Bárbara Ariola
diário do céu
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2 min readJun 1, 2018

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ando devagar porque já tive pressa, levo esse sorriso porque já chorei demais

mentira. ainda tenho pressa e ainda choro. talvez porque não aprendi que o mundo não é servo das nossas demandas. “você é filha única, deve ser mimada”. olha, nunca me vi mimada, mas também acredito que possa ser relativo o entendimento do que nos mima. eu achava que mimado era quem esperava as coisas caírem do céu pra acontecer, quem não limpa a própria sujeira, quem não tem iniciativa por entender e fica perguntando para os outros.

eu limpo tanto a minha sujeira que me sinto a pior limpadora do mundo, eu acho que poderia sempre ficar mais limpo, nunca fica, sabe? mas talvez eu seja mimada porque tô sempre achando o mundo pesado, complicado, exigente, e eu não consigo me sentir tranquila. vai ver que ser mimado é uma expressão diversa: tem aqueles que esperam sentado, e tem aqueles que agem, mas acham injusto quando não dá certo…afinal, foi tanto esforço. acho que me cabe a segunda categoria e, se for isso mesmo, eu aceito que me chamem de mimada.

procurei o que é no dicionário, e vi “criado com muito mimo”. procurei mimo: “carícia, afago, carinho”. e me pergunto quando é que foi que mimado virou ofensa, já que ser criado com muito carinho parece algo minimamente decente.

minha mãe sempre me pergunta porque eu tenho tantas questões pessoais, já que afirma que eu sempre fui amada. muita gente diz isso, sobre amor que me rodeia. deixa eu dizer, a Lua está minguando em Capricórnio, e eu sou dessa lua aí. sempre tem um lugar desconfortável de morada, e minguando, desaparecendo.

eu acho que foi um filme que vi na infância em um momento errado que pertubou toda minha noção de afeto que me rodeava. ou porque meus pais brigaram muito por mim, e eu entendi que afeto demais causava brigas. Lua é afeto, Capricórnio se exalta em Marte. quando afeto se torna motivo de guerra.

eu sempre sonho que estou perto da praia e não alcanço o mar, e aí preciso ir embora e me culpo, de novo, por não ter alcançado estando tão perto. vai ver é hora de não ter pressa e carregar riso ao invés de choro. de pegar o mimo e jogar de volta pro mundo.

desculpa ser tão dura com vocês, eu entendi muitas coisas erradas pelo caminho. a Lua mingua, e eu também.

quando eu voltar, pretendo estar melhor.

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Bárbara Ariola
diário do céu

sapatão historiadora da arte, antropóloga e astróloga. saturada por palavras a serem ditas, mitos a serem escutados, perspectivas a serem compreendidas.