Organização da Rotina Familiar

Su Verri
Diário de Bordo de uma Mãe Autodirigida
6 min readFeb 2, 2021

Minha família e amigues mais próximos sabem que eu sou uma gestora/organizadora das coisas. Estou sempre tentando criar um sistema para facilitar as coisas, viabilizar a comunicação e organizar a vida de maneira que tenhamos mais tempo para usufruir dos bons momentos, respirar, contemplar, me conectar com as pessoas e sempre que possível tirar mais tempo para coisas que me nutrem, que me dão prazer e pulsão de vida.

Também tenho uma característica paradoxal que por um lado sou extremamente bagunçada com organização doméstica, mas por outro, quando a organização é em relação aos estudos e gestão de grupos e processos, daí as pessoas costumam me considerar organizada.

Quanto mais eu estudo sobre organização e vou encontrando uma organização interna, mais eu percebo que este é um processo gradual e que vai se construindo a longo prazo. Ao perceber o meu paradoxo de ser organizada apenas em algumas áreas específicas, em 2020 com a situação da Pandemia eu também fui experimentando expandir as minhas qualidades como organizadora para outras áreas e até comecei a compartilhar com outras mulheres sobre o assunto e realizei o meu primeiro Grupo de Mentoria para Mães que foi uma linda experiência em que participaram 9 mães, num percurso online que durou dois meses com encontros semanais e convidadas.

A autodireção como uma nova ótica para observar a realidade requer que exercitemos um novo olhar sobre a organização, partindo da auto regulação, encontrando parâmetros, tempos, ritmos e fluxos que vão se tornando mais naturais, orgânicos, alinhados com o movimento da natureza, alinhados com nossos ciclos biológicos internos.

Já saí da “cidade” há 20 anos, desde quando decidi sair de São Paulo eu moro em propriedades rurais, no entanto, o processo de desconstrução dessa herança cultural urbanocêntrica, de ritmos e horários regulados por um calendário mensal, semanal, contínuo, vai ocorrendo por etapas.

Até eu conseguir encontrar um ritmo de vida que fosse equilibrado para mim e minha família foram muitos e muitos experimentos. Na verdade me dá um certo receio afirmar que encontrei um equilíbrio, porque logo que me vejo equilibrada já desequilibra novamente. Foi um grande aprendizado para mim perceber que o equilíbrio é um movimento constante. Como no processo de assimilação e acomodação proposto por Piaget, o equilíbrio é um constante arrumar e desarrumar.

Pensando no “currículo” autodirigido de nossa família, cocriar a nossa rotina de maneira que fizesse sentido foi algo em que eu dediquei bastante tempo e no qual ainda dedico, porém aos poucos, com o passar do tempo vai se tornando uma prática mais orgânica. O que no ALC (centro de aprendizagem ágil) diríamos que é algo que já foi integrado à nossa cultura familiar, já é algo que fazemos naturalmente mas que foi um grande processo de ressignificação e construção compartilhada.

O que acontece com o modelo de escolarização que regula toda a sociedade é que ele não trabalha a fim de apoiar o desenvolvimento da auto regulação dos sujeitos. É um sistema hetero dirigido, ou seja, a direção é de fora para dentro, ou de cima para baixo e a lógica do sistema vai deixando de existir e as pessoas passam a reproduzir apenas porque todo mundo faz, todo mundo fez e quem sou eu para questionar…

Na verdade quando paramos para refletir sobre costumes e hábitos socialmente estabelecidos e começamos a refletir sobre o porquê das coisas, elas começam a fazer sentido, mas também depende muito de quanto você está realmente disposta a desconstruir e ressignificar todos esses padrões sociais aparentemente intransponíveis.

Para mim e minha família sempre foi muito sofrido acordar cedo para ir à escola, precisávamos acordar 5h da manhã para esperar a condução escolar o que em períodos de inverno se tornava um grande pesadelo, mas o discurso é que sempre foi assim, sempre vai ser, a gente só vai ser alguém na vida se ralar e coisas do tipo são repetidas há gerações e gerações.

