O fim do movimento hipster e o ciclo das tribos urbanas
Publicado em: Moda Para Homens | Ano: 2014
Em 2010 o pesquisador da New School University lançou um livro intitulado “What Was The Hipster?: A Sociological Investigation” sentenciando o fim dessa tribo que só despontava no Brasil. Quinze anos depois, o The Guardian anunciou o fim do movimento. A American Apparel (principal porta-voz do estilo) está em crise há algum tempo, mas continua em atividade. Na moda, uma nova estética tomou conta das ruas e das passarelas: o normcore que, pouco a pouco, substituiu as camisetas com estampas ousadas, os óculos de armação retrô e os sapatos de brechó por moletons, jeans de recorte reto e tênis esportivo. Dezoito anos depois, investigo: afinal, o hipster morreu ou coexiste com outras subculturas?
O que são? Onde vivem? O que comem?
A cultura hipster viveu seu apogeu nos anos 00, mas tem origem num movimento que começou décadas antes. Nos anos 1940, já se ouvia essa palavra. “Hip” era o apelido dado aos jovens da pós era do Jazz que gostavam de seguir tendências e se vestiam de maneira peculiar. O sufixo “ster” foi acrescentado ao termo e, assim, surgiu o hipster. Quem quiser saber mais, vale pesquisar por Thelonious Monk & Dizzy Gillespie, dois nomes importantes do Jazz e para o contexto da época. Essa galera, por sua vez, já vivia a influência da geração beat, emergida do pós Segunda-Guerra. Talvez eles tenham sido os verdadeiros alternativos que a história já conheceu.
O termo ressurge de forma pejorativa mesmo no início dos anos 2000 para dar nome a um grupo de jovens que, devido ao contato prematuro com a internet, sabiam das tendências antes de todo mundo. Ficaram conhecidos pelo modo de se vestir, gosto pelo passado e ânsia por novidades. Tinham um gosto forte por moda, cinema, música e artes no geral e eram, sobretudo, lançadores de tendências para essas áreas.
A geração Y e uma atitude blasé
O hipster atual se apropriou de todos os outros estilos e movimentos que já existiram na sociedade: o grunge, hip hop, o hippie, o punk. Todos eles foram incorporados e colocados no contexto atual. Eles unem elementos de todas essas tribos uma mistura que, por muitas vezes, foi julgada como vazia. Por ser a primeira tribo urbana a surgir sob os olhares da mídia publicitária, o mercado logo tratou de transformar o movimento em desejo de consumo.
Os hipsters foram abraçados pela geração Y. São donos dos próprios negócios, sabem fazer de seu hobbie uma profissão, trabalham de casa, são donos de blogs e sobretudo, são experimentadores. São irônicos e blasé como forma de protesto. Gostam de novas bandas, novos artistas, séries que ninguém assistiu e filmes pouco falados. Sabem usar da moda para se expressar, misturam elementos retrô com peças urbanas e atuais.
Os hipster acreditam que não existe solução para os problemas do mundo e, sobretudo, deles próprios. Isso se traduz numa atitude blasê e indiferente pelos mais variados assuntos da sociedade. Basta analisar as letras da cantora Lana Del Rey. Time to Pretend da banda MGMT é outra letra que traduz a maneira que os hipsters pensam sobre a vida, trabalho e amor. Foi, sobretudo, a primeira tribo que se conectou através da internet. Mesmo surgido nos Estados Unidos, fez com que esse estilo e atitude se propagasse muito rápido em todas as principais cidades do mundo.
Uma tribo urbana entra em decadência no momento em que começa a cair no gosto popular e é amplamente difundido pela mídia, pela música e pela moda.
Tribos urbanas: do underground ao mainstream
Toda tribo urbana surge da necessidade de negar algum estilo, movimento ou filosofia predominante. Começa geralmente marginalizada e às beiras do círculo midiático. Geralmente são vistas com olhos tortos no momento em que começa a influenciar a sociedade e até se tornarem um estilo predominante. Durante os anos 1970, foi exatamente isso que aconteceu com os punks: anarquistas londrinos se vestiam de maneira a chocar a sociedade. Tinham ideais que iam contra a sociedade conservadora da época. A loja Sex, de Vivienne Westwood, por exemplo, se valia de camisetas com estampas que traziam temas polêmicos como o nazismo e o homossexualismo, fazendo muitos pedestres atravessarem a rua para não se chocar com as roupas da vitrine. O punk teve como fundo um estilo musical próprio que, quando os empresários descobriram que poderia se tornar vendável, reverteram a história e passarem a produzir as bandas. Resultado: Vivienne Westwood é umas principais estilistas britânicas de todos os tempos e seu marido, Malcolm McLaren, um dos produtores musicais que mais fez história no rock. Assim, o movimento punk entrou em decadência no momento em que começou a cair em gosto popular e foi amplamente difundido na moda, na prateleiras das lojas de discos.