Desafios maternos durante a Pandemia

Su Verri
Diário de Bordo de uma Mãe Autodirigida
7 min readFeb 13, 2021

Nunca me senti tão parecida…

A jornada autodirigida é uma aventura deliciosa de muitas descobertas e superação, através da autodireção aprendi a emancipar-me de mim mesma. Morrer e renascer, ser artista da minha própria vida e tecer as relações com as cores e desenhos que eu desejar. Esse é o lado bom.

Mas como todas as aventuras têm os seus desafios, a minha também teve. Ao mesmo tempo que a vida de uma família autodirigida (unschooler) não é tão diferente da vida de uma família normal pois, tem os desafios de rotina e convivência como todas as outras famílias do planeta, tem também suas peculiaridades e sombras.

Nunca me senti tão parecida com todas as outras mães na vida!!! Porque durante a Pandemia muitas dessas sombras do dia a dia da convivência familiar se tornaram muito semelhantes aos desafios do dia a dia de uma família unschooler e dessa maneira acredito que compartilhar das minhas experiências pode ser uma grande contribuição para as milhares de famílias que foram pegas de surpresa em uma situação completamente nova e sem ter sido planejada anteriormente.

Vale ressaltar que antes de desescolarizar os meus filhos eu já era Educadora e me preparei por uns bons anos para fazer esta transição definitiva. Portanto eu compreendo o quanto é apavorante para todas as famílias que precisaram de uma hora para a outra estar em confinamento e lidar com as questões de convivência, organização da rotina e aprendizagem das crianças.

Antes de seguir contando para vocês sobre os maiores desafios maternos durante a Pandemia quero ressaltar a minha visão sobre a aprendizagem. Pesquiso sobre aprendizagem e desenvolvimento humano há pelo menos 15 anos e por todos esses anos venho procurando maneiras de ampliar a visão sobre o que é aprendizagem. A Escolarização criou uma cultura que associa aprendizagem exclusivamente ao currículo escolar, à ensinagem e ao formato de aulas em que há uma grande separação entre teoria e prática. No entanto, a Aprendizagem como eu a considero a partir dos meus estudos, com “A” maiúsculo mesmo, é a grande capacidade humana de sobrevivência e adaptação ao mundo e mais ainda, aprendizagem é convivência. Com a Escolarização crônica em que estávamos vivendo pré Pandemia (e que continua rolando…) as habilidades e capacidades que precisavam ser trabalhadas para enfrentarmos tudo isso, definitivamente não estavam sendo desenvolvidas e continuam não estando. A Escola agora vive a pensar no dia em que tudo voltará ao normal ao invés de se reinventar, olhar para novos horizontes, recriar-se. Se isso ainda não ficou evidente para você eu sinto muito em ser a pessoa a te alertar sobre isto. E faço aqui um convite para refletirmos juntas sobre todas essas questões e buscarmos novos parâmetros e horizontes para serem explorados ao invés de olharmos sempre da mesma forma para a mesma direção.

Sobre os Desafios…

Desde 2017 que o movimento Mães Autodirigidas vem sendo sonhado, muito antes de ter esse nome e em 2020 eu abri meu coração e meus ouvidos e conversei com muitas mães, mulheres, professoras, educadoras, autodirigidas, galera da rede ALC internacional e outras redes e fiz uma pesquisa autodirigida sobre os maiores desafios maternos de 2020. Eis aí a lista do que saiu. Depois me diga se você se identifica ou se há ainda algo a acrescentar?

  • Organização da Rotina Familiar
  • Afazeres da casa
  • Conflitos familiares por excesso de convivência
  • Excesso de telas
  • Problemas com as aulas online
  • Problemas com o confinamento
  • Falta de convívio com os pares
  • Falta de tempo para autocuidado
  • Dificuldade em lidar com os filhos
  • Muita dificuldade de adaptação com a escola online

Um olhar criativo sobre a situação:

Foi aí que aquele sonho guardadinho de estar com mães apoiando na mudança de Paradigma para a Autodireção renasceu e aqui estou compartilhando dessas ideias e experiências com vocês. Numa perspectiva de mãe, ex-educadora, aprendiz autodirigida, gestora e organizadora, nasceu essa proposta. Para incentivar você que também é uma mãe autodirigida a se reinventar, encontrar a sua turma, ampliar o seu repertório/caixa de ferramentas e aprender que é possível sim ter uma vida diferente com mais leveza, criatividade, conectividade e alegria, de maneira simples.

Mas antes de trazer algumas ideias criativas para você quero te contar que mágica não existe, nem fada madrinha com varinha de condão. Transformar a si mesma é uma jornada, requer trabalho, dedicação, auto compaixão, coragem, auto amor. Conforme você se transforma, sua família automaticamente se transforma junto porque vocês constituem um sistema. A mudança se faz de dentro para fora e é na ação, não apenas no intelecto.

