Perto de completar 40 anos de carreira, Roberto Diogo compartilha histórias, conquistas e sonhos

Jornalista revela detalhes de sua trajetória no rádio esportivo de Campinas

adailton moura
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7 min readNov 9, 2014

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Foto: Isabella Soriano

Está abafado. O sol das duas da tarde brilha forte, seguindo sua jornada tradicional sem se preocupar com os ajustes dos relógios por causa do horário de verão. Apesar de estarmos na metade da primavera, o calor castiga quem ousa enfrentá-lo. Por ser sábado, o movimento nas ruas de Campinas não é tão intenso como em dias normais. A poucos metros do estádio Brinco de Ouro da Princesa (domínios do Guarani Futebol Clube), o jornalista Roberto Martins Ponzo, ou simplesmente Roberto Diogo, abre as portas de sua residência e nos encaminha a uma fresca e aconchegante edícula onde, antes mesmo de se assentar diante de uma grande mesa trabalhada em madeira, inicia a conversa compartilhando alguns de seus sonhos, sendo o principal deles, visitar a terra natal de seus avós no Sul da Espanha.

“Espero um dia ir à Almeria. Foi lá que meu avô Fernando e minha avó Ana viveram. Ai, eu sinto essa necessidade, sou muito ligado nessas coisas de ancestrais”, diz entusiasmado.

Nascido no bairro espanholado do Braz, em São Paulo, filho único do ex-jogador de futebol Diogo Ponzo Perez e de Lourdes Martins Ponzo, em 1960, então com sete anos de idade, Roberto Diogo chegou a Campinas, depois de seu pai ser transferido do Corinthians para o Guarani. Como o sonho de seguir a carreira do pai foi interrompido por uma dupla contusão, uma semana antes de assinar um contrato profissional com o Guarani, ele ingressou no curso superior de Relações Públicas da PUC-Campinas e, após concluí-lo, iniciou a graduação em Jornalismo. Sobre o triste fim da carreira nos gramados, ele afirma sem lamentar, que não deu certo porque não era pra ser. “Tem que aprender com a vida. Se não é pra ser não pode forçar, e não era.”

Durante a universidade, Diogo teve a oportunidade de estagiar no extinto jornal Diário do Povo e ser instruído por grandes nomes do jornalismo campineiro, como Romeu Santini, Zaiman de Brito Franco, Pereira Esmeris, Sérgio Jorge e Brasil de Oliveira. No periódico, seu maior aprendizado foi trabalhando ao lado de Wandeley Doná na editoria policial, setor que na década de 70–80 era o mais indicado para os novatos aprenderem. Em 1974, ele entrou para o quadro de funcionários da IBM, empresa que o acolheu durante 20 anos, e incentivado por Roberto Leite e Pereira Neto, foi em busca de uma oportunidade no rádio, porém não obteve sucesso por falta de experiência na área. “Fui bater cara nas rádios, puro engano”, recorda rindo da situação. “Até tomei dura (sic) de Elizeu Gouveia, um dos responsáveis da Educadora (hoje Bandeirantes). Por falta de bagagem profissional, não passei em nenhum dos testes que fiz.” Neste mesmo período, através de Alair Bellini, o jornalista finalmente estreou nas ondas sonoras apresentando aos sábados um programa musical na rádio Alvorada de Mogi Mirim. Cerca de um ano depois, foi convidado por Renato Silva e Sérgio José Salvucci para fazer parte da equipe esportiva da Brasil AM, logo em seguida, o inexperiente repórter caiu nas graças da crônica esportiva do interior e foi fisgado pelo anzol da Educadora AM.

“Comecei a fazer futebol amador e me sai bem no primeiro campeonato que transmiti. Aí, a Educadora quis me tirar da Brasil. O diretor de jornalismo Walter Abrucez, me chamou pra trabalhar lá no final de 1975, inicio de 1976. No primeiro momento pensei em recusar porque tinha acabado de entrar na Brasil, mas no final das contas acabei aceitando”, comenta.

Na nova casa, Roberto Diogo estreou em 1977, no mesmo jogo em que Dadá Maravilha vestiu a camisa da Ponte Preta pela primeira vez. Com o título do Campeonato Brasileiro conquistado pelo Guarani no ano seguinte, o repórter ‘que comanda o jogo’ (jargão criado por Pereira Neto) teve a oportunidade de cobrir partidas do time na Copa Libertadores da América. Para ele, uma das partidas mais emblemáticas que fez fora do Brasil, foi na cidade de Santiago no Chile, país que estava em plena ditadura de Augusto Pinochet — na ocasião toda a imprensa esportiva internacional foi obrigada a ir ao Palácio de La Moneda para fazer entrevista com Don Infante, braço direito do ditador, pois o governo queria saber a opinião dos jornalistas sobre o Chile. “Lá não tinha liberdade de expressão e eles mataram muita gente. Depois fui saber que onde o jogo foi realizado, o belo Estádio Nacional, serviu de cemitério… foram mais de 100, 200… a energia nesse estádio era pesada”, fala com pesares.

