A JORNADA POR TRÁS DA JORNADA

Su Verri
Diário de Bordo de uma Mãe Autodirigida
8 min readNov 13, 2022

Hoje venho compartilhar sobre a Jornada por trás da JORNADA PARA MÃES AUTODIRIGIDAS. Estamos prestes a embarcar na quarta edição dessa Jornada de Aprendizagem compartilhada em comunidade que eu criei e foi exclusivamente pensada para mães. O percurso dessa vez se estende por quatro meses, no entanto, comecei oficialmente a me preparar para ela em 2017 quando me dei conta de quão solitária é a jornada de vida de uma mãe. Não deveria ser assim, mas acaba se tornando, porque vivemos sobre padrões individualistas e se torna difícil e solitário começar a experimentar vivências diferentes e outras possibilidades para viver, aprender e se relacionar quando se está sozinha num mundo tão cheio de regras e padrões comportamentais enrijecidos, conservadores, moralistas e hipócritas. É muito comum a gente se encaixar e viver espremida dentro dessas crenças e padrões que não fazem nada bem para a nossa integridade.

Fui mãe muito nova, aos 19 anos tive meu primeiro filho e aos 21 já era mãe de dois Seres. Para enfrentar todos os desafios de maternar e encarar as escolhas de vida que eu fiz, disruptivas, desafiadoras e muito diferentes da maioria, apenas fui vivendo, dando conta de tudo, me desdobrando, assumindo responsabilidades e sendo uma Super Mãe “multitarefeira”. Isso me gerou esgotamento e stress mental e físico e em um determinado momento da vida eu surtei! Tinha surtos emocionais, crises de ansiedade e de pânico e aos poucos fui percebendo que isso tudo acontecia porque eu nunca havia dedicado tempo para cuidar verdadeiramente de mim e processar o que todos esses anos dando conta de tudo e de todos me trouxeram de bom e de ruim como consequência.

Eu tinha preguiça do Sagrado Feminino por inúmeros fatores e alguns deles envolvem apropriação colonizadora, privilégios e branquitude, hierarquias, desigualdade entre mulheres, binariedade, casamento e várias outras questões que atravessam o tema. Neste pacote de coisas que me faziam não olhar para o feminino e sentir preguiça de me dedicar na direção do autoconhecimento, a parte mais difícil era olhar para esse feminino soterrado debaixo de crenças e comportamentos, um feminino abandonado, negligenciado e oprimido dentro de mim. Todas as outras críticas em relação aos assuntos paralelos, também serviam como desculpa para desviar do que precisava ser olhado internamente. No fundo, a preguiça que eu sentia é porque eu sabia que o trabalho para organizar toda essa bagunça interior e reencontrar as partes perdidas de mim, soterradas nos escombros, daria muito trabalho e em alguns momentos me levariam por travessias dolorosas, lugares pelos quais não queria passar, memórias que não queria rever, reflexões profundas demais para serem feitas.

Eu tenho uma força mental bastante intensa e trabalhei arduamente na prática do autoengano, aliás nós mulheres somos ótimas em praticar o autoengano. Porém desde 2017 quando eu senti o primeiro chamado do coração para estar com mães, justamente na mesma época em que fui me familiarizando com a autodireção, me dei conta de que as minhas experiências de vida, de maternar e principalmente como educadora, psicopedagoga e posteriormente, facilitadora autodirigida, poderiam apoiar outras mães a caminhar menos solitárias e com mais segurança e ferramentas para se sentirem autodirigidas sobre suas vidas. Mais ainda, estar com outras mães compartilhando sobre minhas travessias solitárias e dolorosas, no fim era e continua sendo um bom caminho para cuidar de mim mesma. Apoiar outras, no fundo, é apoiar a mim mesma no meu caminho de retorno para o meu Eu, para a minha essência. E este reencontro com a Mulher Selvagem não poderia deixar de estar dentro de uma perspectiva autodirigida porque a autodireção é um valor muito fundamental da minha vida que já existia antes mesmo do primeiro contato que eu tive com o termo.

