A maioria do que você sabe sobre proteína está errado

A “sabedoria” comum diz que quanto mais proteína você ingerir, melhor — e que a melhor proteína vem dos produtos animais. Mas esses são dois equívocos

Diogenes Junior
Diabetes & Alimentação
7 min readJul 21, 2019

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Vamos começar com algumas declarações. Escolha entre cada uma qual é verdadeira ou falsa:

  • Apenas carne e outros alimentos de origem animal contêm proteínas “completas”.
  • As dietas vegetarianas ou veganas são deficientes em quantidade de proteína, qualidade ou ambos.
  • Você deve ter certeza de comer muita proteína em cada refeição para uma saúde ideal.
  • Seu corpo precisa de uma quantidade fixa de ingestão de proteína todos os dias para você obter resultados.
  • O carboidrato desencadeia uma liberação de insulina e aumento de glicose de sangue, mas a proteína não.
  • Você precisa comer produtos de origem animal para conseguir aumento de massa magra e ganho muscular.
  • A definição de qualidade proteica considera os efeitos dos alimentos na saúde.

Como você se saiu? Independentemente de como tenha se saído, eu te respondo: cada uma dessas afirmações é falsa!

A “sabedoria” comum diz que quanto mais proteína você ingerir, melhor — e que a melhor proteína vem dos produtos animais. Esses dois equívocos sustentam todas as declarações falsas acima.

Vamos começar com uma revisão da biologia de ensino médio:

Existem vinte e um aminoácidos (que são os blocos que constituem proteínas), nove deles são “essenciais”, o que significa que nossos corpos não podem produzi-los. Eles devem vir da comida.

Embora seja verdade que os aminoácidos essenciais são geralmente encontrados em porcentagens menores nas plantas do que nos alimentos de origem animal (carnes e ovos), quase todos os alimentos vegetais contêm proteínas completas, como nos feijões, lentilhas, certos grãos integrais e sementes, têm altas concentrações.

Sobre a quase histeria de obter proteína suficiente, pesquisas epidemiológicas mostram claramente que estamos recebendo proteína diária completa em aminoácidos e bem além das exigências e recomendações de saúde. A grande questão sobre o consume de proteínas na verdade não é o “mais” e sim a “melhor” proteína.

As noções comuns de que a proteína combate obesidade, ajuda no controle de glicemia no diabetes, e que se transformam em músculos, estão todas parcialmente equivocadas: o excesso de calorias da proteína não se transforma em músculo; elas se transformam em gordura! Para que a proteína se torne músculo, ela deve ser necessária em resposta às demandas físicas desse músculo. Uma vez que a reserva de carboidrato comparativamente pequena conhecida como glicogênio está cheia, e uma vez que o corpo “queima” calorias como calor, é iniciado um processo que armazena calorias como gordura. Coma muita proteína de sobra e você ganhará gordura de sobra.

É verdade que a proteína é baixa em glicose ou não-glicêmica — isto é, não eleva diretamente os níveis de açúcar no sangue. Entretanto, com o excesso, aumenta consideravelmente a produção de insulina natural, ou seja, transformar gordura em energia (glicogênio), aumentando a longo prazo a taxa de açúcar no sangue.

A ciência também mostra que até mesmo uma dieta exclusivamente vegana, se for sensata e equilibrada, fornece todos os aminoácidos que você precisa, ou até acima dos níveis requeridos.

Aminoácidos essenciais podem ser entregues separadamente entre as refeições ao longo do tempo e armazenados no fígado e músculos. Alguns podem ser usados sem outros e outros não, mas — como os materiais em um canteiro de obras — quando são entregues em momentos diferentes um do outro, com diferença de vários dias, não é algo importante, desde que estejam todos lá quando for necessário. Em outras palavras, preencha as cotas de aminoácidos essenciais comendo uma variedade de alimentos ao longo de alguns dias, que o corpo saberá como trabalhar.

Portanto, não: proteína completa de um único alimento não é necessária em todas as refeições ou mesmo todos os dias. Os maiores músculos do reino animal, pelo menos em terra, pertencem aos herbívoros. Nós fracassamos por milênios na química, mas a natureza pode fazer isso: a biologia transforma folhas em elefantes e grama em um cavalo forte;

Finalmente, e isso é importante: a maioria das referências à “proteína de alta qualidade” considera apenas a qualidade da proteína no alimento — o número, a concentração e a digestibilidade dos aminoácidos essenciais que ela contém.

Por exemplo: a quinoa e o amaranto, que são os grãos da moda hoje em dia, são realmente alimentos ricos em proteína, porém uma proteína que não é fácil do corpo humano digerir e absorver de forma plena.

A definição bioquímica engana as pessoas para todas as prioridades alimentares erradas.

Comemos alimentos, não nutrientes, e os melhores alimentos são aqueles que contribuem para a vitalidade e a longevidade. A mais alta qualidade é aquela que promove mais saúde. A definição, portanto, deve ser atualizada para alinhar as referências a “fontes de proteína de alta qualidade” com os alimentos que fornecem a proteína de que precisamos, aqueles que melhoram de maneira mais confiável a qualidade de nossa saúde e protegem a do planeta. Enquanto tivermos toda a proteína que precisamos deles, as plantas serão os alimentos aos quais a “qualidade” deve se referir.

