Uruguay, dia 4

Alessandra Nahra
diário da viagem pra dentro
4 min readJun 3, 2018

ontem se viu azul no céu e alguns raios de sol chegaram a encostar na minha pele — e eu fui fazer o que mais gosto em viagens, caminhar.

primeiro eu abracei umas árvores. vocês que nunca vieram aqui não têm ideia do TAMANHO dessas mães plátanos. eu chamo as árvores de mãe, quase todas; algumas eu chamo de irmã.

depois eu cheguei na orla, a orilla. e fui me emocionando com o mar. o mar escuro, cor de chocolate. imagino alguém náufrago nesse mar gelado.

me lembrei de uns campeonatos de surfe que eu corri em Torres, RS — que tortura ter que cair na água naquele frio com aquelas ondas tortas só porque eu tinha que competir, nunca que eu ia cair naquela água pra me divertir.

aí sim, pensei. agora cheguei no meu elemento.

daí então eu entrei na cidade e fui ver plantas.

era num bairro que parecia rico, pelo tamanho e cara das casas. e era outono nesse bairro. então me encantei pelas folhas.

daí teve uma parte que doeu um pouco porque sempre dói quando tem bichos.

tem um monte de coisas muito loucas nessa foto, entre elas um gato amarrado com coleira e guia
ele coisa mais fofa, riu pra mim, pulou em mim

e tinha uma feira de rua:

daí teve uma parte em que eu me senti rica, pois o almoço não era barato, mas o que meu dinheiro pagou mesmo não foi a comida, e sim sentar aqui e ficar olhando isso e pensando e sentindo o que pensei e senti aqui:

se chama Salmuera, fica na praia Melvin. e foi aí, tomando um café, que resolvi me mudar de cidade.

a essa altura começou a chover de novo.

então eu fui pra um café do povo da cannabis.

lá eu fiz um amigo, o Leo. e daí eu fui pra uma livraria comprar um livro que tinha visto no dia anterior e ficado tri a fim de ler. no caminho passei pelo parque Rodó mesmo com chuva.

depois dessa foto acabou a bateria do celular. e eu consegui chegar na livraria mesmo sem consultar o google maps. daí eu sentei no pátio coberto do café da livraria, tomei chá com uma manta no colo, li um pouco do livro recém comprado (Frutos Estraños, de Leila Guerriero).

e olha que louco: uma moça tirou uma foto minha. e publicou no instagram. e ela é amiga da minha amiga Flavia que me marcou na foto

a essa altura eu já tinha caminhado uns 12km desde a manhã. saí de casa às 10h, eram 18h. eu ia pegar um Uber pra voltar pro hostel, maaaaas não tinha bateria. tive que vir caminhando e, pasmem: lembrando como chegar. sem google maps e obviamente sem nenhum mapa de papel. e lembrei. e cheguei. e fiquei feliz. que día! ❤

--

--

Alessandra Nahra
diário da viagem pra dentro

Escrevo, planto, estudo, viajo. Falo com bichos, abraço árvores, e vice-versa.