A possibilidade de estarmos reunidas em uma comunidade de mulheres é uma oportunidade de dedicar tempo e espaço para processar, digerir e resgatar coisas que não tivemos tempo de fazer no meio das muitas tarefas e responsabilidades que vamos assumindo para estar como mães nessa sociedade regida pela pressa, pela opressão e falta de cuidado.

Pessoalmente um dos maiores desafios na minha trajetória autodirigida é o compartilhamento. Sentir e achar que está suficientemente bom para compartilhar e acima de tudo, tirar um tempo para processar tudo que acontece dentro de mim e traduzir para outras pessoas que não têm como adivinhar o que se passa no meu Universo interior é um movimento que me desafia constantemente. Por isso estabeleci tempo e espaço na minha vida para dar atenção a este desafio, para encontrar formas de compartilhar, aprofundar e expandir a minha comunicação e estudo sobre a maternidade, educação, relações, aprendizado, sempre na perspectiva da autodireção.

Cada vez que eu retomo ao meu diário, um nível a mais de profundidade se apresenta. Cada vez que me ponho a escrever para falar com mães sobre a autodireção e todo este processo de construção de comunidades, quanto mais eu conheço famílias e pessoas por todo o mundo, mais eu sinto que os aprendizados se tornam subjetivos no sentido de serem difíceis de descrever de maneira pragmática porque são sensoriais, sensíveis e multiníveis e mais importante do que o conteúdo que está sendo passado, que essas informações possam servir para estabelecer um nível de conexão mais profunda entre as pessoas e trazer um nível de percepção da realidade e consciência de si mais amplas.

ONDE ESTÃO AS MÃES DA NOVA ERA?

Para a quarta edição da Jornada estou incluindo a ampliação de algumas perspectivas e percepções, pois eu também estou expandindo com todo este trabalho interno e acabei expandindo por mais um mês o período de duração do percurso, então serão 4 meses de Jornada, oficialmente 18 encontros em grupo e dois encontros individuais de mentoria familiar com cada uma das mães inscritas.

Só quem é mãe pode imaginar o que cabe num caldeirão de mães, cheio de saberes. Neste caldeirão que se chama JORNADA PARA MÃES AUTODIRIGIDAS nós vamos apurando o caldo da nossa poção de forma que compartilhamos e integramos conhecimentos de maneira dinâmica e aplicável num processo de autoconhecimento compartilhado, em rede, em comunidade.

Dessa vez me abri para o compartilhamento e para receber as mulheres que chegarem desde a Lua Nova de 27/10. Percebi que não poderia mais procrastinar mesmo que às vezes a minha mente teimosa queira… e que já havia chegado o tempo de começar a magnetizar uma turma interessada em seguir esta trajetória compartilhada comigo. Eu me direciono pela Lua e por isso aconteceu esse sentir na Lua Nova, quando eu faço as minhas intenções. O período que estabeleci de abertura e magnetismo foi até a próxima Lua Nova (23/11), quando vamos embarcar em grupo nessa aventura.

Ainda na Lua Nova me chegou um grupo de mulheres que deseja estudar o livro Mulheres que Correm com Lobos, bem em sintonia com as bases que eu preciso para me fortalecer na facilitação da Jornada. Sinto que foi um sinal do Universo, eu me abri para estar com mulheres e elas chegaram, eu me abri para aprender em coletivo e elas chegaram, eu me abro para me conectar e a conexão acontece!

Agora eu ainda preciso ajustar a formulação do pedido para o Universo. Além desse magnetismo natural que me põe perto de mulheres. Aonde estão as mães da Nova Era? Como faremos para acolher às novas crianças que estão chegando no mundo de forma a defender uma infância livre de abusos e compulsoriedade, que permita um desabrochar pleno e um desenvolvimento para a saúde e potência humanas?

