Para: Minhas versões mais jovens.
Nunca opte por manter balas alojadas. O tiro pode ser incontornável, mas a retirada é necessária e que me perdoe a medicina literal, porém não há quem me convença da existência do suposto conforto pois não há corpo que se adapte ao que além de externo, foi movido por fogo.
Escrevi com batom no espelho como você fazia para ver se te trazia de volta, mas o batom nas pontas dos dedos por algum motivo fez meu punho ceder, e agora um pequeno espelho repousa na gaveta caótica com o peso de palavras incertas, uma frase não finalizada: "não ser sempre sempre" O que? Você?
Muito de você ainda há aqui, mas modificações brutas mudam toda a essência de cada coisa viva. E hoje vivo numa contradição esquisita onde estou apesar de mais livre, ainda por algum ângulo, mais retraída.
Eu nunca quis me explicar, embora ninguém comece uma carta pela metade eu, que nunca soube dar start’s, me encontro...nisso.
Quero apenas te dar alguns avisos: Você nunca saberá como viver. Se achará constantemente aprendendo além de aterrorizada com o fato de que pode morrer sem saber. Sem saber o quê? Não sei, você não sabe. É um sentimento infinito. Mas não decreto isso, só pontuo. A parte de ser infinito, eu digo. Pois admito que é maior do que o planeta a possibilidade de que posso estar equivocada quanto conhecer a infinitude.
Amor incondicional só do seu Deus e dos animais que terá. Inclusive, você não pode esperar que homem algum te ame como seu Deus te ama, esse amor indefinível que você carrega dele só o desejo e a crença de que existe, esse amor além da morte. Não há pacto humano que prometa isso. Só divino. Não vou dizer "se contente com isso" pois é muito mais do que você poderia esperar.
Terrível será o dia em que perceber sua realidade – tudo aquilo que não desaparece apesar da tristeza ou da felicidade que é capaz de trazer; ela é inaceitável por ser imutável, se fosse capaz de ser mudada seria conteúdo para tornastes uma das nostálgicas.
As circunstâncias vão te fazer odiar o verbo “explodir” por soar tão mínimo. Mas os seus acho, acredito, penso, assumo, admito & etc, não salvam ninguém, porém se serve de consolo: ninguenzinhos sabendo seus respectivos nadinhas formam os prédios espelhados para matar passarinhos.
Por fim, o mais importante, a avelã no meio do doce: Não se esconder é o que realmente assusta aqueles que nos procuram.
De: Quem não pode escrever para versões mais velhas, pois espera pela escrita delas.
