Uma selfie a 6 bilhões de quilômetros

Ricardo Alexandre Castro
BLOG DO LA
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3 min readNov 9, 2021

Hoje Carl Sagan estaria completando 87 anos. Provavelmente teria sido muito ativo durante os primeiros meses da pandemia, ajudando na divulgação científica das constantes novidades que se desvelavam durante as investigações iniciais, e apareceria em todos os veículos de informação, advogando em prol da necessidade de confiarmos e entendermos a ciência por trás da busca das vacinas e dos meios de prevenção à contaminação pela Covid-19. Seria um ávido gladiador contra a avalanche de fake news.

Mas, por obra de um conjunto de variáveis incontroláveis, foi acometido por uma forma de câncer (MDS) e mais tarde não resistiu a uma pneumonia, que encerrou prematuramente sua vida, aos 62 anos. Como uma criança que cresceu sem acesso à internet, que nem existia, ou um fácil acesso a bibliotecas, foi através da retransmissão de seu programa na TV, Cosmos, que conheci alguns mistérios do universo, suas maravilhas e o quanto ainda se precisava descobrir. A dublagem escondia sua voz gentil, mas afirmativa, que só vim a conhecer mais tarde, porém, a energia de suas apresentações e o esforço de apresentar uma ciência tão complicada numa forma não apenas inteligível, mas inteligente, foi suficiente para me colocar no caminho da ciência, do conhecimento e da docência.

Carl Sagan foi condecorado em vida com inúmeros títulos devido à sua expertise e engajamento com a pesquisa e a divulgação científica. Seu legado sobrevive e sobreviverá ao teste do tempo em seus escritos, assim como suas ideias e sua energia empolgante no constante exercício de incluir todos no universo da ciência, seja por pura curiosidade ou pelo interesse científico acadêmico. Sempre existiu espaço para todos em seu trabalho.

Em 1990, quando trabalhava na NASA, pediu que a última manobra possível da sonda Voyager I, com o que restava de combustível, fosse usada para girar a sonda na direção do nosso sol, para registrar uma última imagem do nosso planeta. “Pálido ponto azul” é um registro que mostra em perspectiva o quão insignificantes são nossas disputas internas, nossa ganância e o desprezo pela vida em favor da riqueza. O registro ainda não foi suficiente para alterar nossa percepção sobre nossas vidas, mas foi um alerta que ecoa através do tempo. Olhar para essa foto, hoje, é lembrar que o sucesso de nossa existência e dos avanços de nossa ciência só se fizeram possíveis com o trabalho conjunto de mentes brilhantes, não por serem extraordinárias, mas por colaborarem umas com as outras. Afinal, não precisamos de Jeff Bezos e seus tickets de 21 milhões de dólares para enxergarmos a magnitude da necessidade de preservarmos nosso pálido ponto azul na imensidão do cosmos.

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Ricardo Alexandre Castro
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