Ideias criativas:

  • A vida é um jogo: Esse mundão escolarizado põe um peso excessivo nas coisas, transforma tudo em obrigação e prega a filosofia de que “na vida a gente tem que ralar”. Que tal olhar com mais leveza para as situações? Com menos urgência e menos auto cobrança? A ideia é transformar a maneira como olhamos para as situações chatas e tentar hackear a situação incluindo algo divertido e prazeroso associado a essa atividade. Trazer mais leveza e alegria para a vida nunca é demais, faz bem para a saúde, faz bem para a pele e melhora as relações.

Alguns exemplos possíveis:

*Enquanto você lava louça ouve aquele podcast que você ama ou assiste o episódio de sua série favorita.

*Criar uma playlist bem divertida compartilhada com sua família.

*Criar jogos durante a realização das tarefas da casa como faxina etc.

  • Quais são os pólos: Se você só consegue ver coisas ruins ou negativas dessa situação, lembra do jogo, tenta hackear e encontrar pelo menos uma coisa positiva do acontecido. Se é uma situação que se repete em sua vida, comece a observar o que se repete nessa situação e tente de maneira consciente encontrar maneiras de fazer diferente, de polarizar, não ficar olhando só para um lado. O que tem no avesso da questão? Lembrei da música de Caetano e Gil:

“É que Narciso acha feio o que não é espelho

E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho

Nada do que não era antes quando não somos mutantes

(…)

Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”

  • Conflitos como matéria prima: Aproveitar que a família foi obrigada a estar confinada e trabalhar os conflitos. Ao invés de olhá-los como algo ruim, que tal considerá-los como matéria prima para construir uma relação familiar consistente e conectada. Aprender a ouvir as crias, dialogar, deixar a pia encher de louça de vez em quando, faltar em uma reunião de trabalho e sentar com a sua criança despretensiosamente pra conversar e ouvir com o coração o que ela tem pra te dizer. De qual criança eu estou falando??

Pode ser do seu filho ou da sua filha, mas também podemos trazer essa relação de escuta atenciosa, acolhedora e compassiva para com a nossa própria criança interior. O quanto de nossas relações com nossos pais e educadores estamos reproduzindo na criação de nossos filhos?

Se elas foram boas, ótimo!! Que sejam perpetuadas!! Mas nem sempre elas foram boas e mesmo assim a gente acha que precisa continuar reproduzindo porque sempre foi assim e sempre será. Só que não!!!

É possível entrar numa jornada de autodescoberta em que você se permite desconstruir padrões de comportamento que não são saudáveis e começar de novo, experimentar uma nova maneira de se relacionar consigo mesma e com a sua família.

Há coisas que precisamos deixar para trás…

O que você está disposta a deixar para trás? Como vivemos num sistema de consumo e acúmulo de bens e de uma Educação Bancária como já dizia Paulo Freire, mudar de Paradigma significa deixar coisas para trás, abandonar crenças, desconstruir, esvaziar, abrir espaço. Essa pode ser a maior dor que tenhamos que enfrentar ao decidir desescolarizar, abrir mão das crenças que nos constituíram até aqui, que já não nos servem mais, mas das quais precisamos aprender a abrir mão para caminhar mais leves.

Quando você deixa certas coisas para trás parece que fica numa espécie de limbo, num vazio, como se estivesse saltando em queda livre e é nesse momento de queda livre que muitas pessoas acabam se agarrando com todas as forças à seus velhos padrões e crenças por medo de perderem suas identidades ou de não serem socialmente aceitas. Nesse limbo só você pode decidir se vai se jogar definitivamente ou se volta para tentar se espremer onde não te cabe mais, nem a você e nem a sua família.

Sinto que talvez eu tenha sido um pouco dura com este texto, mas eu garanto que é possível atravessar o limbo e renascer mais leve, mais feliz e com uma vida que faz sentido para você e para toda os que são importantes para você.

Lembre-se que você nunca está sozinha!! Neste mundão de bilhões de habitantes sempre tem uma galera que se parece com a gente e a autodireção tem conquistado avanços importantes e tem se tornado uma realidade cada vez mais possível.

Me deixe saber o que você achou sobre este texto comentando aqui, deixando seus aplausos ou mandando um e-mail para: suverri@gmail.com.

Acompanhe minhas redes e vamos juntas cocriar uma nova realidade!!!

Gratidão!!!!!

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Su Verri
Diário de Bordo de uma Mãe Autodirigida

Mentoria em Educação Autodirigida; Facilitadora Ágil (ALF); Comunidade de Aprendizagem Autodirigida; Desescolarização/Unschooling;Fundadora do ALC Nature