Para quando você se sentir insuficiente

Klyns Bagatini - @dialetos
Dialetos
Published in
5 min readMar 15, 2020

Porque às vezes a gente precisa se lembrar de algumas coisas

“Late Night Thoughts, por Rytis Jonikas no Dribble”

Beba água, tome sol e faça terapia. Você é tipo uma plantinha, só que com emoções complicadas 💛

Nós, humanos (ou plantinhas emotivas), temos três necessidades fundamentais:

Nos sentir…

  • Seguras o suficiente
  • Amadas o suficiente
  • Boas o suficiente

Encaramos essas necessidades todos os dias nas mais diversas interações conosco, com as outras pessoas e com o mundo. Gosto de enxergá-las como três companheiras de vida, que tem como objetivo nos manter atentos àquilo que nossa essência precisa para se expressar.

São missões que precisaremos viver ao longo da nossa jornada de evolução, afinal, precisamos sobreviver, nos relacionar e contribuir. Por isso, de tempos em tempos, somos confrontados com situações que põe à prova essas necessidades. Ou, para nós ansiosos, basta apenas a possibilidade de tais situações acontecerem.

Por exemplo, somos confrontados com:

  • Nossa necessidade de segurança quando passamos por situações de perigo ou ficamos com medo de ficar doentes, perder o emprego ou não conseguir garantir o mínimo necessário…
  • Nossa necessidade de aceitação, quando passamos por uma rejeição ou ficamos com medo de que alguém não gosta realmente (ou tanto quanto) de nós, ou não se sentir parte de um grupo (seu trabalho, sua família, suas amizades)…
  • Nossa necessidade de reconhecimento, quando recebemos uma crítica, ou ficamos com medo de estarmos sendo julgadas, ou de que em algum momento seremos “desmascaradas”, ou que não somos tão boas ou merecedoras quanto achávamos…

Situações como essa que, seja qual for a nossa “carapaça”, podem nos afetar e ativar diferentes gatilhos emocionais. A verdade é que nosso maior desafio está não com essas três necessidades, que são parte importante da nossa jornada, mas sim com o ser o suficiente.

Nos tempos atuais, com os diferentes mecanismos sociais que foram sendo utilizados, passamos a criar padrões altíssimos para todas as variáveis da vida humana:

  • Do ponto de vista da segurança, sempre há alguém mais rico, alguém mais saudável, alguém que vive em um lugar melhor, alguém mais seguro…
  • Da aceitação, alguém mais famoso, alguém que lida melhor com as pessoas, alguém com mais amizades, alguém que já encontrou sua “alma gêmea”…
  • Do reconhecimento, alguém que é mais “bem-sucedida”, alguém que é referência na mesma coisa que você faz, alguém que é um outlier, alguém mais produtivo…

Somado a isso, os incentivos que recebemos são por mostrar apenas o lado do sucesso. Você vê a pessoa que acumulou sua fortuna rapidamente, mas não vê as inúmeras que lutam todos os dias pelo sustento básico. Você vê a pessoa que encontrou uma história de amor de cinema, mas não vê as inúmeras que não sabem nem por onde começar. Você vê a pessoa que virou CEO com menos de 30 anos, mas não vê as inúmeras que ainda estão procurando um emprego.

Não que a gente não saiba disso. E de certa forma dá pra manter a vida rodando e lutando dia após dia conscientes disso e conscientes de que não precisamos nos medir com as réguas dos outros.

É que às vezes a gente não tá bem… E essas coisas encontram algumas brechas na nossa “carapaça” e começam a gerar alguns pensamentozinhos que a gente tem até vergonha de compartilhar…

“G R I S, por AOKURA no Dribbble”
  • Será que eu conseguiria dar a volta por cima se eu perdesse o emprego?
  • Será que eu vou conseguir viver o suficiente pra conhecer meus netos e curtir a vida com eles?
  • Será que meus amigos realmente gostam de mim? Ou só me aturam?
  • Será que um dia eu vou achar alguém que me ame do jeito que eu sou? Que eu sou digno de ser amado por alguém?
  • Será que eu sou importante pro grupo que eu faço parte (amizades, família, trabalho, igreja, banda, futebol…)? Eles sentiriam minha falta se eu saísse?
  • Será que as pessoas gostam do que eu faço? Aquele texto que eu escrevi, aquela apresentação que eu fiz, aquele projeto que eu entreguei… Foi legal mesmo ou só curtiram por “consideração”?
  • Será que o que eu faço é realmente útil pro mundo? Se eu deixasse de fazer, faria falta pra alguém?

Confesso que me peguei com algumas dessas perguntinhas rondando a minha cabeça nos últimos dias… É curioso, eu que defendo tanto o auto-cuidado, o deixar estar, o acolhimento… Que “moral” eu tenho pra poder falar sobre isso, se me deixei levar por esses medos?

É estranho você entender o processo, ter uma certa ideia de como lidar com ele, mas não ser capaz de controlar o que sente. Ou o que pensa.

O que me fez refletir… E compartilhar… E escrever… E perceber que algumas coisas precisavam ser ditas. Em essência, de mim para mim mesmo. Mas que só fariam sentido se pudessem ser compartilhadas.

Sabe, todo mundo se sente assim em algum momento. Até aquela pessoa, aquela fada sensata que você acha que nunca errou na vida. Sim, ela também pensa isso. Você não sabe quanto. Talvez mais que você. Até aquela pessoa que você olha e pensa “meu deus, Buda reencarnou nela”. Sim, ela também.

A pessoa mais rica do mundo também teme por sua segurança, a da sua família, tem medo de não viver tanto quanto gostaria, ou de perder sua fortuna, sua estabilidade.

O casal mais apaixonado do mundo também tem medo de perder um ao outro, de passar por frustrações, de em algum momento não ser mais amado.

A pessoa mais bem-sucedida do mundo também pensa de vez em quando que não vai conseguir, que vai fazer uma grande besteira e perder toda a credibilidade, que alguém vai aparecer e “desmascará-la”.

“Plant, por Sahil Sadigov no Dribbble”

No fim do dia, somos mesmo essas plantinhas complicadas.

Humanas. Imperfeitas. Sensíveis. Com medos e inseguranças.

Esses pensamentos vão vir de vez em quando. Lembre-se que eles provavelmente estão superdimensionados, mas eles só estão ali pra te alertar de três coisas:

  • Você quer se sentir segur@
  • Você quer se sentir amad@
  • Você quer se sentir reconhecid@

Eu suspeito de que a gente não consegue cuidar disso sozinh@s. Então, quando estivermos nos nossos bons momentos, vamos lembrar às pessoas que fazem parte das nossas vidas que…

Elas tem o suficiente (ou ajudá-las a conseguir)
Elas são amadas o suficiente (ou ajudá-las a perceber)
Elas são boas o suficientes (ou ajudá-las a crescer para se sentirem)

E quando estivermos nos nossos maus momentos, vamos conversar com as pessoas que fazem parte da nossa vida e compartilhar que estamos inseguros e com medo de algumas dessas coisas.

Assim, quando a bad bater por aqui, sei que posso contar contigo por aí.

E quando a bad bater por aí, você sabe que pode contar comigo por aqui.

Vamos mudar esse mundão a partir do cuidado.

Afinal, o diálogo e o afeto são revolucionários.

--

--

Klyns Bagatini - @dialetos
Dialetos

Gosto de escrever sobre relações, inteligência emocional e autoconhecimento