Para Genoveva
passam-se anos e o mate
ainda tem o gosto da boca dele
o amargo do cigarro na calçada
no meio do expediente noturno
rezando para que diminuam o volume
do reggaeton e ele
não tenha que sair mais uma vez
passam-se anos e o sono
se torna visita escassa, você
arruma os armários como se os esqueletos
ainda estivessem por descobrir
como se
o filme ainda estivesse passando na tv
quando
o relógio da parede bate as duas
você espera ver
o mesmo par de botas
na porta dos fundos
afagando os cachorros e sorrindo
com dentes manchados
passam-se anos e você
ainda acorda
com a mão no travesseiro ao lado
coloca a mesa
como se ele estivesse no outro cômodo
dizendo para as senhoras
o que elas querem ouvir
(sim, sim, sim, estou bem)