Sorva
Não preenchestes o que faltava. Sempre fui plena, intensa e dona das minhas vontades inconsequentes, não há quem diga o contrário. É que com o teu amor conseguistes me tornar maior do que eu era sozinha, agora transbordo, semeio, amparo. És meu verbo mais vigoroso, cuja redundância é necessária para que o anoitecer me afaste das lembranças solitárias e me traga as suas.
O plano que te coube continua sem tomadas, a cena flui tão bem que não tenho o intuito de transformá-la em algo líquido como esses clichês nauseantes. Teu abraço realmente me conforta, ficaria horas em silêncio só sentindo o cheiro que me enche o peito de saudade quando vou embora. Não preciso nem dizer o quanto és importante, o reflexo do teu afeto nos meus dias é límpido.
Confesso que divido meu plano sensível com angústias também, não estamos nem perto de entendermos o que na verdade nos uniu, isso me assusta. Não me lembro de não te ter por perto para partilhar meus pedaço. Nossas diferenças são diferentes, nunca foram suficientes para alimentar mágoas, são como se as acrescentássemos ao que faltasse no todo.
A corda bamba que evitamos nos impede de dormir brigados. Nem sempre o caminho mais turbulento e conflituoso é o difícil, a desconstrução do egoísmo leva mais tempo e zelo. Não aguentaria uma tempestade de indiferença onde mais cedo me provastes uma longa temporada de afeto. Te darei o meu enquanto aceitares.
Minha essência sonhadora aprisionada numa idade adulta, ainda me permite que te dê o mais puro sentimento, sem promessas, sem planos e sem prisões. Ainda que tudo termine hoje, rogo aos céus que te volte em dobro todo afeto que me fez sentir amada durante esses anos juntos.