(Notas nº9) Convenções pela priorização das respostas e monopólio do saber: a religião chamada Ciência

André Silva
#Diários de bordo
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4 min readMar 13, 2020

Por que estudar o “não material”? “Material”, “não material” é primeiramente uma condição convencional terminológica. Isto é, diz respeito mais a uma finalidade utilitária sobre o tipo de condições com as quais se está lidando do que propriamente pela ausência de uma substância ou essência, como muitos materialistas entendem referir-se o termo “não material” (ou “metafísica”, que é até mais apropriado). “Não material” denota propriamente as condições de coisas que constituem-se também por substância, mas que não possuem sua percepção ou apreensão integral pelos sentidos físicos imediatos, que geralmente lhes falta em absoluto. Poder-se-ia dizer que: “se tem substância, tem matéria.” E de fato. Mas tais designações se fazem úteis muito mais em função de ter partido destas diferenciações uma posição que se designa por materialismo e que se opõe a quaisquer investigações que não se enquadrem nos preceitos das ciências da natureza, excluindo assim, por aspectos peculiares (mas não “indeterminantes”) os estudos que envolvam a consciência e que precisam fugir dos tradicionalismos nos preceitos adotados, procurando formas inovadoras de solução e que são frequentemente contraintuitivas. Tais dificuldades se refletem mais claramente nas investigações extra-físicas ou extra-Terra, rejeitadas de maneira radical pela comunidade acadêmico-científica.

Quanto à possibilidade de se estar diante a continuidade da vida após a morte do corpo num estado ao qual se convenciona chamar de “não material” ou condição “metafísica” é preciso consideração e a apreciação ou valorização das correntes que se prestam a tal esforço. Se há um domínio a que se tem 50% de certeza de uma ou outra coisa, a saber, a continuidade da vida ou o seu encerramento após a morte, interessa investigar a hipótese da continuidade uma vez que entender melhor a morte pode servir para estudar a vida e o seu prolongamento, a consciência, a “destinação” humana. É, de qualquer forma, pelas vias ditas “não materiais” ou “não materialistas” que se pode refletir sobre hipóteses às quais os sentidos físicos são limitados para inferir. Se há alguma possibilidade de certas coisas preexistirem ou sobrexistirem à matéria física, deve-se investigar tal possibilidade pelo modo como pode ser detectado.

Os conservadorismos ou o ataque pela desqualificação das perguntas ou investigações de uma pretensão de realização em ciência acabam restringindo o objeto de interesse exclusivamente aos dos escolhidos cientistas, criando exigências de qualificação ancoradas em programas condicionados, tornando todo, e qualquer outro tipo de “fazer científico” não optante por uma direção particular específica um “pseudo-cientísta”, como se a ciência fosse propriedade de um único grupo ou modo de fazer. Essas atitudes sobrepõem o método ao conhecimento, que é a finalidade pela qual se utiliza o método, método este que deveria ser recurso de segurança e credibilidade, e não a justificativa das investigações. Despreza-se uma ciência mais ampla que nasceu para o homem e que existe pela sociedade, devendo ser por isso mesmo interesse social e não particular dos cientistas ou acadêmicos.

Os cientistas que aceitam as condições e são autorizados são condicionados ao percurso estabelecido pela instituição acadêmica e pelo método, sendo o conservadorismo do método limitante que obsta a imaginação investigativa. Esta condição afasta a sociedade de contribuir com o desenvolvimento da ciência, uma urgência tendo em vista, vale ressaltar, que a ciência se volta para a humanidade não apenas para um grupo específico, para cientistas reconhecidos e profissionalizados.

A instituição ciência, desde a chamada revolução científica, se fez qual um código hermético, e faz, dessa ciência, praticamente uma sociedade religiosa quando não um tribunal da inquisição.

Uma reflexão que desenvolva a ciência deve ser vista como ciência também se descobre questões e responde compreendendo melhor algum aspecto do real, independente de haver nisso um aval de uma instituição dita oficial (que, à rigor, não existe). É o fruto que aponta a árvore e qualquer aval obtido não carece tanto de uma estrutura e condição institucional formal, mas sim do próprio público que preste este aval. Um pesquisador que investigue de forma independente certos fenômenos e perceba e escreva com propriedade uma teoria sobre o assunto sem o aval de uma instituição acadêmica, publicando na internet no próprio Medium.com (esta plataforma pela qual escrevo) conseguindo chamar atenção de um público, não seria menos cientista do que um que se ancore nas filas autorizadas da comunidade acadêmica e em seus editoriais. O problema que a necessidade do aval institucional resolve não diz respeito a este aval propriamente dito, mas à necessidade da credibilidade do conhecimento ante pessoas que possuem saber reconhecido sobre o assunto. Mas isto não é determinante se um conhecimento é válido ou inválido, se condiz com a realidade ou não. E mesmo o aval não é um garantidor absoluto. As restrições acadêmicas que se impõem só isolam a população da participação naquilo que é do seu maior interesse. É por isso, antes, um problema de ética.

A falta ética resulta em erros a que as correntes incorrem ao pretender se encerrar uma condição de prática que não é suficiente sobre a realidade. A marginalização daqueles que se esforcem por tais investigações e a negação ou a crítica infundada baseada em argumentos limitados acabam promovendo um exclusivismo científico e um cientificismo radical, afirmando um monopólio do saber a um grupo específico dentre os homens, a saber: os que se condicionam a academia, voltados predominantemente às ciências naturais, ou ao racionalismo, monopólio este, que não pode ser verdade.

Por isto a ciência buscou se dissociar da filosofia, quando na realidade aquela não pode prescindir da filosofia para seu exercício, limitando-se, por assim fazer. Priorizando a produção e as respostas em detrimento das perguntas, isto é, ignorando que as respostas só se fazem primeiramente pelas perguntas. Assim, estudos que beneficiariam a humanidade são reprimidos e com eles os seus investigadores, taxados de “pseudo cientistas”, “não profissionais”, “tendenciosos”, ou loucos mesmo.

Nota 9: 25/11/2019 — Reflexões sobre Filosofia não-materialista

Notas e Rascunhos de reflexões e meditações pessoais para produção dos meus textos finais. Essas notas são o registro da “caminhada”. Esteja claro que há, portanto, mudanças e movimentos de pensamentos no processo, para forjar o pensamento final. Publico como modo de guardar o exercício que fiz para amadurecer algum ponto de vista. Essas notas geraram (ou irão gerar) textos oficiais e definitivos que irei posteriormente referenciar aqui.

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André Silva
#Diários de bordo

Pensador, investigador e “filosofista”. Pesquisa a ciência, a consciência, o espírito, linguagem, cultura, redes, etc. Mestre em C.I. Instagram: @andrefonsis