Foto: Isabella Soriano

Em meio a muitas histórias guardadas na memória, o jornalista volta aos sonhos — dessa vez os já realizados — e com emoção recorda a entrevista que fez com Pelé. O ano era 1990. Para dar o pontapé inicial do amistoso entre Brasil e Bulgária (partida realizada em Campinas e vencida pela seleção brasileira por 2 a 1), o rei compareceu ao Brinco de Ouro da Princesa e Diogo realizou o sonho que parecia impossível. “Pra mim foi o troféu”, comemora. “Meu pai jogou contra ele durante 10 anos, mas na rádio não tinha como eu participar da transmissão de um jogo dele. Quando comecei, ele já tinha parado. Então eu tinha esse sonho”. O encontro com Pelé ocorreu de maneira imprevisível. Naquele dia estava programado para o ex-jogador chegar ao estádio de helicóptero, mas por problemas técnicos, teve de recorrer ao carro.

“Eu estava próximo ao estacionamento e pra minha surpresa um carrão estacionou. Fiquei uns 50 metros só observando, quando o vi comecei a tremer… ai quando ele começou a vir em minha direção fiquei nervoso, não sabia o que perguntar”, diz com os olhos brilhando. “Quando ele se aproximou e parou na minha frente, perguntei: ‘Pelé! Campinas? Recordações? Guarani? Ponte? Aí, ele abriu um largo sorriso e falou: ‘Já sei aonde você quer chegar! Jogamos aqui uma noite, e o Santos campeão do mundo foi goleado pelo Guarani por 5 a 1… Mas não se esqueça, que no segundo turno devolvemos 7 a 0’.”

Diogo ressalta que ficou impressionado com tamanha humildade demonstrada por Pelé, pois mesmo depois de renomados repórteres, entre eles Faustão, Henrique Guilherme, Vanderley nogueira e Flávio Prado, chegarem onde os dois estavam, o camisa 10 do Santos – e da seleção – respondeu somente as perguntas dele, pra no final atender os outros. “Não sei se é humildade ou ética, mas esta postura me chamou atenção. Ele poderia ter respondido pros outros porque não me conhecia e nunca tinha me visto. Lembro também que tinha uma aura em volta dele… tinha um negócio assim, impressionante”, discorre, citando também a conversa que teve com seu ídolo Zico e a participação que fez em uma transmissão do “pai da matéria”, Osmar Santos: “Entre muitos outros, eu tinha o sonho de trabalhar com o Osmar. Estava na rádio Cultura (CBN Campinas), e fui escalado pelo Valdenê Amorim para fazer Ponte e Santos no Moisés Lucarelli. Neste dia o Corinthians estava jogando no Pacaembu, e eu fui informado que faria ponta na transmissão do Osmar”, diz extasiado.

“Quando eu entrei, passei o resultado do placar e falei que a Ponte estava esmerilhando, o Osmar gostou e me fez um elogio… Eu nem dormi a noite de tanta emoção.” Mesmo trabalhando paralelamente em grandes empresas internacionais e transmissões esportivas no rádio, ao longo dos seus quase 40 anos de carreira, o jornalista não se acomodou e continuou subindo a rampa. Aceitou um novo desafio e em 2004 assumiu a diretoria da assessoria de imprensa do Guarani, cargo que considera ter sido o mais desgastante de sua carreira, porém afirma que mesmo tendo perdido muitas noites de sono não se arrepende da experiência. “Foi bom de um lado, mas… nada é cem por cento”, afirma. “Uma frase que ficou marcada, diz assim: ‘Na vida, quando se ganha se perde, quando se perde se ganha. Isso é aprendizado’.”

Hoje ancorando o esporte da CBN Campinas, Diogo confidencia que sua volta à emissora se deu por conta do foco em pensamentos positivos, pois há muito tempo desejava trabalhar ao lado do comentarista João Carlos de Freitas, seu parceiro nos tempos de faculdade: “Agora estamos juntos na CBN. Outro dia estava lembrando que esse meu sonho já tinha virado realidade”, celebra e aproveita o “gancho” para deixar sua receita pra quem pretende ser bem sucedido no trabalho e na vida: “Acredite sempre nos seus sonhos. Tenha um foco e não se acomode. Vá atrás, mas sem forçar a situação, deixe fluir”.

Sobre o futuro, Roberto Diogo tem a esperança de apreciar em Campinas uma rádio com o modelo da Grenal de Porto Alegre – que tem toda sua programação dedicada somente ao Grêmio e Internacional -, porém, pela atual fase dos times da cidade, ele não acredita que isso ocorrerá tão cedo. “Eu espero um negócio deste no futuro, com Ponte e Guarani sendo destaque, igual eles fazem lá… Mas não tem como dizer em quanto tempo isso pode acontecer.”

Com a colaboração de Mayara Nascimento e Isabella Soriano

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adailton moura
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jornalista. autor do livro “A Indústria da Música Gospel”. txts no @ RAPresentando, Sounds and Colours, TAB UOL, AUR, Rapzilla, Per Raps, Bantumen, Gospel Beat.