Quando fui diretora da Escola aqui do vilarejo rural onde moramos, tentei mudar o horário das aulas no inverno para iniciarem às 8h da manhã, mas a maioria das pessoas não quis mudar. O conservadorismo é uma característica do sistema de escolarização. O medo de perder o controle da situação gera um medo absurdo de mudar o sistema de funcionamento das coisas e vamos repetindo e repetindo hábitos e costumes que não fazem sentido, mas que não sabemos como fazer diferente, porque nunca fizemos de outro jeito e muitos antes de nós já faziam assim.

Encontrar o nosso ritmo de vida autodirigido e compartilhado é um exercício diário de comunicação e ressignificação de valores sobre os quais nunca paramos de refletir e aprofundar a consciência no âmbito de nossa família, mas que também estendemos para as nossas reflexões nas comunidades de aprendizagem e encontros que passamos a realizar com todos os tipos de pessoas interessadas em autodireção.

Imagine se de repente você se permitisse dar vazão a todas as suas ideias mais incríveis e construir um projeto de vida totalmente diferente do que a maioria das pessoas está acostumada?

O primeiro ponto para começar a falar sobre uma grande transição na maneira como vivemos as nossas vidas é considerar que este é um processo gradual a ser construído a longo prazo.

Uma outra questão que só pode ser respondida por você… Até onde você está disposta a ir? Porque desconstruir padrões externos que nos oprimem parece relativamente prazeroso, mas aos poucos a gente vai percebendo o quanto estamos determinadas por esses padrões e pautamos toda a nossa vida neles e quanto eles fazem parte de nós e de nossas crenças. Olhar para a bagunça toda e todas as implicações de recomeçar a estruturar a vida pode parecer algo bem assustador e por isso que muitas mães desistem no meio do caminho.

Um outro aspecto para se chegar ao que estou chamando de Organização Orgânica é começar a perceber quais as nossas necessidades mais profundas e compartilhar sobre elas em família e se abrir para saber quais as necessidades de cada um em cada momento da vida, pois as necessidades mudam com o passar do tempo ainda mais quando passamos a observar com consciência e perceber sobre todas essas determinações que são pré determinadas pela cultura dominante.

Sabe aquela expressão: para o mundo que eu quero descer!!

E por que não? Porque não aproveitar este momento de balanço global para reinventar a sua própria vida, se conectar de maneira profunda e verdadeira com seus filhos, com sua família, com as pessoas que você mais ama.

O sistema escolarizado e escolarizante prega uma cultura do imediatismo, apressa as coisas, não permite que vivamos a profundidade dos nossos processos. Mas que tal se aprofundar em seus processos, em suas reflexões?

Você não está mais sozinha!!! Aliás nunca esteve… O que estava nos faltando era começar a nos organizar em rede!!! Uma rede de mulheres autodirigidas, corajosas e altamente capacitadas fazendo a transformação acontecer nas próprias vidas, nas vidas de suas crianças e construindo de forma intencional uma nova cultura.

Vamos juntas nessa?? Então eu tenho alguns convites para fazer para você:

1 — Que se junte à comunidade do whatsapp Mães Autodirigidas para irmos trocando ideias e cocriando ativamente essa nova realidade.

2 — Que se inscreva para a primeira oficina de 2021 para Mães Autodirigidas que vai acontecer em 10 de fevereiro: “Por onde eu começo a reorganizar a minha vida?”

3 — Se quiser ler mais sobre Organização da Rotina, visite o meu texto que escrevi no final do ano passado.

Antes de sair dessa página lembra de dar uns claps, compartilhar com quem precisa e deixar um feedback para que eu possa escrever cada vez mais e melhor para você!!

Gratidão!! Um beijo da Su

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Su Verri
Diário de Bordo de uma Mãe Autodirigida

Mentoria em Educação Autodirigida; Facilitadora Ágil (ALF); Comunidade de Aprendizagem Autodirigida; Desescolarização/Unschooling;Fundadora do ALC Nature