The Vow
Percebi hoje que não me recordo mais como é o som da sua risada. Nem com muito esforço me lembro do semblante do seu pai. Se era às 16:30 ou às 17:30 que você ia pra academia.
Com o tempo algumas coisas vão, outras ficam. Você nunca bebe água enquanto janta. Tem mania de tamborilar os dedos quando tá pensando em algo. Vejo o rosto da sua mãe em todas as senhoras que cruzo no mercado.
São detalhes pequenos, esses, mas que por algum motivo minha mente escolheu guardar, todos eles em preferência ao som da sua risada. Acho que de alguma forma ela saberia que doeria mais, lembrar como era quando você estava 100% genuinamente feliz ao meu lado, antes do fim.
Me lembro como é você chorar. Me lembro da sua silhueta na sala escura no último dia que te vi enquanto ainda podia dizer que você era meu, apesar de nunca ter realmente sido. Lembro das mãos tentando sustentar o rosto, que eu mal via. Lembro de ver sua lágrima caindo no sofá, desaparecendo segundos depois, lembro de como senti parte de mim se esvaindo, buscando qualquer canto que não aquele pra estar.
Me lembro da primeira noite depois disso, de não conseguir dormir, de tentar ler, ver um filme, jogar um jogo, qualquer coisa que ocupasse minha mente. Da respiração curta, rápida, como se eu estivesse à deriva e fosse me afogar de novo a qualquer momento.
Mas também, por fim, lembro do primeiro dia que me senti feliz de novo, depois de tudo. Lembro de rir até quase fazer xixi na calça com meus amigos. De conseguir achar outras pessoas bonitas de novo, de querer conversar e sentir, aos poucos, cicatrizes se formando novamente. Me lembro de sentir que estava quase lá, quase bem. E ainda estou aqui, quase. Mas é bom olhar, ver o caminho que foi percorrido, ver que ainda existe vida do outro lado. E saber que a gente fez o que pode, da forma que pode. E o resto é história.