Diário de um Ansioso Social

Klyns Bagatini - @dialetos
Dialetos
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3 min readApr 24, 2022

Uma reflexão sobre autenticidade

Inktober Day 10 by Ashleigh Green (Dribbble)

Começo essa reflexão às 2 da manhã de um sábado, no segundo Carnaval do ano. Momento esse que, ao invés da maioria das pessoas próximas a mim, eu estou em casa terminando uma maratona de vídeos sobre fobia/ansiedade social. Os vídeos se somaram a reflexões das últimas semanas e caíram num “Teste de Fobia Social” que encontrei na internet.

Perguntas do tipo:
- Seu medo de constrangimento o impede de fazer coisas que quer fazer?
- Você sofre por antecipação quando sabe que tem de ir a um evento social?
- Você evita situações sociais que lhe causam ansiedade?

Não foi novidade para mim acabar marcando “Sim” para a maioria delas e também não estava em busca de um diagnóstico, mas confesso que “reacender” o tema tem gerado algumas reflexões importantes.

Em um dos vídeos, “Where Social Anxiety Begins”, do canal HealthyGamerGG no Youtube (indicado por um amigo também em uma reflexão profunda, mas de outro assunto), um psiquiatra traz um estudo de caso e aproveita para explicar um pouco do que acontece em termos neurológicos com quem convive com a ansiedade social.

Resumidamente, temos um “modo normal” de comportamento e um “modo defensivo” e, para quem tem esse desafio, o modo “defensivo” é ativado quando as interações sociais começam. Esse gatilho vai variar de pessoa para pessoa, de interação para interação, mas acaba seguindo a mesma lógica.

Acontece que, geralmente, em interações online, nosso cérebro acaba tendo menos desses gatilhos e acaba ficando mais tempo no modo “normal”. E é por isso que as comunidades online e as redes sociais acabam sendo muitas vezes um refúgio para quem apresenta esse tipo de ansiedade.

Desde muito novo eu me lembro de reparar essa diferença no meu comportamento. Como eu conseguia interagir com facilidade com meus amigos no MSN e o quanto era difícil reproduzir o mesmo comportamento na escola, no outro dia. Tanto que as primeiras vezes que eu fui vulnerável sobre meus sentimentos foi assim, online. Quem me conhece nos “dois mundos” provavelmente percebe essas diferenças.

Talvez o que não saibam é o quanto essa diferença incomoda. O quão frustrante é não conseguir se expressar em determinadas situações e círculos sociais. A sensação de estar “preso” dentro de si mesmo.

De lá pra cá, muita coisa evoluiu. Muita mesmo. E muita coisa permanece. Isso não me impede de viver uma boa vida, de desenvolver relações verdadeiras, de estar nesses espaços sociais, de correr atrás do que eu realmente quero, mas continua sendo uma acompanhante constante. Acho que com dois anos de pandemia ela voltou pra um pouco mais perto. Acho que especificamente hoje eu não estaria em casa no computador, agora às 02h30, se ela não estivesse.

O sentimento que veio com uma compreensão maior desses processos foi de alívio. É interessante entender esse processo como um “sequestro emocional” que, de uma forma torta, busca me defender das possíveis frustrações que as interações podem causar. Está sendo importante compreender esse desafio como uma questão de saúde mental. E é aliviante perceber que eu me sinto “eu”, verdadeiramente, no meu “modo normal” (e que vocês conhecem mais online que offline).

Eu decidi colocar essa reflexão no papel por três razões:

  • Como um registro e um exercício pessoal de “observar o observador”, seguindo uma das sugestões de como lidar com a ansiedade. Sair da mente para percebê-la;
  • Para compartilhar a mesma reflexão com pessoas que podem viver experiências parecidas e talvez ainda não tenham olhado a questão por essas lentes;
  • Para também levantar esse tema com as pessoas que não passam por esse desafio e muitas vezes não compreendem ou não notam esse tipo de comportamento nas suas relações próximas;

Hoje sinto que dei mais um passo nessa jornada em busca de uma vida mais saudável e autêntica. Sigo sem pressão e sem culpa, apenas com mais consciência e auto-compaixão. Obrigado por caminhar comigo até aqui. Vamos em frente e até a próxima ;)

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Klyns Bagatini - @dialetos
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Gosto de escrever sobre relações, inteligência emocional e autoconhecimento