#27. Saudosismo

Gabriel Tarrão
diariodiario
Published in
3 min readApr 29, 2020

Santo Antônio de Jesus, 27 de abril de 2020.

Me sinto saudoso.

Estar em Santo Antônio me remete a muita coisa.

Quando sento no mesmo quarto no qual passei madrugadas intensas de estudos, criações artísticas, devaneios e apreciação de corujas pela janela, me sinto renovado e munido das melhores lembranças do meu passado.

Tempos maravilhosos de Coopeducar

Esses dias eu resolvi pegar o carro e dar uma volta pela cidade (sem descer), só pra passar por alguns lugares que marcaram meus 4 anos morando aqui antes do retorno a Salvador.

Passei na frente da minha escola, que ainda está com a mesma cor verde desbotado e com a mesma grade frágil e pequena.

Passei pela frente da minha primeira casa aqui, na qual criei muitos encontros marcantes entre amigos e vivi experiências incríveis ao lado de pessoas que hoje não faço ideia de onde estão (louco isso né?). Várias gigs tocando Forfun com o preto (meu amigo Lucas, um dos maiores artistas que tenho a honra de dividir a vida). A flauta transversal de Felipe. Uns malucos que nem sei por que motivo brotavam lá em casa pra fazer bagunça. As gravações no meu Nokia C3 velho de teclado QWERTY.

Em frente à casa de Keith, uma das minhas melhores amigas da época de escola, lembrei das tardes entre amigos tocando violão, comendo besteira, se apaixonando, descobrindo perspectivas sobre a vida ou só falando mal de algum professor da escola.

No tempo em que eu não jogava, eu dava show.

Ao passar pelo Clube dos 100, lembrei de todos os treinos semanais. Da nossa infinita preguiça ao perceber que era dia de treino físico. Dos dias maravilhosos de treino técnico no campo de areia. Das duas copas Reconvale que vencemos, das artilharias, das disputas de pênalti e dos gritos de Lucas (um dos treinadores) me xingando por perder um gol feito.

Passei pela praça Padre Matheus. Lá, na minha época, ficava o Hot Dog de Paulão, lugar que marcou os mais diversos papos noturnos após as aulas intermináveis da Coopeducar, lugar que por muitas vezes só deixávamos às 20h (coisas do interior, né?). Em tempo, ainda não encontrei um hot dog melhor do que o de Paulão.

Já no caminho de volta pra casa, passei em frente à lanchonete de Guelo. Lá, parávamos após todos os babas (que aconteciam na casa do gênio Isaac) para beber a bomba baiana, um emaranhado delicioso de açúcar, corantes e gelo com resquícios disfarçados de açaí. Era libertador.

Depois disso, todo o caminho até minha casa me trouxe saudade. A minha primeira casa, aqui já citada anteriormente, ficava quase que do lado da escola. A casa que moro atualmente, na qual passei os últimos dois anos antes da volta a Salvador, é mais distante da escola. Esse fato me gerou lembranças maravilhosas com o meu melhor amigo, Wanclay. Voltávamos de moto pra casa e muitas vezes pela noite (lembro que uns 3 ou 4 dias da semana, nossas aulas terminavam à noite). A moto sessentinha já subiu muita ladeira pra chegar no Andaiá. Um frio retado do orvalho batendo no rosto e a sensação de liberdade só de estar em um veículo de duas rodas voltando pra casa.

Que saudade.

QUE SAUDADE!

Essa cidade desperta em mim as melhores lembranças da minha vida, mesmo aparentando ser um lugar completamente oposto às minhas características sociais e culturais. No fim, as pessoas que aqui eu conheci fizeram a minha jornada ser linda e cheia de memórias marcantes.

Tudo que vivi é eterno em mim. Cada detalhe.

Olhar para trás e se reconhecer não tem preço.

Música do dia:

Nada me lembra mais meu período adolescente em Santo Antônio de Jesus do que as bandas que eu descobria na Musicoteca. Algumas coisas seguem comigo até hoje, como 5 a seco. Hoje, vamos de Leo Cavalcanti — Acaso. Afinal, muito disso tudo aconteceu devido ao acaso.

Até amanhã.

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