Por que os clássicos nunca morrem?

Ana Claudia
BLOG DO LA
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3 min readJun 29, 2020

Um livro é considerado clássico quando, mesmo com o passar dos anos, mantém seu valor e importância para a literatura. Durante o mês de junho, no Clube Leitores Anônimos, a leitura e discussão de Memórias Póstumas de Brás Cubas, obra prima escrita por Machado de Assis, deixou essa perenidade bem evidente.

Considerada como a obra inaugural, no Brasil, do período conhecido como Realismo, Memórias Póstumas de Brás Cubas mostra que a riqueza da arte ultrapassa as “caixinhas” dos estilos de época. O que quero dizer com isso é que o livro de Machado, assim como muitas outras obras, não se restringe a meras características como o uso de uma linguagem objetiva, crítica social e ironia. Vai muito além disso! Transcende alguns enquadres.

Não é possível limitar Brás Cubas, o famoso defunto-autor da literatura brasileira, que narra sua história de vida depois de morrer, a um jovem-branco-mimado-da-elite-carioca-do-século-dezenove — apesar de ele ser, de fato, tudo isso. Machado de Assis, em sua narrativa, dividida em 140 pequenos capítulos, demonstra diversas camadas por trás desse personagem, o que inclui seus pensamentos, (não) atitudes e, até mesmo, a narração de seu delírio, tudo de um ponto de vista do próprio narrador-personagem, após sua morte.

O uso de sarcasmo (ou até mesmo de deboche), as colocações engraçadas (não sei se “bem humorado” seria um termo adequado) — reelaborações de famosos versículos bíblicos, por exemplo –, as divagações, a inovação temática (o defunto-autor), o diálogo quase que direto com o leitor (que nos obriga a adotar uma postura mais ativa na leitura do livro), além da ácida crítica social à elite carioca do século XIX são alguns dos fatores que justificam o reconhecimento de Machado de Assis como um dos maiores nomes da literatura brasileira.

Entretanto, é importante destacar que toda essa genialidade presente na obra só pode ser constatada e sentida, efetivamente, a partir da (incrível) experiência de leitura.

Apesar de muitos de nós já termos lido o livro em outra ocasião, decidimos (por votação) aproveitar o período de quarentena para (re)ler esse grande clássico da literatura brasileira, que nos mostra o porquê de clássicos serem atemporais.

No nosso encontro, que ocorreu pela primeira vez por meio de videochamada, ressaltamos que os assuntos abordados na obra permanecem atuais e, provavelmente, eternos. Ou seja, há questões que perpassam gerações, mesmo se considerarmos que “cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes”.

Por fim, vale destacar o timing perfeito do clube: durante o período de leitura desse livro, foi lançada uma nova tradução da obra nos EUA, que esgotou em apenas 1 dia, comprovando, mais uma vez, a relevância de Memórias Póstumas de Brás Cubas para o cenário literário e para nossa experiência como clube de leitura.

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