Impacto do racismo nas relações familiares — e o DFT Black abrindo portas e ouvidos

Aline Silveira
Dafiti Group
Published in
3 min readNov 25, 2020

Tratar de um tema racial dentro do âmbito familiar é muito delicado e muitas vezes doloroso.

Desde pequenos, inconsciente, já sabemos que no Brasil a cor da pele adquire conotações e privilégios distintos. Quanto mais traços negros você tem, ou seja, quanto mais escura for a sua pele, mais exposto ao racismo você esta.

Os sentimentos se confundem, quando em meio aos laços familiares precisamos separar questões relacionadas ao racismo, uma vez que a mesma boca que chama o cabelo crespo de “bombril” é a mesma que te diz “Deus te abençoe” antes de dormir. Se você não for o agente de diálogo com ‘aquela tia’ que faz comentários racistas, quem será? Use sua voz, reivindique seu espaço, eduque, e se necessário chame atenção.

Pensando nestas palavras decidi trazer um relato pessoal. Sou casada com um homem de família inteiramente branca. Por muito tempo não entendia o por quê existia a rejeição por ser negra, por ser de uma família inteiramente de negros (aah que orgulho disso).

Ao me relacionar com um homem branco, notei a decepção de sua família por ele se relacionar com uma mulher negra. Em resultado disso deixamos de receber convites em que a família inteiramente branca se reunia. Para mim, no que diz respeito a relacionamentos, sempre achei que bastaria amor, respeito, compreensão etc, mas percebi que a cor da pele teria uma importância maior. Esse relacionamento iniciou em 2009 e mesmo depois de 11 anos a pessoa que escolhi para ser meu companheiro da vida, luta ao meu lado por um sociedade que aceite a singularidade de cada um.

Compreendo que essas mesmas pessoas, foram educadas em uma sociedade extremamente racista e preconceituosa que a maioria. Entendo que ninguém nasce desconstruído, é um processo, um longo processo. E um dos objetos do Dft Black é exatamente esse “desconstruir”.

Por muitos tempo ouvimos a expressão “dar voz” ao se referir ao povo negro. Pessoas negras tem voz e estão falando há muito tempo. Nós não precisamos que nos dêem voz, e sim que nos dêem ouvidos. O DFTBlack têm sido um desses caminhos aqui dentro — e fora — do Dafiti Group.

Nós somos um grupo de apoio, uma rede representada por diversas histórias, vivências e experiências no tema. Confiamos e apoiamos uns aos outros e o DFT Black tem proporcionado esse acolhimento. Mas também ganhamos alcance: apresentamos nosso propósito para todos os funcionários, incluindo a alta liderança. Tivemos uma campanha de marketing (Verão em Mim, deste ano, da Dafiti) com modelos e talentos negros na frente e atrás das cameras. E tem muito mais vindo por aí.

Meu sentimento é de acolhimento, representatividade e segurança. Tenho a sensação de que estamos no caminho certo, a estrada é longa com vários desafios, mas me enche de amor saber que já começamos essa caminhada por aqui — e vamos longe: vamos revolucionar o ecossistema da moda com inteligência também lutando pela causa racial!

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