Coming Out Day: Fora do Armário

Henrique Barreto
Dafiti Group
Published in
5 min readOct 21, 2020

No dia 11 de outubro é comemorado internacionalmente o “The Coming Out Day”, data oficializada para celebrar a “saída do armário”, aquele momento em que uma pessoa se revela LGBTQIA+ para alguém. Criado em 1988 por Robert Eichberg e Jean O’Leary após uma marcha de mais de 500.000 pessoas em Washington DC pelos direitos LGBTQIA+, o The Coming Out Day exalta a coragem dessas pessoas no difícil momento de revelar sua sexualidade ou identidade de gênero para a sociedade. É um momento de reflexão sobre o quão difícil pode ser ter uma vida transparente sobre quem realmente somos, os desafios e o medo do preconceito.

Viver assumidamente LGBTQIA+ para a sociedade pode parecer algo bem menos difícil e doloroso em 2020 do que era há vinte anos atrás, graças a muita luta de ativistas que conseguiram colocar a causa LGBTQIA+ em pauta no cotidiano social, apesar de ainda vivermos com muita discriminação e altos índices de morte em decorrência da homofobia — seja assassinato ou suicídio — essa população encontra mais abertura para viver uma vida “fora do armário”, mas sempre precisamos lembrar que essa não é a realidade de todos, para uma boa parcela de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais o armário vai continuar fechado por muito tempo e o menor sinal de abertura de sua porta pode assombrar e causar muita angustia.

O ambiente corporativo é uma ampliação da vida de qualquer pessoa que está inserida no mercado de trabalho. Para a maioria dos LGBTQIA+, viver “fora do armário” nesse ambiente ainda causa dúvidas. Alguns dados nos ajudam a compreender os motivos:

Uma pesquisa realizada com 269 pessoas LGBTQIA+ revela que 1 em cada 4 delas já consideraram pedir demissão por não se sentirem acolhidas, 42% já sentiu pressão para mudar suas características e 61% optaram por esconder a sexualidade dos colegas de trabalho. Outra pesquisa com mil entrevistados aponta que apenas 13% dos LGBTQIA+ afirmam ter ocupado um cargo de diretoria, 15% já ocuparam cargos de coordenação e gestão, 54% representam cargos de entrada. Dados do IBGE e outras instituições, demonstram que 33% das empresas brasileiras afirmam NÃO contratar LGBTQIA+ para cargos de chefia. Menos de 10% da população trans possui acesso ao mercado de trabalho formal.

O tema ainda é tabu para o povo brasileiro. O Ibope realizou uma pesquisa nas cinco regiões do Brasil e o estudo apontou que 24% dos entrevistados se afastariam do melhor amigo se esse se assumisse homossexual.

Nesse contexto fica mais fácil compreender porque pessoas LGBTQIA+ sentem que sua carreira pode ser seriamente prejudicada ao se “assumirem” no trabalho, mesmo que legalmente as empresas sejam incentivas a estabelecer um ambiente mais seguro, com leis que penalizam a homofobia e extensão de benefícios trabalhistas à parceiros homoafetivos.

Estudos comprovam que funcionários LGBTQIA+ que trabalham em empresas acolhedoras à diversidade, que proporcionam um ambiente seguro para serem eles mesmos, tendem a ser mais engajados, apresentam mais resultados e permanecem muito mais tempo na organização. O Center for Work-Life Policy, instituição estadunidense que estuda a diversidade no mercado de trabalho, afirma que sair do armário pode ser mais benéfico para o funcionário do que se esconder, pois a omissão cria diversos conflitos emocionais e prejudica o desempenho profissional.

Garantir um local seguro para todos os funcionários — ergonomicamente, moralmente e psicologicamente falando — é uma boa prática que deve se tornar política de toda e qualquer empresa nos dias de hoje. Apoiar e promover os Direitos Humanos é um posicionamento indispensável para a sobrevivência de qualquer negócio ainda na primeira metade do século XXI. Não somente os funcionários ganham cada vez mais o poder de escolher em que organizações querem trabalhar, como os consumidores estão cada vez mais conscientes em adquirir produtos e serviços de empresas que apoiam causas sociais e promovem a diversidade.

Dentro do armário

Não são apenas os irmãos Pevensie que não querem sair de dentro de um armário — alerta para trocadilho com “As Crônicas de Nárnia” — tem muito LGBTQIA+ que, por diversos motivos, não se sente preparado ou seguro revelar sua sexualidade. E está tudo bem!

Um paradoxo desse artigo é que lá em cima eu falei de uma camada da população brasileira que não aceitaria de forma alguma que um amigo se revelasse homossexual, agora eu apresento uma outra camada que adora tirar LGBTQIA+ do armário a força e faço um alerta: isso não é legal!

Na última década pudemos observar diversos famosos saindo do armário e da mesma forma que aumentou o número de celebridades que se sentem à vontade para revelarem sua sexualidade para o mundo, também aumentou o número de pessoas que tentam expor à força a intimidade dos outros, seja por 5 minutos de fama ou porque não conseguem aceitar que o momento do outro ainda não chegou. No ambiente de trabalho também podem ocorrer situações semelhantes.

Ao desconfiar que um colega de trabalho é LGBTQIA+, jamais se deve forçar essa pessoa a sair do armário, nem com perguntas diretas ou indiretas e nem criando situações constrangedoras. Se o desejo é demonstrar para a pessoa que ali é um ambiente que ela pode se sentir segura para revelar suas verdadeiras cores, o caminho é criar um ambiente totalmente seguro para ela, longe de piadas homofóbicas e sexistas. Se o desejo é apenas saciar uma curiosidade, alerto que é desrespeitoso e antiético.

Cada pessoa está vivenciando uma experiência única, possui sua história própria, conflitos internos e problemas particulares. Não é possível levantar questionamento das razões pela qual um LGBTQIA+ continua vivendo dentro do armário, ainda que, teoricamente, o ambiente seja acolhedor para ele. São muitas as esferas e situações que rondam um ser social, dentro desses contextos, cada pessoa possui o seu tempo, seu ritmo e tem o direito de desfrutar seu momento de vida da maneira que melhor se sentir confortável. Não se trata exclusivamente de coragem, as variáveis aqui envolvidas são muitas e uma delas pode ser a autoaceitação, nesse caso, o processo é muito mais complexo e a ajuda as vezes precisa vir de um profissional.

Tirar o Orgulho do armário sempre será uma decisão e opção individual e no Dafiti Group, nós trabalhamos juntos pelo bem comum para que todos os funcionários se sintam livres para expressar todas as suas cores.

#VamosJuntes

Links recomendados:

#VOTELGBT. Diagnóstico LGBT+ na pandemia. São Paulo, 2020. Disponível em: <https://www.votelgbt.org/pesquisas>

Corporate Equality Index 2017: Rating Workplaces on Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender Equality. Human Rights Campaign Foundation. Washington DC, 2018. Disponível em: <http://assets2.hrc.org/files/assets/resources/CEI-2017-Final.pdf>

The State of Fashion 2020. McKinsey & Company. Disponível em: <https://www.mckinsey.com/~/media/mckinsey/industries/retail/our insights/the state of fashion 2020 navigating uncertainty/the-state-of-fashion-2020-final.ashx>

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