“O mais curioso do Diabetes é que em lugar de me desanimar, me deu um empurrão para amar ainda mais a vida”
Daniel Ramalho descobriu o diabetes aos 33 anos e encontrou no próprio DM a motivação de sua vida
Normalmente o diabetes tipo 1 é diagnosticado em crianças e adolescentes, mas com Daniel foi diferente, ele descobriu ser diabético aos 33 anos.
Daniel Ramalho, jornalista e pedagogo agora com 45, pode ser considerado um exemplo útil no trabalho de conscientização da doença e de mostrar para outras pessoas com a mesma condição de que é possível viver feliz e propagar essa felicidade adiante. Atualmente ele é Conselheiro Executivo da ADIFAT-Associação dos Diabéticos e Familiares de Tanguá, no Rio de Janeiro.
Ao Diabetes tipo isso! Daniel contou algumas histórias sobre sua vida após o DM1, como surgiu a ideia para criar um blog quer falasse do diabetes de forma simples e enfatiza que o principal passo é se aceitar do jeito que é.
Confira a primeira parte da entrevista
Quando descobriu ser diabético? Como lidou com a descoberta na época?
Descobri o diabetes tipo 1 aos 33 anos. Um pouco tarde para esse tipo de diabetes, mas igualmente repentino. Talvez por essa razão, não tenha acreditado muito e minha primeira reação tenha sido a negação: achava que haviam trocado meu exame. (risos). Mas logo aceitei e passei a me cuidar. Difícil no início, mas com o tempo fui pegando o jeito.
Você já enfrentou preconceitos e/ou problemas pessoais e profissionais, devido o Diabetes?
Acredito que todas as pessoas com diabetes lidem diariamente com os preconceitos e mitos que rondam a condição. Alguns que entram por um ouvido e saem pelo outro, mas outros que realmente nos chateiam.
Não acredito que tenha chegado a perder oportunidade de nada pelo diabetes. Pelo contrário, muitas portas se abriram em virtude da forma como o DM me fez enxergar a vida. Isso é o que importa: se virmos o diagnóstico de maneira otimista, sem nos entregarmos ao desânimo, nos tornamos capazes de ver oportunidades e benefícios que não são possíveis de serem vistos se decidimos vendar os olhos com o vitimismo e a negatividade.
Mitos irritam e preconceitos entristecem, mas sempre aproveito tais oportunidades, para ensinar às pessoas que os difundem a propagar informações corretas e que possam combater tanta coisa equivocada que se fala sobre o diabetes por aí. Informação e persistência são grandes armas que temos para diminuir a força de mitos e preconceitos.
Quando falam que Diabetes tem cura, você responde…
Um dia terá, mas por enquanto, informe-se corretamente e deixe de dar ouvidos aos charlatões.
Como considera seu controle quanto à alimentação: bom, aceitável ou ruim?
Acredito que seja bom, não me excedo muito, mas tampouco transformo minha alimentação em algo radicalmente restrito. Equilíbrio é a palavra-chave. Sempre podemos melhorar, mas penso que radicalizar pode desanimar quando os inevitáveis tropeços ocorrerem. Em lugar disso, assumo minha humanidade, faço o meu melhor e corrijo aquilo que não saiu bem. Dessa forma, além de cuidar de meu corpo, também faço bem à minha mente.
Tem alguma história curiosa de sua vida relacionada ao Diabetes?
Tem uma do barbeiro que me perguntou se era verdade que quem tinha diabetes ficava “fraquinho”, referindo-se, obviamente, ao desempenho sexual. Levei na esportiva, pedi pra ele sentar na cadeira e falei sobre a realidade de quem convive com o diabetes e que quando nos cuidamos, essa possibilidade é tão comum quanto à de uma pessoa que não tem a condição. Mas levei uns 15 ou 20 minutos para falar sobre cada questão que queria. Garanto que hoje ele propaga coisas mais corretas sobre o diabetes (risos).
Teria muitas histórias curiosas para contar, mas acredito que o mais curioso do diabetes é que em lugar de me desanimar, me deu um empurrão para amar ainda mais a vida…
Você frequenta algum grupo ou associação que tem como foco o auxílio a pessoas com Diabetes?
