(Nota nº8) Ao morrer, ou a vida continua, ou acaba… Mas há indícios suficientes para investigar a tese de que ela continua

André Silva
#Diários de bordo
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4 min readMar 4, 2020

Tal como diz Sócrates, um dos maiores expoentes da filosofia, em seu julgamento. Há dois caminhos possíveis para a consciência ao chegar da morte: ou seu apagar ou sua continuidade de alguma forma. É um caminho binário independente das formas como se desdobrem estas condições. Há por exemplo várias ideias para o desdobramento da segunda hipótese, a da continuidade da vida após a morte. Há, por exemplo, correntes que defendem o retorno ao Todo, há as que defendem a continuidade da individualidade humana, há as que defendem a reencarnação imediata e outras mais. Pouco importa aqui as formas como se desdobra tanto para uma quanto para a outra hipótese, o grupo a que elas dizem respeito é a de uma nulidade completa e total versus alguma forma de continuidade.

Para a primeira hipótese pouco acrescentaria uma corrente de estudo que considerasse o não material ou imaterial. Para a segunda hipótese, contudo, muito acrescentaria.

Diante disso, se há a chance de uma continuidade e esta chance é considerável, pois é 50% de chance, então é de todo interesse uma corrente que considere a continuidade da vida após a morte, portanto é fundamental uma corrente que abranja a metafísica ou a imaterialidade, ainda que sejam consideradas hipoteticamente. Porquanto a incerteza que envolve a imaterialidade ou a materialidade, como resposta suficiente, já são razões para partir da hipótese da existência de uma realidade imaterial para ser capaz de a sondar.

Para tanto, deve-se tomar por motivadores os seus efeitos. E são muitos. O principal deles, pois mais comum, embora mais banal: a existência das crenças em uma realidade transcendente. As religiões, posto que são fenômenos que abrangem grande parte da humanidade de todos os tempos e povos, mesmo povos mais primitivos, tem na suposição meramente cultural condição insuficiente para explicar esses costumes, apresentando múltiplos efeitos mais importantes de que se tem notícia em toda história do mundo. O outro, o desconhecimento sobre a origem, o destino e as razões da existência humana e a insuficiência das respostas materiais e naturalísticas que encerram a discussão na inteligência da natureza contradizendo a mesma ao desprezar os horizontes possíveis da perfeição que ela pode atingir. Diante tamanho universo e tantos mistérios, por que seria inválido sondar mais aspectos do real? Por que negar as possibilidades de descobrir além, ainda que esta descoberta seja o descarte de hipóteses? A outra, os indícios. Inúmeros são os indícios em toda a história e em todo tempo e em regiões da humanidade da continuidade da vida e tratar como uma defesa diante a iminente finitude da vida pelas vias da inevitável morte são também insuficientes.

Portanto, não há porque não investigar a possibilidade de uma continuidade, sobretudo porque ante a confirmação da hipótese da sobrevivência, entender aspectos da alma, dessa imaterialidade, poderia certamente beneficiar a humanidade principalmente de forma direta. Se continuarmos após a morte, continuamos em alguma condição. E o que a experiência de morrer nos provoca? O que em nós se mantém ou altera após a morte? A que estados estamos sujeitos? O que experimentamos? Como nos relacionamos com a realidade? Quem e o que existe nesta realidade? O que isso influencia na realidade física material? O que podemos fazer sobre isso tudo? O que importa saber sobre isso tudo? O que isso pode responder sobre nossa origem e nosso destino?

A falta da ética como preocupação imprescindível à condição científica, não como um formalismo estéril ou como procedimento provisório para se autorizar a realização dos métodos e investigações, mas como uma finalidade última pela qual as investigações devem levar a refletir, acaba sendo o erro ao qual os cientistas incorrem por colocar suas crenças e partido acima da diversidade investigativa que pode fazer surgir vertentes de estudos estranhos à apreensão de certos sujeitos se estes não apreciarem a temática. A marginalização daqueles que se esforcem por tais investigações e a negação ou a crítica infundada baseada em argumentos insuficientes acabam promovendo uma exclusão científica e afirmando um monopólio da verdade. Estudos que beneficiariam a humanidade são reprimidos e com eles os seus investigadores, taxados por vezes de “pseudo cientistas” sem que suas investigações fossem de fato apreciadas.

A ciência se separou da filosofia, quando a primeira não pode prescindir da filosofia para seu exercício, limitando-se à produção de respostas ignorando que elas só se fazem primeiramente pelas perguntas.

Nota 8: 20/11/2019 — Reflexões sobre Filosofia não-materialista

Notas e Rascunhos de reflexões e meditações pessoais para produção dos meus textos finais. Essas notas são o registro da “caminhada”. Esteja claro que há, portanto, mudanças e movimentos de pensamentos no processo, para forjar o pensamento final. Publico como modo de guardar o exercício que fiz para amadurecer algum ponto de vista. Essas notas geraram (ou irão gerar) textos oficiais e definitivos que irei posteriormente referenciar aqui.

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André Silva
#Diários de bordo

Pensador, investigador e “filosofista”. Pesquisa a ciência, a consciência, o espírito, linguagem, cultura, redes, etc. Mestre em C.I. Instagram: @andrefonsis