador para mim ver todos eles se tornando referências na área e o sentimento que resume tudo isso é de gratidão, é muito gratificante ver que todo meu esforço me fez colher estes frutos, poder ver eles brilhando e saber que ajudei na caminhada.

Diante disso, o que fazer?

Diante disso, é possível perceber que existem diversas visões acerca desse assunto e podemos até melhorar a questão inicial: “Formação Aca dêmica é importante e necessária para quem? Em qual realidade? A quem realmente interessa dedicar-se tanto tempo e recursos? Para muitas pessoas, a universidade foi onde teve o primeiro contato com um computador, com o acesso a internet ou a um primeiro salário, assim como existem pessoas que não se encaixam com o formato da academia e preferem, então, estudar de forma autodidata e ingressar diretamente no mercado de trabalho.

Em síntese, o importante é entender sua própria realidade e tentar se basear em pessoas que fizeram, ou não, faculdade e que tenham uma vivência semelhante a sua para, então, decidir realizar um curso de graduação. Apesar disso, é válido ressaltar que conhecimento nunca é demais e pode ser que você goste bastante da experiência na academia.

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Apple Developer Academy – IFCE
Sanbox — Apple Developer Academy (IFCE)

​​Formando pessoas desenvolvedoras de nível mundial. Instituto Federal do Ceará.