Estou em contato com algumas associações. Faz parte do meu dia a dia e, atualmente, sou Conselheiro Executivo da ADIFAT-Associação dos Diabéticos e Familiares de Tanguá-RJ.
Se alguém que acabou de ser diagnosticado com Diabetes te pedisse um conselho, qual você daria?
Diria que o diabetes existe e não há nada que façamos que possa fazê-lo desaparecer. Então, não adianta fugir da nossa responsabilidade. Precisamos enfrentá-lo, querendo ou não.
A diferença é que se ficarmos tentando nos esquivar do inevitável, em algum momento seremos agarrados e maltratados por nossa disfunção. Vi e nunca esqueci o que acontece e o lugar para o qual vai quem insiste em ignorar o diabetes. Eu não quero isso para mim e nem o desejo a nenhuma pessoa.
Se, por outro lado, aceitarmos nossa condição e encararmos a enfermidade de frente, um novo mundo se abre diante de nossos olhos. Não é um mundo perfeito, pois isso não existe, mas um lugar onde descobrimos nossas qualidades, forças que nem sequer imaginávamos possuir, nossa capacidade de nos reinventarmos, amarmos a nós mesmos e a quem nos ama, enfim, um mundo onde certamente encontraremos bem-estar, felicidade e coragem para levantarmos todos os dias, por mais difícil que a vida possa estar.
O sofrimento faz parte da vida, assim como a alegria e a superação. Cabe a nós decidirmos o que priorizaremos em nossos corações, em nossas palavras e em nosso dia a dia com o diabetes.
Quem é a pessoa que mais te acompanha e fica em cima para te ajudar no controle glicêmico?
Eu mesmo. Tomo a responsabilidade do tratamento inteiramente para mim. Minha esposa me ajuda, minha filhinha me inspira, mas quem toma as atitudes sou eu. Não me entrego. Desde o início assumi essa postura. Sei que em alguns momentos precisamos da ajuda de outras pessoas. Peço sem problemas, mas jamais colocarei minha responsabilidade nos ombros de outra pessoa. Não me sentiria bem com isso. Só quem me acompanha é o meu médico, conversamos bastante e ele me dá uma bronca, se mereço. Ele sabe que a responsabilidade é minha e que eu a assumi.
Ter diabetes é…
Aprender, diariamente, que na vida cada passo importa. Cada caminho leva a um destino e os obstáculos sempre existirão. A única forma de chegar ao fim dessa estrada com a certeza de uma vida plena e feliz é encarando cada adversidade. O medo pode surgir, mas a coragem se cria onde há vontade de enfrentar os temores. Cada pequeno passo dado é uma grande conquista para quem precisa trilhar o caminho da resiliência e da felicidade.
Diabetes Esporte & Natureza, um blog dedicado à vida
Daniel Ramalho é dono do blog Diabetes Esporte & Natureza e desde 2014, como ele mesmo denomina, busca motivar e auxiliar os portadores de diabetes em sua vida cotidiana, sempre buscando aliar controle glicêmico e felicidade.
O Diabetes tipo isso! também buscou saber de onde surgiu a ideia de criar um blog voltado ao diabetes e quais são as dicas do autor do premiado blog para quem quer discursar sobre DM. Confira abaixo a segunda parte da entrevista
Quando surgiu a ideia de criar a página?
O Diabetes Esporte & Natureza foi uma consequência da minha frequência nas redes sociais. Participava de alguns grupos sobre diabetes e vi que eu pensava de uma forma diferenciada da maioria, sempre positivamente, e que muitas vezes gerava algum impacto benéfico a algumas pessoas com um simples texto ou palavra minha.
Como sempre gostei de praticar esportes (meu pai foi atleta e professor de educação física e me motivou à prática desde criança), procurei grupos ou blogs de diabetes que abordassem esse tema e não encontrei. Mais tarde encontrei um, mas com um foco diferente, no atleta de alto rendimento e profissional. Eu buscava algo que falasse daquele carinha que se exercita pela simples vontade de se mover e se cuidar. Os tantos milhões de pessoas que chegam de seus trabalhos e trocam de roupa e vão correr, pedalar ou nadar, só que com um objetivo a mais: controlar o diabetes.
