O dia em que o Diabetes me proporcionou amigos

Vítor Moura
Diabetes tipo isso!
4 min readJul 21, 2019
(Foto: Divulgação NR)

Parece até estranho este título, mas é verdade, pelo Diabetes eu fiz diversos amigos, principalmente em uma ocasião que eu não queria participar.

Era começo de 2011, na época eu tinha 14 anos, terminava o ensino fundamental e era diabético há pouco mais de dois anos. Já me aceitava facilmente como portador de pessoa mais doce que as demais, mesmo que na escola, após meus pais questionarem o porquê de eu precisar comer separado dos demais.

Vamos lá, abrir uns parênteses na história. Desde a época que descobri ser diabético, entre 11 e 12 anos, até meus 14 eu fui obrigado a comer meu lanche no recreio (intervalo em algumas instituições) na secretaria da escola, um lugar que reunia a diretoria e sala dos professores também.

Mas por que eu tinha que me isolar dos amigos se eles se divertiam no tempo livre enquanto eu precisava ficar enclausurado? Bem, onde eu estudava era dado o lanche, não oferecido, mas a única opção de lanche, um dia pão com manteiga, no outro um pedaço de bola, em mais um bolachas, ou seja, carboidrato puro, e os sucos (às vezes também leite com achocolatado) todos eles já adoçados com açúcar.

Sim, eu não tinha opção nenhum de alimentação in(ex)clusiva para diabéticos, então precisava levar meu lanche de casa e, para não deixar os outros estudantes com vontade (palavras da instituição acreditem).

Daí quando estava no 9º ano meus pais e eu fomos conversar com a orientadora da série que me autorizou de passar o intervalo como qualquer criança naquela escola. Bem, voltando à história principal.

Então apareceu uma oportunidade de um acampamento de férias, naturalmente com diversas crianças e adolescentes que você jamais viu na vida, o que causa um certo temor na maioria das pessoas dessa idade, o medo do novo e do outro.

Esse acampamento de férias ocorreria em janeiro de 2012 e primeiramente fiquei sabendo dele pela minha nutricionista, porque o evento seria apenas para pessoas com diabetes, imagina, uma viagem de cinco dias em um lugar sensacional, com pessoas que tem a mesma vivência que a sua, demais, não? Na época não pensava tanto assim.

Minha primeira resposta foi não, não estava a fim de ir, mesmo sabendo que a organização do evento estava disposta abrir uma vaga para mim, já que no evento podiam participam meninas e meninos de 9 a 14 anos, eu teria 15 quando ele fosse acontecer.

Meus pais começaram a tentar me convencer de todas as formas, seja pelo acampamento com várias atividades e brincadeiras, ou por poder compartilhar as experiências com o diabetes com as pessoas que também tinha diabetes.

Repensei minha decisão, acessei o site e redes sociais do local (NR para quem quiser saber), lá em Minas Gerais, me motivei para ir nesse lugar, resolvi dizer sim e arriscar, para mim aquilo era uma superação e tanto.

Antes do dia chegar aconteceram muitas palestras na ADJ (Associação de Diabetes Juvenil) e em outros locais com o intuito de informar os pais e filhos sobre a importância em dar essa liberdade para as crianças de conhecer algo novo é muito normal que mães e pais se tornem mais protetores do que o habitual devido às condições de seus filhos.

Passado esse tempo chegou a hora de embarcar e enfim conhecer essas pessoas e esse lugar e sem celular ainda, primeiro porque o que eu tinha era fraco de sinal e não era permitido levar.

(Foto: Divulgação NR)

Falei que eram cinco dias, certo? Se fosse resumir cada dia em uma frase seria:

1. Vamos lá, né!

2. Pessoal do meu quarto é legal.

3. Caramba, parece que já moro aqui.

4. Carnaval fora de época!

5. Ah não! Passou muito rápido

O legal de lá é que foram mais ou menos 80 pessoas, fora os médicos e monitores do NR que estavam lá para manter a ordem e a diversão em sintonia. Todas essas crianças e adolescentes foram divididas em quartos de acordo com a faixa etária de cada um, ou seja, fiquei com os mais velhos e eu era um dos mais experientes entre os acampantes, o segundo para ser mais exato e realmente todos eles eram ótimas pessoas.

O quarto tinha cinco beliches e nove pessoas dormiam lá, nós e um monitor fixo (não me recordo seu nome, mas guardo como uma pessoa incrível). Ali não tinha tempo ruim, eram brincadeiras, cada um contava suas histórias e criamos uma família naquele local.

O NR é um lugar grande e com diversas opções de lazer, não é propaganda isso, mas a pura verdade. Quadras poliesportivas, salão de jogos, trilha, tirolesa, canoas, refeitório (e que refeitório) com seis refeições diárias! Engraçado e ao mesmo tempo sensacional, comíamos quase o tempo todo, claro com o controle de cada um e com todos as pessoas lá envolvidas nos auxiliando.

Teve também um jogo pela cidade de Sapucaí-Mirim, que é muito pequena, mas acolhedora demais, teve trio elétrico com uma espécie de pré-carnaval pelas ruas da cidade, enfim, uma das melhores experiências que guardo na minha vida.

Resumo da história: não deixe de fazer as coisas por receio. Se ficar naquela dúvida entre arriscar ou ficar parado, pense no que aquilo pode agregar, porque se eu escolhesse não ir não teria conhecido um lugar fantástico com pessoas maravilhosas que compartilham do mesmo companheiro de vida que eu tenho.

E lembre-se, o diabetes está com você, não contra suas vontades, ele tem que ser tratado como um aliado seu e assim sua vida melhorará muito.

--

--