Paridade racial no BBB: uma leitura semiótica

Bruna Rocha
Diálogos da Incerteza
2 min readFeb 4, 2021

A tríade peirciana sobre os processos de cognição e sensibilidade que atravessam a produção de sentido é uma chave analítica potente para pensarmos a tensão racial na produção simbólica brasileira. O Big Brother Brasil, maior Reallity Show do país de maioria negra, pela primeira vez, tem paridade racial em sua composição.

Apesar de em muitas edições, pessoas negras se tornarem vencedoras e o próprio debate racial ir ganhando esteio na casa e no público, é a primeira edição (vigésima sétima?) que a diversidade nacional aparentemente valorizada pela mídia é configurada em composição racial em um programa que, cada dia mais, se organiza em perspectiva e conceito de elenco. Sim, o BBB tem enquadramento, edição, montagem e discurso. Assim como a Globo tem posicionamentos discursivos.

A grande questão é que Discurso é uma entidade dinâmica e tecida na velocidade do seio cultural, e as disputas que atravessam o social também atravessam o simbólico. É aí que não faz sentido pensar BBB paritário sem lembrar do fenômeno Floyd, da mediatização cada vez mais forte da luta antirracista e da própria resistência antirracista nas trincheiras do cotidiano.

Mas se o discurso é sempre dinâmico e inacabado, esta edição do BBB não é o final de nada, tampouco uma conquista ou etapa finalizada. É uma nova página iniciada e aberta a todo tipo de disputas que pode ocorrer, afinal agora, amplia-se o número de concorrentes negras entre si — e o Brasil gosta de briga entre pretes.

Voltando à tríade de Peirce, qualidade, relação e síntese, ou ainda, primeiridade, secundidade e terceiridade, temos (de fora e de dentro) grandes responsabilidades e desafios semióticas para sustentar a narrativa antirracista e avançar. Visto que na mistura entre sentimento, resistência e construção de opinião, as violências seguirão nos atravessando aqui e lá e a mão da edição final segue sendo branca.

Não, não é só sobre entretenimento.

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Bruna Rocha
Diálogos da Incerteza

Jornalista, ativista, mestranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas e pesquisadora em Análise do Discurso. Ativista, feminista, afro-latina em diáspora.