A era do portfolio acabou?

Nano
DEx01
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3 min readMar 21, 2018

Mais ou menos, mas pode estar próximo.

Era uma vez, há alguns milhões de anos atrás, quando dinossauros reinavam em nossa terra e a alimentação era basicamente através da caça, os designers utilizavam uma ferramenta de divulgação do seu trabalho um pouco rudimentar, com poucos afrescos e mínimo talento, onde o profissional resumia em no máximo duas folhas, a sua experiência, ou a falta dela, que se chamava Curriculum Vitae.

Alguns, mais astuciosos, utilizavam uma pasta impressa, que pesava pouco mais de 5kg onde carregavam uma notória diversidade de trabalhos, que eloquentemente apresentavam para então adentrar no paraíso que era estar dentro de uma agência de publicidade.

Foi nessa época, que os criativos inflaram seus egos e os colocaram nas ruas, subindo nos capôs dos carros e gritando: AQUI É CANNES CARALH*

A Criação, super mimada, também acreditou que sua singularidade, sua mística venerada, justificava uma práxis e dogmas sagrados. Qualquer mudança ou questionamento podia ser julgado e condenado sumariamente. A Criação subiu ao Olimpo nos anos 80 e lá permaneceu, defendendo com unhas e dentes o direito divino da autoria. (Fernand Alphen)

As equipes de criação passaram a ditar regras, com olhar superior e pouca empatia com os demais. No mesmo embalo os designers seguiram nessa direção, achando que nada os atingiam do alto da montanha.

Empresas como a IDEO e Apple (ambas com suas particularidades), conseguiram mudar essa persona designer, para alguém que se importa com os usuários. Num sentido amplo, designers de agências pensavam diferentes de designers de produto.
Essa mudança de pensamento traz um reflexo muito grande nos dias de hoje,
onde vemos uma movimentação menos visual e mais comportamental na seleção de designers.

Bem, depois dessa pequena observação sobre o passado, finalmente falarei sobre os portifolios que de certa forma facilitaram o processo seletivo por um tempo, onde a avaliação primordial para contratação de um designer era a qualidade do trabalho e o tempo de experiência, não necessariamente nessa ordem, mas ainda esquecendo muitas vezes de conhecer e identificar os aspectos comportamentais dessas pessoas.

O portifa, para os íntimos, garantiu muito emprego, garantiu muito freella, mas será que garantiu um ambiente saudável dentro das agências??

Precisamos mudar, se conectar mais as pessoas, conhece-las e julgar menos. Esse post da Nathi diz muito sobre isso.

Os designers com pouca experiência tem uma grande preocupação que é ter um portifolio que possa apresentar na sua entrevista, ou até seleção prévia. Isso faz com que se perca inúmeros futuros profissionais talentosos sem identificar quem realmente são.

Esplendoroso Behance :)

Claro que apenas uma poética conversa inicial não resolve todos os problemas. Porém, entender o potencial e acreditar numa dinâmica diferente de seleção pode ser o caminho para escolher futuros profissionais talentosos.

Isso não é novidade, há 8 anos trabalhava numa agência que fazia um primoroso trabalho de seleção de estudantes, onde passavam por um série de etapas até um dia estarem prontos (de corpo e alma) para encarar um job de verdade. A maioria desses estudantes, hoje excelentes profissionais, sendo pessoas fáceis de trabalhar, com capacidade interpessoal e técnica superiores a quem passa por um processo simples de seleção.

O portifolio não é mais a cereja do bolo, não é mais o fator decisivo, acho até que nunca foi, mas por algum lapso de tempo determinou que a fila andasse. Deixe poucos trabalhos no seu portifa, porém os melhores, sinalize que parte do job você fez e deixe claro que tipo de trabalho você quer com eles. E se não tiver nada, não tem problema também, pode ter certeza que seus próximos empregos serão com base no famoso Q.I. (quem indica), saber se relacionar é a chave pra você evoluir :)

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Nano
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Work for 16 years with design. Today I am a partner at DEx01 where I lead the UI Team.