Alimentos ricos em proteínas digestíveis que não são de origem animal:

Leguminosas, como feijão, grão de bico e ervilha; entre eles, destaca-se a soja; Cereais integrais e derivados, como arroz, trigo, centeio, cevada; As sementes oleaginosas, como amendoim, gergelim, castanha de caju e girassol; Frutas (desde que comidas inteiras ao invés de sucos); Legumes como brócolis e vegetais verde escuros, também há proteína no abacate, coco e em cogumelos.

Qual a melhor proteína?

Entre os 21 aminoácidos existentes, o que melhor é digerido pelo nosso corpo é a Leucina, e o alimento que tem ótimas quantidades dessa proteína é o queijo. O queijo (em especial o queijo parmesão) tem na média 26g de proteína a cada 100g, e tem mais de 300 calorias.

Melhor vegetal para obtenção de proteína:

O vegetal possui 49% de proteína em sua composição nutricional, liderando o ranking, os vegetais verdes escuros são as principais fontes de proteínas. Além disso, os vegetais verdes escuros também são fontes de ferro, cálcio, fósforo e vitaminas A e B que agem em prol de um organismo equilibrado.

Os diferentes momentos da absorção de proteínas pelo nosso corpo, o turnover proteico:

Um erro comum disseminado atualmente é a ideia de que quanto mais proteína, mais os músculos serão desenvolvidos, ou melhor o corpo irá absorver a glicose na corrente sanguínea.

Para quebrar este paradigma deve-se entender a bioquímica por trás de um processo chamado turnover proteico. Quando realizamos uma refeição completa ocorre diversas sinalizações, entre elas o efeito anabólico da insulina, estimulando vias envolvidas na síntese de macromoléculas. Porém, após a digestão e absorção dos nutrientes da refeição, o processo anabólico passa a diminuir, e hormônios catabólicos como glucagon são liberados, responsáveis pela quebra de macromoléculas para fins energéticos, por exemplo.

No esquema acima podemos identificar uma pessoa que tem maior síntese proteica muscular (vermelho) o que pode resultar em hipertrofia, e outra com mais degradação proteica muscular (azul), esta condição pode ser por oriunda de uma dieta não balanceada, com proteínas de baixa qualidade, ou alguma doença que prejudique a sinalização das vias anabólicas, como um diabético tipo 1 sem insulinoterapia. Vale lembrar que o exercício aumenta as capacidades de síntese proteica.

A partir disso cria-se a ideia de que quanto mais proteínas comermos, mais síntese proteica acontecerá, mas não é bem assim. Um estudo mostrou que, de fato, a SPM é maximizada com o consumo de 20–40g de proteína, mas que valores acima disso apenas aumentaria a ureogênese e a oxidação de aminoácidos, não tendo efeitos aditivos no processo de hipertrofia, fenômeno chamado de resistência anabólica, agravado ainda mais pela terceira idade. Estudos recentes mostram a importância do fracionamento das proteínas ao longo do dia e não apenas o consumo de uma refeição com os valores citados acima, justamente para que o estímulo da síntese proteica aconteça de forma subsequente a ingestão de alimentos e/ou suplementos fontes de proteína em diversos momentos.

A International Society of Sports Nutrition (ISSN) recomenda a ingestão proteica de 0.8 g/kg para indivíduos sedentários, 1–1.6 g/kg para pessoas que praticam algum tipo de atividade física e atletas de resistência e 1.6–2 g/kg para atletas de força.

ATENÇÃO

Esse texto foi escrito por uma pessoa com Diabetes tipo 2, baseado em pesquisas e experiências próprias do autor, que não é médico, nem nutricionista. A sua consciência sobre o Diabetes tipo 2 deve ser pautada pelo acompanhamento do seu médico ou profissional de nutrição, além de observar os sinais do seu próprio corpo com as experiências que tem no dia a dia. O objetivo desse texto é apenas informar e apresentar um novo paradigma, e não deve ser usado como uma palavra final sobre a doença. Como qualquer informação presente na internet, sempre pesquise, analise fontes e encontre o que serve ou não para você, sempre pautando, perguntando e confirmando suas certezas com a ajuda de um especialista.

FONTES E REFERÊNCIAS

https://heated.medium.com/most-of-what-you-know-about-protein-is-wrong-2e8950c78c48

https://www.nytimes.com/2017/07/28/well/eat/how-much-protein-do-we-need.html

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31066877

https://med.stanford.edu/news/all-news/2019/02/5-questions-gardner-on-meat-protein-and-environment.html

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22215165

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9416027

https://medium.com/@betimcultural/prote%C3%ADnas-a47de59b0995

https://medium.com/@cmilfont/proteinas-de-origem-animal-sao-as-melhores-fontes-268fc2329c52

https://medium.com/bf-eventos/turnover-proteico-e-consumo-de-prote%C3%ADnas-de3cf8cfd198

https://www.conquistesuavida.com.br/noticia/folhas-poderosas-ranking-dos-6-vegetais-com-maior-concentracao-de-proteinas_a4765/1

https://www.tuasaude.com/alimentos-ricos-em-proteinas/

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