Mês do Orgulho LGBTQIA+: minha vivência enquanto Geração Z

Lucas Andrade Alves
Dafiti Group
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4 min readJun 23, 2021

Sou o Lucas, e em breve farei parte da área que olha para Diversidade, Inclusão, Pertencimento e Impacto Social aqui no Dafiti Group. Em junho comemoramos o mês do Orgulho LGBTQIA + e decidi escrever sobre a minha vivência dentro dessa comunidade sob a ótica da Geração Z.

Para nós, nativos da Geração Z, fomos criados na era do digital, em que tudo é conectado e móvel. Nunca chegamos a ver o mundo sem a internet, sendo o primeiro agrupamento de indivíduos que nasceu após essa tecnologia. Isso foi um dos pontos cruciais na minha história, além do fato de eu ter um irmão gêmeo com a mesma orientação sexual que eu. Somos homossexuais.

Dessa forma, fica impossível contar a minha história, sem contar a dele. Crescemos discutindo as muitas questões sobre sexualidade, identidade e expressão de gênero abertamente, e sem algum tabu. Essa conexão entre a gente fortalecia nosso entendimento de que não havia nada de errado comigo, e nem com ele. Pois eu não conseguia vê-lo como errado por ser como é, já que isso também fazia parte de mim.

Com uns 12 anos, e com a chegada de um outro computador em casa, começamos a jogar games de comunidades virtuais. Essa fase expandiu nossos relacionamentos, pois outros adolescentes de todas as regiões do Brasil também estavam nesse espaço. Posso dizer que já tive diversos relacionamentos virtuais nessas comunidades, e é algo que nem amigos da minha idade vivenciaram.

A diferença de idade não era uma barreira para que as relações acontecessem, e muitos de nós já se identificavam como homossexuais, lésbicas ou pessoas trans. A naturalidade na forma em que isso era discutido entre essas pessoas foi muito poderosa. Representatividade importa em todos os espaços.

Consequentemente, fomos nos aproximando mais dessas pessoas e nos compreendendo — no começo — como bissexuais. Pouco tempo depois, eu dei o meu primeiro beijo em um menino, e as ferramentas de paquera tiveram tudo a ver com isso.

Nem tudo são flores. Nossa família teve dificuldade em entender e respeitar no começo. A expectativa de ter dois meninos heterossexuais era enorme e fomos constantemente colocados em diversas modalidades de esportes na tentativa de nos encaixar no que é entendido “masculino” pela sociedade.

Mas essa binariedade não é a nossa praia.

Aos 19 anos, observei a perspectiva do meu irmão sobre o poder da moda para a autoestima. E, se houvesse alguma peça da “sessão feminina” que ele gostasse, ele levava. Fácil assim. Isso me abriu portas para dar voz à leitura do meu corpo à minha maneira, sem que a “sessão feminina” fosse algo a ser temido — pois foi nela que eu me encontrei.

Minha preocupação maior é com o formato da peça, como ela vai cair em mim, com o olhar naquilo que eu quero realçar — independente de serem minhas pernas com um shorts curtíssimo ou a minha barriga em um cropped ou baby tee justa.

Infelizmente, ainda existe aquela diferença nos olhares das pessoas que me veem com essas peças nas ruas. Entendo que o incômodo vai continuar existindo. Mas enquanto existirmos e resistirmos, haverá luta.

Durante meu processo seletivo na empresa, não ter uma regra de vestimenta que fosse a “mais adequada” como um dos componentes da cultura organizacional me chamou a atenção. Era algo que, antes, eu me perguntava se era possível, em um contexto corporativo, ser eu mesmo e ainda ser valorizado por isso. Afinal, a heteronormatividade acomete a maioria das empresas, assim como em sociedade. No Dafiti Group, não sinto que essa “norma” ou “padrão” seja reforçada. Sou incentivado a ser eu mesmo, expressar o que acredito e em ser protagonista da minha trajetória profissional.

O mês do Orgulho LGBTQIA+ é importante, entre tantas outras coisas, para que vivências como a minha, e de muitas outras pessoas da comunidade LGBTQIA+, possam ser respeitadas na sociedade. Existimos e resistimos há muitos séculos, e nesse mundo digitalizado e tecnológico em que vivemos, é dever de cada cidadão se tornar um aliado à causa — independentemente se você é ou não uma pessoa LGBTQIA+. É sobre a liberdade dos corpos de todes.

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