As disciplinas de mestrado

A lógica é bem diferente da graduação

alê
Diário de bordo do mestrado

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Na graduação, quando você é aprovado no vestibular e resolve escolher as disciplinas a cursar, geralmente o que se pensa é:

"Vou encher essa grade de disciplinas no começo e depois ficar bem relax nos últimos períodos, vai ser maneiro."

Pois é, e geralmente é maneiro mesmo, dá certo. Porque a lógica da graduação é que as disciplinas básicas, por mais trabalho que dê, não são tão específicas e demandam um trabalho mais comum e bastante similar com a pesquisa que você estava acostumado no ensino médio. E no decorrer do curso, com a entrada de estágios e outras demandas profissionais, o tempo livre que você gerou nos primeiros semestres cai muito bem — ou te da aquela horinha a mais para dormir.

No mestrado, essa lógica não convém. Primeiro porque o tempo é escasso — você precisa terminar em dois anos, geralmente. Conciliar sua pesquisa com as disciplinas (mesmo elas andando em paralelo e uma alimentando a outra) é uma tarefa que deve se tomar cuidado. Eu falei sobre o projeto anual que tem me ajudado muito e isso é uma forma de cuidar do tempo e evitar a angústia. Mas o principal é que as disciplinas consomem o tempo da sua pesquisa — para um lado bom, claro, mas consomem. Aprender os fundamentos de pesquisa, seus conceitos filosóficos e paradigmas, além das metodologias que poderão ser aplicadas em seu projeto, demanda um bom tempo de leituras, buscas e desenvolvimento. Por semana, além dos artigos, dissertações, livros e teses que você estará lendo para o seu projeto, você precisará ler tantas outras publicações sobre método, tipos de pesquisa, fundamentação, discussões estruturais para apresentação da sua pesquisa, entre outras informações sobre qualidade de periódicos publicados, congressos e abertura de submissões para artigos, etc.

O fato é que é um universo novo se você está saindo de uma graduação com pouca ênfase em pesquisa — e nunca teve contato com ela — ou se está partindo de uma carreira prática para a acadêmica. E você deve se acostumar com ela. E isso vai demandar um esforço adicional.

Por isso a lógica da graduação não se aplica no mestrado — e nem no doutorado, acredito. Para a escolha das disciplinas deve-se ter em mente que todas elas demandam muito tempo de pesquisa fora (num questionário do PPGDesign da UFPR no ano de 2013 resultou a estimativa de 3h de pesquisa para cada hora de aula). Imagine se você ainda trabalhar. Imagine se você precisar viver.

Ou seja, saiba muito bem preencher a carga horária da semana. Eu recomendo entrar em no máximo duas disciplinas além das orientações, e escolha sempre as disciplinas que vão te ajudar na pesquisa além daquelas obrigatórias — teu orientador pode te ajudar a escolher. E não se sobrecarregue de maneira alguma. Sei que existe aquela gana em querer terminar as disciplinas o mais rápido possível, conseguir os créditos necessários para a qualificação e ficar apenas com o seu tema no colo, mas se você não souber administrar tudo isso pode se tornar um transtorno no final e não fazendo nada direito.

Parcimônia, amigos e amigas. Parcimônia.

No próximo texto vou abordar o início dos fundamentos e fazer uma abordagem um pouco mais direta ao meu tema para ilustrar. Espero que estejam curtindo.

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