Blaxploitation com cara de sonho americano

Pedro Balduino
diariocritico
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3 min readJun 11, 2020

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Crítica do filme Meu Nome é Dolemite (2019)

Para ir além de apenas se divertir com essa comédia bacanuda estrelada pelo Eddie Murphy, é importante saber que Meu Nome é Dolemite (2019) se trata de uma grande homenagem a um dos principais símbolos do cinema blaxploitation setentista norte-americano: o ator, diretor, realizador, cantor e produtor de cinema, Rudy Ray Moore, mais conhecido pelo seu lendário personagem, Dolemite.

O gênero de cinema blaxploitation ocorreu durante os anos 70 com mais expressividade no nordeste dos EUA e era representado por filmes de baixo orçamento produzidos e estrelados por artistas negros, tendo comumente como público-alvo, o público negro. Era uma segunda tentativa de fazer o que a indústria pincelou nos anos 20 e 30 com os chamados “filmes raciais”, mas desta vez com negros encabeçando as produções. O resultado eram filmes de ação parecido com os exploitations italianos ou com as pornochanchadas brasileiras: atuações toscas, tramas exageradas, uma perseguição atrás da outra, sequências semi-pornográficas. Era um sucesso. No gênero se destacam obras como O Chefão de Nova York, os clássicos filmes de ação do Shaft e, claro, os filmes de Rudy Ray Moore como Dolemite, O Homem-Tornado, Petey Wheatstraw e O Retorno de Dolemite.

Em Meu Nome é Dolemite, a história segue o início da carreira de Rudy desde quando trabalhava numa pequena loja de discos, até se apresentar em turnês de stand-up, passando pelo sucesso com os discos de humor indecente até a louca e obsessiva insistência na ideia de realizar o próprio filme com pouquíssimo orçamento e zero experiência.

É nesta obsessão do protagonista que reside a verdadeira intenção desta cinebiografia: é uma comédia clichê e politicamente incorreta (apesar de muito mais polida dos que os filmes originais que a inspiram) que homenageia o gênero blaxsploitation explorando de forma bem caricata e sentimental a clássica jornada do sonhador que começa do zero e alcança o sonho americano de ser uma grande estrela de cinema. É bastante piegas em alguns momentos, mas funciona. E é engraçado que só.

Ilustração

Não tinha muito para onde fugir na hora de ilustrar esse filme. A figura de Rudy Ray Moore nos seus filmes e a forma que Meu Nome é Dolemite o caracteriza dentro da excentricidade de seu personagem mais famoso, garante todo o repertório visual necessário para uma ilustração bem caricata e divertida, que foi o que eu tentei trabalhar aqui com a representação da cabeça desproporcional ao resto do corpo (técnica clássica da caricatura) e as roupas muito cheias de dobras e vincos, próprias do estilo.

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Pedro Balduino
diariocritico

Autor e pesquisador em literatura infantil, cinema e História da Arte (UFRN), História e Semiótica (UniCamp).