Sobre a leitura de Stephen King

Gabriel Brito
BLOG DO LA
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5 min readMay 15, 2019

No dia 23/05 nos reuniremos mais uma vez na LDM, dessa vez pra falar de Stephen King em Sobre a Escrita, obra que mistura autobiografia com dicas de escrita e mostra os bastidores e as memórias de um dos escritores mais populares de todos os tempos. Ler a obra de King após conhecer suas memórias ganha um tom diferente.

Stephen King (foto: arquivo pessoal, por volta dos anos 1970)

Mesmo sendo o mestre do terror — nosso gênero favorito, segundo uma pesquisa feita em 2018 — e tendo uma vasta obra que passa pela fantasia e pela ficção científica, poucos de nós se aventuraram por suas páginas, o que não impede ninguém ser impactado por ao menos uma adaptação de sua vasta obra. Pode ser um filme trash na Sessão da Tarde, uma série enlatada da madrugada da tevê ou o próximo blockbuster de palhaço demoníaco: King está em todas as mídias, em todas as telas. Mais do que isso, suas histórias são apaixonantes e são parte importante da cultura pop.

Chamada da série “Under The Dome”, adaptação de “Sob a Redoma” que foi exibida nas madrugadas da Globo em algumas ocasiões. Stephen King também atuou como produtor executivo da série. (foto: reprodução/TV Globo)

É este o sentimento que nos traz aqui. A seguir, publicaremos dois relatos dos nossos membros representando a descoberta, o impacto de suas adaptações, a fonte de inspiração e o amor por sua obra. Ambos representam leitores ao redor do mundo e gostaríamos de compartilhá-los com você.

Por Victor Lima:

“ser leitor de King é uma habilidade a se desenvolver, quase uma competência”

Jack Nicholson e suas sobrancelhas arqueadas na adaptação de Stanley Kubrick para “O Iluminado” (foto: reprodução/Warner Bros.)

“Vadiando pela internet, em uma das minhas muitas tardes improdutivas, encontrei um texto sobre bons autores de terror pelo mundo. O texto apresentava vários escritores e escritoras do gênero, dos mais clássicos aos mais contemporâneos, mas era bastante tendencioso e elogioso quanto a um senhor, cujo nome me saltou às vistas: STEPHEN KING. Foi a primeira vez que ouvi falar daquele homem e não me lembro de ter lido mais nada sobre ele e dele nos anos seguintes de ensino médio. Digamos que eu seja um admirador de King bastante tardio e, também, bastante amador. Uso a palavra “amador”, porque de fato, ser leitor de King é uma habilidade a se desenvolver, quase uma competência. Você tem que aprender a controlar a náusea, o suor nas mãos e na testa, a agonia na virilha e na boca do estômago, durante a leitura de seus livros psicodélicos e viscerais. Em meados de 2013, as coisas começaram a se desenrolar de uma forma peculiar. Ouvi, numa entrevista, um jornalista perguntar à minha cantora favorita, na época, se ela já havia assistido ao O Iluminado. Aquele nome não me era estranho e naquele mesmo ano, fui assombrado, em uma madrugada insone, na casa de um amigo, por um terror psicológico assombroso e confuso, estrelado por Jack Nicholson, com suas sobrancelhas assustadoramente arqueadas e seu sorriso de louco. Poucas semanas depois, um filme antigo e quase tosco, chamado Cemitério Maldito, foi a chama de pesadelos para mim. Descobri depois que ambos eram obras cinematográficas baseadas em livros malditos de Stephen King. Fiquei obcecado, percebi, visitando livrarias e sites de compras, que King é um autor caro no Brasil, mas navegando com um pouco mais de afinco, encontrei alguns contos disponibilizados por aí. Ele era o homem. Em 2016 eu comprei o primeiro volume da série Torre Negra, e em meu aniversário de 21, em janeiro de 2017, um amigo de infância me deu Sobre a Escrita, uma autobiografia de King carregada de bons conselhos para escritores, e foi um divisor de águas em minhas pretensões profissionais como escritor. Aprendi que eu não precisava ter medo de soar rude, de que rodeios são perigosos demais, e que eu poderia usar alguns palavrões e falar sobre peidos nas histórias. Isso soa verdadeiro. E quando, de fato, passei a ler mais livros de King, eu visitei suas histórias com as lentes que ele já havia me emprestado, e é isso, ele soa verdadeiro, soa humano. Eu leio as palavras do gênio criativo, leio as linhas do homem ordinário e vulgar, criador de horrores que assombram gerações.”

Por Coral Fortunato:

De lá pra cá eu já li 19 livros dele, o que nem chega na metade dos 64 que ele já escreveu até hoje

“Quando eu era criança, minha mãe me contou a história de Carrie. Ela tinha visto o filme anos atrás e considerava um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Eu achei a história fascinante, e quando descobri que o filme era baseado em um livro, procurei por ele em todas as livrarias e sebos, ate encontrar. E essa leitura foi o começo de um caso de amor que já dura mais de 15 anos. De lá pra cá eu já li 19 livros dele, o que nem chega na metade dos 64 que ele já escreveu até hoje (e o número continua crescendo).

O palhaço Pennywise na icônica cena de “It — Uma Obra-Prima do Medo” (1990), adaptação de “It — A Coisa” em formato de série, que foi posteriormente lançada como telefilme. (foto: reprodução/Green/Epstein Productions)

Além do estilo delicioso e da imaginação fantástica para criar as histórias mais envolventes, Stephen King consegue escrever livros com muitas camadas. Embora frequentemente lembrado como um autor de histórias de terror, sempre me pareceu que seus livros estão falando de coisas mais profundas. Usando palhaços assassinos para falar de amizade, ou sombras no escuro para abordar abuso infantil, King consegue tratar temas importantes e complexos de maneira subjetiva. Seus livros podem ser lidos como histórias fantásticas de terror, ou podem ser a ponte para a discussão de temas tão sérios como a natureza humana ou bullying entre adolescentes.

Uma crítica comum é que seus finais não estão à altura dos enredos de suas histórias. Mas sua maneira de encerrar os livros é sempre tão diversa que nunca sabemos o que esperar. Finais felizes, trágicos, inexplicáveis, simplórios, nunca sabemos que tipo de desfecho encontraremos ao virar as ultimas páginas. Seus finais nem sempre são chocantes ou inesperados, mas em seus livros, assim como na vida, importa mais a jornada do que o destino.”

Nos vemos no dia 23/05, às 19h30, na Livraria LDM de Vitória da Conquista — BA.

A obra de Stephen King é publicada no Brasil pela Editora Suma e está disponível nas unidades da LDM ou também online.

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