A relação entre moda e arte ao longo da história
Hoje é possível afirmar que moda já conseguiu seu espaço no universo da arte, mas nem sempre foi assim. Bastante controversa, a relação entre moda e arte nem sempre foi tão amigável. Esta pesquisa investiga qual o lugar da roupa e procura entender qual é o momento em que ela passa do guarda roupa para os museus.
O surgimento da Alta Costura
Muito antes do que se possa imaginar, a moda já aspirava a ser reconhecida como uma arte em pleno direito à partir de 1860, quando o primeiro costureiro decidiu que desenharia as roupas de alguém. Antes disso, a figura do costureiro era vista de maneira subordinada aos desejos das suas clientes. Por este fato, Charles Frederick Worth é considerado o pai da alta costura. Foi o primeiro a escolher os tecidos, desenvolver os modelos, produzir a roupa e a assinar sua criação — inserindo nelas a etiqueta. Intencionalmente ele se vestia de maneira artística, colecionava obras de arte e antiguidades e contratou fotógrafos renomados para retratar suas criações. Paul Poiret, que o sucedeu, declarou: “Sou um artista, não um costureiro”, e como continuidade ao trabalho de seu antecessor, começou a dar nomes à suas criações, o que acrescentou uma dimensão simbólica à roupa. Se hoje a moda ocupa este espaço, os estilistas atuais devem agradecer à estes dois precursores.
Quando os artistas se unem aos estilistas
Há duas maneiras de entender o lugar que a moda tem na arte. A primeira vem do fato de que muitos estilistas fizeram eram amigos de artistas plásticos e começaram a trabalhar em parceria. Yves Saint Laurent fez história fez uma coleção inspirada em Mondrian em 1965, e continuou a fazer vestidos relacionados a pinturas, entre outros, de Andy Warhol e Roy Lichtenstein.
Coco Chanel passava muito tempo cultivando contatos com artistas famoso e apoiava apresentações de dança. Era amiga de Picasso e Stravinsky. Elsa Schiaparelli se voltou para o surrealismo e colaborou com Salvador Dalí para incorporar a moda ao movimento surrealista.
Exemplos mais recentes são os de Emanuel Ungaro que criou na década de 1990 sua releitura das flores em cores saturadas de Andy Warhol, John Galliano com sua coleção inteira baseada em seus pintores favoritos, em 2007, como Monet e Rothko. E, mais recentemente, em 2009 a coleção de Alexander McQueen, que apresentou vestidos com estampas inspiradas nas ilusões de M.C. Echer, desenhista holandês.
A moda como a própria Arte
Outra forma de enxergar a moda como arte é o fato de que muitos estilistas põem sua criação no mesmo patamar que as obras de arte. Muitos movimentos na moda foram importantes reafirmar o lugar de muitas criações de moda. Um dos exemplos mais importantes deste anseio foi a entrada de estilistas orientais na moda europeia, ajudando a redefinir o design ocidental com suas criações extremamente conceituais nos anos 1980. Nessa época, muitas roupas foram apresentadas nos desfiles com costuras do lado de fora, modelagem abstrata e bainhas assimétricas. Essa desconstrução, segundo o filósofo Lars Svendsen, pode ser comparada à tendência na arte moderna de acentuar a materialidade da obra, por exemplo, deixando os traços a lápis claramente visíveis na pintura.
É só analisar os desfiles de Hussein Chalayan, que afirmou que muitas de suas criações ficariam melhores numa parede de museu que num corpo humano. Em 2001, Martin Margiela fez uma coleção em tamanho 74, que só vestiriam em gigantes. Ele fez dessa coleção um protesto contra a padronização do corpo na indústria da moda. Para a coleção primavera verão de 1995 da Comme des Garçons, que foi realizado no 50° aniversário da libertação de Auschwitz, e as modelos de cabeça raspadas entraram na passarela com pijamas listrados, que se assemelhavam a uniforme de presidiários. O que se assemelha muito em algumas obras de arte quando o artista chama a atenção para alguma causa social, por exemplo.
Esse afastamento do glamour em direção a efeitos de choque foi a repetição de uma tendência antiga na arte moderna.
Há muitos fatos pontuais e importantes que fizeram com que a moda hoje seja vista como verdadeiras obras de artes. Estão aí, para provar, várias coleções de estilistas importantes apresentadas em museus, desde que o Metropolitan Museum of Art dedicou uma exposição à Yves Saint Laurent em 1983, que desencadeou outras sucessivas exposições como Versace, e a exposição que mais obteve sucesso no museu Guggenheim, em Nova York, foi a do Armani, que posteriormente foi levada para Berlim, Londres, Roma e Las Vegas. Um exemplo mais atual que temos é de Rei Kawakubo, homenageada em 2017. Outras grifes como a Prada e Cartier foram além e fundaram os seus próprios museus.