Redes sociais, imagem e a crise do Eu
Diz que em sua fase marxista ortodoxa ou estruturalista, as ciências sociais mataram o sujeito, enquanto que como resposta, os pós-modernistas decidiram emoldurar o sujeito deslocado das estruturas de opressão que atravessam os processos de subjetivação.
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Eu, como mulher encruzilhada que sou, nunca me identifiquei com tal polarização. Sempre gostei de um tipo de materialismo histórico psicanalítico, mítico, holístico, onde sujeito e sociedade existem no entremeio de tensões e conformidades.
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Pois bem. Eis que com uma trajetória muito edificada em posições de protagonismos, desde a liderança de brincadeiras na infância até o engajamento em movimentos nos quais ocupei posições de direção, me confrontei com questionamentos profundos na psicanálise do quanto essas posições de fato me empoderaram ou me assujeitaram.
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Melhor, redizendo. As posições não existem a priori, as coisas não podem nos assujeitar. Somos nós quem nos assujeitamos mentalmente a tais posições e é aí que vem as angústias e o Baco Exu grita En tu mira: sua expectativa em mim está me matando. Errado. A expectativa é antes de mais nada nossa mesmo. Essa é a pior expectativa, que projetamos sobre nós e lutamos para sustentar.
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É aí que vale a pena mergulharmos nas diversas incursões sobre o eu ou sobre o self, de Nietszche à Deleuze, passando por Neusa Santos e Frantz Fanon, para pensarmos na crise do eu em tempos de redes sociais e superexposição da imagem. Ou melhor, na mediatização profunda através da qual, como aponta Muniz Sodré, uma nova eticidade é costurada e mediada simbolicamente pelas imagens.
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Não estou aqui para dizer se, do ponto de vista antropológico ou sociológico, isso é bom ou ruim. É histórico. Porém, vendo os espirais do silêncio e da surdez se aprofundando junto às angústias e multiplicação do adoecimento psíquico, me indago se muito que entendemos por empoderamento neste espaço, na verdade não são formas perversas de assujeitamento, onde passamos o dia buscando a vali(ke)dação do outro e desaparecemos enquanto sujeitos.
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Eu recomendo fortemente a abordagem psicanalítica para o acompanhamento psicológico nestes tempos de crise do eu. Comigo tem funcionado brilhantemente.