WWDC: Caminho da ideia a ideação

Texto Sarah Madalena, Mateus Calisto, Moyses Azevedo

Sarah

Se eu dissesse que tive plena certeza do que estava fazendo ao longo do processo, tanto na pré escolha da ideia que eu iria sub — meter como durante o momento da idealiza — ção, estaria mentindo. Até hoje tenho escrito a ideia que tive e que coloquei no Notas do iPhone durante um momento de insônia: “Ideia WWDC: um jogo sobre afeto.

Tem uma flor e dois botões em formato de coração, mas um é partido. A meta é dar afeto suficiente para a flor viver feliz. Colocar uma introdução sobre afeto pra contextualizar comigo.”

Se eu puder resumir meu projeto em algumas palavras seriam: afetividade, tristeza, amor e identidade. Sou uma das milhares de pessoas que sofre com ansiedade e depressão, acabando sempre por externalizar meus sentimentos de forma prática e através de desenhos. Logo, a única certeza que tive foi a de querer mostrar algo que tivesse relação comigo, em que eu pudesse mostrar um pouco do que sou e como me sinto. Então se eu pudesse dar uma dica seria essa, fazer algo que converse com quem você é.

Para por em prática minha ideia, fiz uma espécie de mini versão do CBL, onde coloquei: minha ideia geral, alguns pontos principais que eu gostaria de ter no meu aplica tivo, como eu imaginava que ele seria e fiz vários questionamen tos (Guiding Questions e Guiding Activities). Formulei e reformulei como ficaria o aplicati vo, principalmente após mostrar para várias pessoas como ele estava, fazendo muitos questionamentos e coletando feedbacks de melhoria, bem como de coisas que davam ou não para serem feitas através do código no período de tempo que o aplicativo precisava ser entregue.

Por fim, tentei dar vida aos meus assets colocando tudo que estava sentindo na época do processo de desen volvimento do aplica tivo, onde, coincidentemente, estava tendo crises de ansiedade e refletindo bastante sobre a importância da afetividade na vida das pessoas, principalmente da minha. Outras duas coisas que fizeram total diferença no meu processo foi ter começado a rascunhar como imaginava que seriam os assets antes de sair as datas da submissão e não ter vergonha de pedir ajuda para descobrir como fazer coisas que eu precisava por no meu aplicativo, mas que não sabia fazer.

Mas, no fim de tudo isso, como se resumiria o que é o aplicativo? O Beautiful Scars é um jogo interativo de nar rativa que, através do Mandacaru, cacto símbolo do nordeste brasileiro, fala sobre como a afetividade interfere na vida das pessoas. Com o objetivo de mostrar como o amor, principalmente o amor próprio, pode modificar a vida, o jogo usa o Mandacaru (carinhosamente batizado de Mandá, como referencia ao meu segundo nome “Madalena”) como uma analogia para ilustrar a forma pela qual lidamos com os sentimentos. Você deve coletar os corações partidos e usá-los para ver as dificuldades pelas quais o Mandá passou em diferentes fases de sua vida, sabendo os efeitos negativos que a falta de afeto causa nas pessoas. Depois você deve coletar os corações cheios para ver o que o amor e o afeto causaram de bom na vida de Mandá, mostrando os benefícios da afetividade

Calisto

Formiga? Como trazer esse pequeno inseto para um desafio tão grande assim? Então, ao iniciar as inscrições, passei longos dias pensando: sobre o que vou fazer?

Isso me sobrecarregava muito, pois pensava que, se eu não escrevesse algo considerado vencedor, isso me frustraria. Os dias passavam e nada vinha relacionado a qualquer tema, o que me estressava. Mas tinha uma coisa que me ajudava a relaxar: andar com minha filha de quatro patas, a Malu. Malu é uma cachorrinha preta, grande, orelhuda, pernuda e talvez pareça um pãozinho. Ela chegou de repente quando me mudei com meu marido para uma nova casa, era filha dele e agora minha enteada. Cachorrinha curiosa, comportada, medrosa, mas que amava passear. Quando podia, eu a levava para passear num campo de areia bem grande, onde moro. Ela, muito serelepe, adora cheirar tudo, inclusive formigueiros, e não seria diferente ao avistar um grande formigueiro que ficava no escanteio da quadra. Um morro bem alto, cheio de formigas que carregavam folhas muito maiores que ela. O resto dessa história é conhecido: elas picaram a Maluzinha por estar cheirando e incomodando onde não devia.

Com isso, pensei: “Como seres tão pequenos podem incomodar seres tão maiores?”

