O conto da xícara

Klyns Bagatini - @dialetos
Dialetos
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2 min readMay 11, 2018

“Olha, vó… vou te dizer uma coisa: tem poucas coisas no mundo que eu aprecio mais do que um café no início da manhã… Acho que eu prefiro um bom café a muita gente por aí.”

“Por que você diz isso, querida?”

“Ah, as pessoas são muito difíceis. Eu até tento, viu… Sabe o João? Então… ele não muda. Já perdi a paciência com ele…”

“Ai ai, minha neta. Vou te contar uma coisa: tá vendo essa xícara aqui?”

“Hum… Tô… Que que tem?”

“O que você vê nela?”

“Ah, não sei… Ela é branca, tem uma aba, tem café dentro… É uma xícara normal, vó.”

“O que você diria sobre o outro lado da xícara? O lado que você não tá conseguindo ver?”

“Ah, deve ser igual a esse, ué. Branco, de porcelana.”

“Dá uma volta na mesa e vem sentar aqui do meu lado.”

“Ai vó, acabei de acordar… E essa mesa é tããão longa…”

“Tá bem, tá bem... Vou virar ela pra você: o que você vê agora?”

“Hummm…! Tem um desenho do outro lado… e até dá pra ver uma rachadurazinha no canto.”

“Pois é, querida. Para mim, era uma xícara florida e um pouco antiga. Para você, era só mais uma xícara branca normal.”

“Ahm… É… E o que que isso tem a ver com a nossa conversa?”

“Tem tudo a ver. Estamos falando da mesma xícara, meu amor. Mas a nossa percepção sobre ela depende de onde estamos observando. E com essa percepção, assumimos que todo o resto é assim como a vemos. Nos limitamos a acreditar que pode haver outra coisa do outro lado.”

“Hm… É mesmo, eu fui meio precipitada, né?”

“Então querida, nossas relações são assim. Na maioria das vezes, conhecemos só um lado daquela pessoa e já assumimos o resto. E ficamos parados olhando só daquela forma, reclamando que ela não muda ou qualquer outra coisa que passe por nossa cabeça pequena. Mas vem cá, o que é mais fácil: esperar que a xícara magicamente vire para você (ou que alguém faça isso) ou sair do seu lugar comum e dar a oportunidade de enxergar um outro lado?”

“Ai, vó… Só você pra tirar filosofia de uma xícara…”

“São muitos e muitos anos tomando café, meu anjo. (;”

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Klyns Bagatini - @dialetos
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Gosto de escrever sobre relações, inteligência emocional e autoconhecimento