O Mundo, Pelos Olhos de uma Criança — o Postmortem de Sua Majestade

Jairo B. Filho
Diário de um Game Designer
2 min readFeb 7, 2018

Muito em breve, vocês terão a chance de conhecer Sua Majestade mais de perto. Então, não irei me aprofundar no jogo em detalhes.

Em vez disso, gostaria de contar sobre como cheguei a este jogo — e, o mais importante, o que ele representa para mim.

Em uma percepção simplista, o jogo gira em torno de um Reino, composto por Monstros amargurados com sua própria existência. O mundo para eles é vazio, carece de esperanças e de sonhos…

Isso muda com a chegada inesperada de uma Criança, impulsiva e cheia de vida. Seu apreço e energia logo contamina os Monstros à sua volta, e isso os convence a conceder-lhe o título máximo: a coroa de Majestade.

Isso as coloca numa posição onde admiração e obediência (ou seria cuidado?) se misturam — num reflexo muito semelhante ao seio familiar, com a chegada de um filho.

Claro que a convivência vai desgastando, aos poucos, essa imagem idealizada; e isso acontece em ambas as perspectivas — a da Criança, e também a dos Monstros. Cada papel dentro deste jogo é idealizado por uma perspectiva-chave: os Monstros possuem, cada um, seus sentimentos mais intensos (Pessimismo, Carência afetiva, Egoísmo e Rabugice). E a Criança se caracteriza pela imaturidade — nada importa para ela, senão seu próprio bem-estar.

E dessa disparidade comportamental que surge a dinâmica de jogo, a convivência entre Sua Majestade e seus súditos. A primeira tem ampla desvantagem em todo o momento (tanto física quanto numérica), e conta apenas com a tênue confiança dos últimos para conquistar o que deseja. Conquistar, por exemplo, o que não tinha em sua própria casa (e isso é descrito em uma de suas Questões, dentro do jogo).

É justamente desse ponto que a mudança deve surgir. Esse é o cerne do jogo, e é justamente nela que ele termina. De algum modo, a situação nesse convívio fica insustentável; resta saber de onde isso parte.

Pode ser que a Criança acabe sentindo falta de casa, do ambiente que lhe era seguro, ou pode ser que os Monstros resolvam dar fim à sua insatisfação — saindo desse Reino para buscar algo novo, ou descontando suas frustrações na Majestade. Cabe apenas a eles decidir o que fazer, já que a Criança mal pode se defender… de um modo bem semelhante aos adultos, e sua costumeira inaptidão de compreender os pequenos, e seu ponto de vista.

Então, se você busca um meio de repensar as relações humanas e seus desfechos, Sua Majestade torna-se um jogo recomendado. Pois nele, coloquei minha percepção sobre o mundo — e sobre como ele poderia ser.

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Jairo B. Filho
Diário de um Game Designer

Game Designer independente, fundador do selo Jogos à Lá Carte e entusiasta de pesquisas e boas conversas.