Já estamos na Lua Cheia, virando para a minguante e eu sinto que os tempos que estamos vivendo trazem uma intensidade muito grande de sensações e acontecimentos que podem ser vividos de maneira inconsciente, dolorosa e solitária, ou de maneira compartilhada, consciente e buscando ferramentas que apoiam a navegação. Nesta lua cheia me abro para compartilhar um pouco mais sobre o que habita em meu coração e minhas verdadeiras intenções e que nessa intensidade da potência eu possa magnetizar as mulheres certas para vivenciar esse percurso de autoconhecimento autodirigido comigo.

POR QUE UIVAM AS LOBAS?

Não sei vocês, mas nessa Lua Cheia eu senti emoções fortíssimas, a tristeza passou por mim de maneira intensa, mas também por outro lado, uma confiança muito grande e um sentimento de conexão e abundância e a certeza de que outras mulheres também vivem essa mistura de emoções e se encantam com a lua e ao me lembrar de outras mulheres, eu comecei a dançar sozinha para a Lua, dançar para louvar, agradecer e me conectar comigo mesma e com todas as lobas que buscam essa conexão para além deste mundo. A lua cheia me pôs a dançar e celebrar a vida. Para celebrar a vida é preciso conhecer as tormentas do caminho. Dançar para celebrar a vida não é algo leviano, inocente, feito de maneira inconsequente, é algo muito profundo e sincero da Mulher Selvagem que habita em mim e me põe e a remexer e me conectar. Eu celebro a vida porque sei que tudo é passageiro, nossas emoções, o que vivemos, o agora, tudo fica para trás, tudo é passageiro. Usufruir do presente é uma dádiva, uma alegria. Estar no presente é estar no Eterno.

Uivam as lobas, tocam os tambores, enchem seu coração de esperança e na lua cheia, ativam seus desejos, fazem suas poções, amam intensamente. Mesmo aquela mulher mais retraída, lá no fundinho tem uma loba que dança em seu interior. E foi com esse sentimento que a tristeza passou e de repente me vi novamente cheia de energia e potência para seguir com esperança, confiança e muita paciência e autocompaixão e a certeza de que as companheiras certas para atravessar o momento chegarão sem esforço, por afinidade de frequência, a gente vai se encontrar.

Clarissa Pinkola Éstes relata em sua obra mais famosa, Mulheres que Correm com os Lobos, que o arquétipo da Mulher Selvagem e as Lobas têm semelhanças como: percepção aguçada; espírito brincalhão; elevada capacidade para a devoção; gregárias por natureza (gostam de estar em bando, em matilha, em comunidade); curiosidade genuína; resistência e força. Que mulher não se identifica com essas qualidades?

Por todas essas razões há motivos para uivar! Estar em bando faz parte de nossa natureza feminina e gostaria de acrescentar um talento intrínseco para o cuidado, para o acolhimento, para a compaixão, para criar, para gerar e apoiar o desenvolvimento de outras pessoas (não só dos filhes). Quando se trata de nós mesmas, de auto acolhimento, diversão, estar em bando, aprender coisas juntas, estamos dando a devida atenção para o que vibra em nossos corações, estamos dando vazão e deixando fluir a Mulher Selvagem que pulsa dentro de nós? Dar vazão para este pulso criativo, de natureza anímica, nutrir a nossa Mulher Selvagem que clama de dentro da nossa psique é viver em equilíbrio, é encontrar a saúde e a integralidade e reapropriar-se de sua própria vida. Somente assim teremos filhos saudáveis e êxito em qualquer coisa que queiramos realizar em nossas vidas!

O convite está aberto! Por aqui estou uivando, batendo tambor e fazendo fogueira dentro do meu coração para essa Jornada de autodireção e autoconhecimento. Sou muito grata pela oportunidade de vivenciar todas essas experiências e ainda poder compartilhar sobre elas.

Link para saber todos os detalhes da Jornada

Para se inscrever

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Su Verri
Diário de Bordo de uma Mãe Autodirigida

Mentoria em Educação Autodirigida; Facilitadora Ágil (ALF); Comunidade de Aprendizagem Autodirigida; Desescolarização/Unschooling;Fundadora do ALC Nature