Eu? Programadora?

Paula Santana
Devs JavaGirl
Published in
5 min readMar 28, 2018

Todo mundo escolhe a profissão. Mas, como minha mãe sempre disse… eu não sou todo mundo! No meu caso, a minha profissão me escolheu. E me acolheu!

Recentemente, tive a oportunidade de olhar para o passado e comecei a entender muitas coisas. Spoiler: eu não cheguei nem perto de realizar meu sonho de menina, mas o meu projeto é ir muito além do que eu jamais imaginei ser possível.

Vamos voltar uns anos no tempo (não serei precisa para não entregar a idade :p)…

Quando eu era mais nova, a minha mãe trabalhava como manicure e, naquele momento, as minhas referências de sucesso eram as clientes dela: as bancárias! Naturalmente, meu sonho era trabalhar em um banco.

Eu já sabia que eu só conseguiria mudar de condição de vida e atingir esse objetivo se eu estudasse (e muito). Comecei a caçar curso grátis para fazer, até que encontrei a ETEC. Logo veio a primeira frustração: não tinha técnico em administração, o que era essencial para entrar na área que eu tanto sonhava. Beleza, vai esse de informática mesmo!

Eu não podia perder tempo e precisava acumular o máximo de conhecimento possível até os meus 17/18 anos, quando teria que trabalhar para ajudar nas contas de casa.

Sente o drama: entrei no curso sem saber ligar um PC! Na primeira semana, eu senti na pele o famoso gap técnico. Eu não tinha nenhum tipo de contato com computadores, aliás, eu só fui ter um PC para chamar de meu anos depois, quando me casei. Eu me sentia um peixe fora d’água, mas notei que mandava bem nas matérias de lógica e programação. Lá eu aprendi Delphi e era o máximo!

Bom… fim de curso e a gente quer o que? Emprego, né! Fui à caça e encarei meu primeiro desafio: me vi lecionando em uma franquia de escolas de informática. Atenção: eu tive só uma semana para aprender Visual Basic e ministrar aulas sobre o tema. E agora? Pra cima deles: naquele contexto, a experiência valia muito mais do que a grana.

Acabei trocando de emprego e fui para outra franquia. A sorte parecia mudar: passei no PROUNI (Ciências da Computação) e na FATEC. Só parecia mesmo, porque nenhuma das oportunidades rolou de fato: a FATEC era durante a tarde e eu precisava trabalhar… e a documentação para o PROUNI não deu certo. Deu um rolo de documentação que me impediu de comprovar a faixa econômica (se você já tentou usar esse benefício sabe como é difícil).

Fiquei sem a faculdade que eu queria, mas segui em frente: existem privilégios e, naquele momento, eu não os teria. Guarde essa informação.

Depois, consegui fazer um tecnólogo de Gestão Logística (com conteúdo similar ao de algumas grades de MBA em Gestão de Projetos). Atuei na área, mas sem grandes emoções. Segue o baile, vida no automático.

Minha vida começou a mudar quando entrei em uma software house. Minha função era “suporte ao cliente” e trabalhei nisso por dois anos! Acumulei um grande conhecimento sobre regra de negócio e até fiz um curso técnico — assim, eu teria mais base para explicar as coisas para os Clientes.

Em paralelo, passava meus dias olhando para a área de desenvolvimento com brilho nos olhos. A verdade é que eu achava aquilo tudo o máximo! Até que uma conversa de carona mudou tudo. Uma pessoa que já trabalhava naquele departamento me incentivou muito a mudar de área e fazer valer o brilho que eu tinha nos olhos. Foi o empurrãozinho que eu precisava.

Com o apoio de muitos colegas de trabalho, eu tive o que eu chamo de “A Grande Chance da Minha Vida”. Durante as minhas férias, fui convidada para um bate papo com o Gestor de Desenvolvimento… e tudo mudou de fato!

Comecei a estudar por conta própria. Chorei, corri atrás, me desesperei, fui ajudada por colegas e amparada diversas vezes. Em algum momento, me dei conta de algo muito sério: eu perdia mais tempo me culpando por não melhorar do que agindo de fato para melhorar.

Usei essa energia interna para a minha evolução. Depois de algum tempo minhas tarefas estavam mais fáceis para mim. Vitória? Sim. A primeira batalha estava vencida, mas eu via uma guerra intensa pela frente…

Sair da zona de conforto dá trabalho. Mas quando você se propõe, cara, coisas incríveis acontecem. Fiz uma certificação e estudei programação por conta própria.

Por uma mistura de vontade doida de subir a serra com uma pitada de ajuda do universo, comecei a fazer um monte de entrevistas de emprego. Perdi as contas de quantas dinâmicas, testes e bate-papos eu participei! Em cada etapa, eu aprendia mais sobre o mundo técnico e também sobre mim.

Em alguns meses, por exemplo, aprendi Rest, Spring, melhorei soft skills, comecei a me engajar no LinkedIn… até que eu consegui meu primeiro emprego em São Paulo! Não vou mentir: os primeiros meses foram super difíceis, eu me vi em uma realidade muito avançada. Senti que os meus conhecimentos estavam muito fora daquela realidade… imagine o Fred Flintstone no universo dos Jetsons!

Mais uma vez, me preparei para enfrentar a realidade. Enquanto a galera dormia no fretado, eu estudava ! Meu marido ia surfar e eu ficava estudando… rolou uma brecha? Eu estudava… não rolou a brecha? Eu criava! O meu foco era (e ainda é) melhorar tecnicamente.

Neste novo universo, uma porção de fichas foi caindo e eu fui percebendo a quantidade de gente maravilhosa ao meu redor! Sou a única mulher da minha equipe e não posso reclamar: fui muito bem recebida e todos sempre foram muito legais comigo! Formamos um time do qual eu me orgulho e com o qual eu cresço a cada dia.

Hoje, um pouco mais consciente da minha trajetória, sei que estou em evolução constante. Aliás, lembra dos privilégios que eu falei antes? Então, tem uma galera aí que só precisa de um empurrãozinho, que só quer uma ajuda para ter uma chance! Vai por mim, eu já fui essa pessoa!

Eu escrevo esse texto com um objetivo: ajudar as pessoas. Por isso, iniciei um movimento de comunidades de tecnologia na baixada (mas isso é conteúdo para outro dia).

Deu para ver que meu maior sonho não é mais ser bancária. Agora, o meu propósito profissional é dar a mão para quem está começando e, de certa forma, retribuir toda a ajuda que eu recebi e ainda recebo.

Tá na vibe de viver no mundo da Tecnologia? Quer trabalhar com desenvolvimento? Vem comigo, eu te ajudo!

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