A dança das relações

Klyns Bagatini - @dialetos
Dialetos
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3 min readNov 6, 2019

Uma reflexão sobre o movimento nas relações humanas

Tenho uma curiosidade insaciável sobre como as relações humanas funcionam e confesso que faço da minha vida um verdadeiro laboratório. Um experimento aqui, outro ali, e uma série de reflexões a respeito das causas e efeitos daquela situação vão me ensinando, pouco a pouco, como essa maravilhosa complexidade acontece.

Além disso, sou um grande fã das analogias, e por algum tempo imaginava as relações como um jogo de xadrez. Você faz o seu movimento e aguarda o movimento da outra pessoa. Alguns são mais certeiros, outros mais arriscados. Alguns te fazem “perder peças”, outros te fazem “ganhar peças”. Há muita estratégia e decisões lógicas. Há muita expectativa e tentar se antever ao que a outra pessoa fará.

Por muito tempo vivi relações assim, buscando um equilíbrio nas peças (ou estar “vencendo”), calculando milimetricamente cada movimento, refletindo sobre o próximo movimento que viria e como eu reagiria a ele, entendendo quais peças eu precisaria “sacrificar” para continuar dentro do jogo, entre outras questões.

A questão é que as relações são muito mais fluidas que esse jogo. Há pessoas que fariam (ou esperariam) vários movimentos até que se engajem na “partida”. A quantidade de peças mudaria conforme o dia, o humor, o envolvimento. Nem sempre haveria estratégia. Nem sempre haveriam decisões lógicas. Era como querer encaixar um navio numa linha de trem.

Hoje vejo as relações como uma dança. Os movimentos existem e são muito presentes, mas eles não acontecem necessariamente numa ordem ou lógica pré-estabelecida. O ritmo pode mudar constantemente e atender às mais variadas formas de humor, proximidade, necessidades e expectativas.

Talvez sozinha ou com suas amizades mais próximas você faça seu próprio show da Broadway, mas em relações novas você mal consiga mexer os braços. Talvez você, dançando com um par, seja um pouco atrapalhada e pise em um pé aqui, tropece em algum lugar ali. Talvez você seja a pessoa que gire e faça mil piruetas, mas quando a música fica lenta, seu coração dispara e você fica com medo.

Há aquelas pessoas que você encontra e a dança parece acontecer naturalmente. Quase como se vocês tivessem treinado antes. Vocês gostam do mesmo ritmo, um passo leva a outro, a “condução” da dança flui entre vocês e o tempo parece voar.

Há aquelas em que você insiste em dançar, mas parece não querer fluir. A música não encaixa, um pé fica mais rápido que o outro, você tromba com as pessoas ao redor…

Há também as que preferem dançar consigo mesmas, curtir o som e o momento, te fazer companhia pela presença e nem sempre pelo contato.

E há todas essas pessoas numa só. Em mim. Em você. E todas estão em movimento, buscando uma única coisa: fluidez.

Não importa se você tá dançando mais tempo com você mesma.
Não importa se você tá toda atrapalhada ou envergonhada.
Não importa se você tá aprendendo ou ensinando os passos.
Não importa se você tá conduzindo mais do que sendo conduzida.
Não importa se você tá dançando rock ou forró.
Não importa se você tá no meio da pista ou no cantinho.

Você sente que flui ou que trava?

Se tá travando, talvez não seja a hora dessa dança.

Se tá fluindo, deixa. E aproveita.

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Klyns Bagatini - @dialetos
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Gosto de escrever sobre relações, inteligência emocional e autoconhecimento