Unindo a facilidade de escrever, a formação em jornalismo, uma trajetória de amor ao esporte, ao teatro, à música e, como educador, muita vontade de aumentar a voz dos que defendem uma visão mais positiva perante a vida, criar o blog me pareceu a melhor forma de unir em um só lugar tudo aquilo que havia aprendido ao longo dos, então, 40 anos muito bem vividos (risos).
O Diabetes Esporte & Natureza é isso: a união de tudo aquilo que sou, acredito e do que posso fazer para ajudar a quem ainda não abriu os olhos para o fato de que há uma vida muito feliz a ser vivida, mesmo com diabetes. Só depende de nossa decisão.
Espero estar dando empurrõezinhos a muitas pessoas para que decidam viver e aprender com as dificuldades.
Algum outro blog/site/revista te inspirou para criar o DEN?
Frequentava bastante o grupo Diabetes & Diabéticos, da Carol Freitas de Belo Horizonte-MG. Ali percebi que tinha algo a contribuir com outras pessoas também. A página Super Diabético, do Gabriel Ciarelli, também me inspirou bastante. Essa pegada positiva do DEN me levaria até a fazer uma pós-graduação em Psicologia Positiva, ou seja, otimismo e positividade são as matérias-primas do DEN.
Qual conselho você dá para alguém que quer falar sobre o tema Diabetes em blogs/sites/revistas?
Estude. A vontade de ajudar, de querer motivar ou ensinar algo é muito nobre, mas se, previamente, não fizermos o “dever de casa”, pode-se colocar vidas em risco. O simples fato de conviver com o diabetes pode até render um post bonitinho ou outro, mas o que vai fazer um blog, canal ou qualquer outro meio que se escolha para falar sobre a condição, ser relevante e responsável, é a dedicação ao conhecimento sobre o máximo de questões que englobem o diabetes.
Acho muito positivo, bacana mesmo, que tanta gente queira falar sobre o tema atualmente, mas deve-se tomar cuidado, pois trata-se da saúde e da vida das pessoas às quais pretende-se influenciar positivamente ou levar informações. Buscar fontes confiáveis e a orientação de profissionais de saúde competentes são bons hábitos para quem tem a intenção de trilhar o caminho da Comunicação em Saúde.
Qual a melhor história que você contou no DEN?
Sinceramente, não sei (risos). Faço tudo de uma maneira bem espontânea. Procuro ser o mais natural em meus textos e não posso dizer que há uma história melhor que outra… Cada uma é muito importante naquele momento, tanto que mereceram ser publicadas. Gosto muito de um texto que fiz contando um pouco da minha trajetória no esporte — “Esportes na Infância: Forjando Guerreiros”, mas não posso afirmar que é o preferido.
Seu blog recebeu o prêmio de melhor blog de Diabetes em 2019. Qual a sensação de receber esse reconhecimento?
Recebi o reconhecimento desse trabalho por parte da Mytherapy / Smartpatients, organização com base na Europa, que atua na questão da adesão de pacientes ao tratamento de várias questões de saúde, e me senti muito honrado em receber tal selo. Sem dúvida, dá um grande ânimo para seguir adiante com um trabalho de formiguinha, na direção de uma influência positiva na vida de quem convive com o diabetes.
Atualmente, estou mais focado no trabalho com as associações, incentivando a abertura de mais e mais instituições através de palestras e participação em eventos. O mundo virtual é importante, mas nada substitui esse contato presencial, o papo olhos nos olhos com as pessoas.
Enfim, trabalho em várias frentes e, atualmente, procuro equilibrar mais as atividades do mundo real e virtual. É uma questão de humanidade e também de saúde mental: isolar-se em home offices não é nada saudável.
Antes de encerrar gostaria de agradecer muito ao Daniel Ramalho pelo suporte e toda a atenção em responder às perguntas e mais entrevistas acontecerão no Diabetes tipo isso! Abraços e celebrem a vida sempre!