Eu não tinha nada, e de repente, tudo. Graças ao passeio com a Maluzinha, pude notar um grande trabalho em grupo das formigas e consegui refletir no dia a formigas juntas dão passos minúsculos e singulares, porém carregam grandes folhas e animais dezenas de vezes maiores que elas, tudo graças ao trabalho em grupo; por isso chamam-se super organismos. E acho que minha jornada tornou- -se muito especial com esse ponto, pois toda a minha história tem se tornado extremamente reflexiva sobre a importância do trabalho em grupo e da razão de dar pequenos passos e se contentar com a conquista deles. O ser é individual, mas o que nos torna humanos é a capacidade de construir comunidades, além de desenvolver sentimentos e crescimentos sociais que são extremamente ricos e valorizam aspectos da vivência, da história. Desenhei, escrevi e montei todo um aplicativo para mostrar que somos como as formigas e que só conseguimos construir nossa colônia, carregar nossos pesos e realizar nossas atividades quando estamos em sintonia e parceria com os mesmos. Podemos fazer tudo sozinhos, mas quando temos boas companhias, sejam elas parentesco sanguíneo ou não, eliminamos a solidão e damos entrada ao progresso e a companhia.

Moyses

Meu app explica a teoria das variáveis aleatórias e sua relação com a função Gaussiana. Ele usa recursos visuais para ajudar os usuários a entender como essa distribuição funciona, incluindo um tabuleiro de Gauss interativo. Além disso, ele relaciona a curva Gaussiana com a falácia da meritocracia. Em um projeto é necessário. Muitas HardSkills só podem ser adquiridas através de muito estudo, mas para a ideação não necessita de grandes coisas. No meu caso eu só usei empatia, ódio e imersão.

Empatia

A empatia é parte fundamental e mais importante para um projeto, na minha opinião. Ela é responsável pelo significado e pelo ressignificado. O exemplo prático é como eu escrevi este artigo. Fiz várias perguntas:

Será que você vai ganhar a próxima WWDC?
Quem vai ler o meu artigo?
Quem eu quero realmente ajudar?
Uma pessoa como eu, só que no passado?
Será que eu realmente consigo escrever o que eu quero dizer?
Pessoas diferentes de mim, que eu quero mostrar o meu ponto de vista?
Como este artigo pode ser realmente útil?
Por que eu quero escrever este artigo?

Com base nas minhas perguntas, traço um perfil que desejo atingir. Pretendo, por exemplo, atingir uma pessoa minimamente curiosa para ler o primeiro parágrafo e com marra suficiente para se sentir desafiada pela primeira pergunta. Essa é a pessoa que eu acredito ter capacidade para ganhar a próxima wwdc. Tento, através das perguntas, realmente me conectar com um público específico, no caso, com você, que chegou até aqui. Imagino, por exemplo, que você ainda está empolgado por ter passado no processo seletivo do Academy e já deve ter ouvido falar do evento da WWDC, das premiações, da possibilidade de visitar a sede oficial da Apple, ganhar o tão sonhado box com o casaco e a carta dizendo parabéns, você foi um dos escolhidos.

Ódio

Normalmente ouvimos que o ódio é o contrário de amor, mas eu acredito que seja a apatia. Tudo que envolve o ódio normalmente possui uma paixão ou amor por trás. Então, quando não acho algo que me importe, busco algo que odeie. Com isso, tenho certeza de que vou me conectar com o ódio em comum de algum público. Você que está lendo recebeu alguma ligação de algum bot que falava alô e desligava?!

Por que existe um bot que liga aleatoriamente para a gente e diz alô e desliga?

Meu amigo, você sente algum ódio disso?! Amor, paixão e ódio unem muitos corações. Eu, por exemplo, trabalharia quase de graça só para resolver esse problema. Eu até pagaria para alguém resolvê-lo para mim. Eu usei exatamente isso para idealizar meu programa da WWDC. Eu estava em uma época de utilizar muito transporte público e ouvir algumas pessoas falando sobre meritocracia enquanto andavam com o CARRÃO dado pelos seus pais, me matava por dentro, então tentei expor isso através do meu app. Lá tentei demonstrar através de estatísticas como a meritocracia não faz sentido em países com desigualdade social. Eu basicamente desenhei isso de forma interativa.

Imersão

Quando nos expomos a um novo ambiente, nosso cérebro demora um tempo para criar novas conexões. E é engraçado que ele faz isso fisicamente através de algo chamado neuroplastisidade. Eu me aproprio muito dessa capacidade. No primeiro momento, eu mergulho em um tema sem medo de não aprender, até me sentir saturado dele. Eu passei, por exemplo, 4 dias lendo e assistindo sobre meritocracia e assuntos relacionados. Após isso, parei de pensar, e as ideias mais legais apareciam no meio do meu descanso. Não pense que você não é capaz de alguma coisa; acredite, para fazer qualquer coisa, você só precisa de tempo.

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Apple Developer Academy – IFCE
Sanbox — Apple Developer Academy (IFCE)

​​Formando pessoas desenvolvedoras de nível mundial. Instituto Federal do Ceará.