#Entrevista: Propaganda

adailton moura
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4 min readAug 9, 2017

O MC fala sobre o álbum “Crooked”, racismo, igreja e RAP cristão

Jason Emmanuel Petty é um dos MC’s cristãos mais engajados nos movimentos sociais. Conhecido por Propaganda, ele possui cinco discos no currículo. O sexto, “Crooked”, vai estrear em 30 de junho. Propaganda sabe muito bem qual é a sua responsabilidade. “[…] as escrituras nos ensinam que para o cristão, todo o trabalho é sagrado. Não importa se é pela a igreja ou para a igreja. Todos os cristãos estão em missão”, diz. Prop também acredita que tem o compromisso de levantar a bandeira na defesa dos direitos civis de afro-americanos. E os temas abordados em “Crooked” evidenciam seus propósitos.

Qual é o objetivo principal do álbum Crooked?

Estou tentando articular uma visão de mundo que entenda que somos pessoas tortuosas, e que nos faça reconhecer que estamos criando relacionamentos superficiais e vivendo em um sistema danificado, esperando o dia em que o torto será endireitado ou o quebrado reconstituído. Quando entendemos que essa falha existe em todos nós, talvez possamos ser um pouco mais generosos.

Ele possui uma dose de ativismo político e social?

Absolutamente, mas isso não é diferente de qualquer outro álbum que já fiz, ou temas centrais que estão nas Escrituras.

Em “Darkie” (com a participação de Micah Bournes e Jackie Hill-Perry), você aborda problemas relacionados à discriminação racial. O trabalho também terá um foco de conscientização? (No Brasil, esse problema também ocorre com freqüência). E qual é a importância da igreja na luta contra este preconceito (ou preconceitos) que ainda vigora na sociedade?

Sim, a definição de pele clara/pele escura que eu encontrei é geralmente universal. Mas a melhor imagem tem a ver com definições inacreditáveis ​​e irrealistas de beleza. Eu sei que na América do Sul e América do Norte nós estamos sujeitos a definições européias de beleza. Pele clara, alta, delgada, olhos claros. A verdade é que as pessoas de pele preta não são assim. Mas a imagem real é mais sobre apreciar a maneira que o Pai fez você e eu para podermos ir a qualquer lugar, tendo a pele clara ou escura.

Eu acredito que a igreja desempenha um papel tão lindo quanto os Salmos 139. Ele nos ensina que fomos feitos de uma forma maravilhosa e antes que estivéssemos no útero, Deus nos conheceu.

Existe uma falta de envolvimento da comunidade cristã?

Eu diria que em certas partes da comunidade cristã. Mas existem outras tradições dentro da fé cristã que têm buscado ativamente questões de justiça e reconciliação racial.

Você também trata desses temas no podcast The Red Couch, feito com a sua esposa.

Fomos convidados pela revista Relevant e tivemos a oportunidade de fazer basicamente um podcast sobre o que queríamos! E realmente o conteúdo é honestamente sobre o que eu e a minha esposa falamos no dia a dia quando não há microfones.

Por algum tempo, o rap cristão tratou esse tema como mais ênfase — Sho Baraka foi um dos pioneiros a explicitar o problema racial em suas músicas. Na sua visão, esse é o caminho?

Eu vejo que muitos rappers cristãos estão mudando o discurso, ou o tema de suas músicas para chegar a uma audiência maior, fora do circuito cristão.

É um novo direcionamento?

Não consigo falar pelo rap cristão como um todo. Mas eu sei que, semelhante ao Sho Baraka, a raça tem sido um tema recorrente da nossa música desde sempre. Sho e eu fomos criados em uma casa em que nossos pais estavam envolvidos no movimento dos Direitos Civis. Como eu disse muitas vezes, meu pai era um Pantera Negra. Para mim, seja o poema “Precious Puritans” em Excellent, ou “3 Cord Bond” em Crimson Cord , acho que apenas o tom do clima cultural americano agora obrigou artistas cristãos, especificamente homens e mulheres negros, a falarem do problema com mais ênfase. É inevitável.

Essa abertura também seria uma maneira de sobreviver financeiramente?

Novamente, não consigo falar do bolso de outra pessoa. Mas, eu tenho falado isso desde o início da minha carreira, então não me afeta de verdade, como se fosse um artista Reach, por exemplo.

É possível ser um rapper cristão que não faz rap cristão (como Chance The Rapper disse)?

Claro, penso que é importante lembrar que estes termos (rap cristão e rapper cristão) são termos da indústria/mercado em vez de conteúdo. Por exemplo, todo cheff que é cristão é um cheff cristão. Mas o que exatamente é comida cristã ?! Digo isso, porque as Escrituras nos ensinam que para o cristão, todo o trabalho é sagrado. Não importa se é pela igreja ou para a igreja. Todos os cristãos estão em missão. O que Chance disse e fez, nos obrigou a responder uma pergunta maior, que é: o que é música cristã? E o que faz um artista cristão? Seu coração? Intenção? Conteúdo? No final do dia, ainda não conseguimos responder a isso. Todos os outros gêneros são definidos pelo seu som.

_publicado em 20/06/17 no Gospel Beat

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jornalista. autor do livro "A Indústria da Música Gospel". escreve no @ RAPresentando, TVOVR CREATIVE, Sounds and Colours, Gospel Beat e update or die.

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