Introdução aos Diários de Kairos

Gabriel Goulart
Diários de Kairos
Published in
3 min readJul 20, 2018
Personificação de Kairos em mármore do século 4 a.C. — Museu Arqueológico em Turim.

Na Antiga Grécia, haviam duas palavras para descrever o tempo: chronos e kairos. A palavra chronos era usada para se referir ao tempo cronológico ou sequencial, o tempo mensurável, detalhável e quantitativo — chronos é a raiz da palavra cronômetro, um dispositivo capaz justamente de medir um intervalo de tempo. Kairos por outro lado, possui uma natureza qualitativa: refere-se à um momento indeterminado no tempo no qual algo de especial acontece, um momento oportuno, próprio para a ação.

Aristóteles considerava o conceito de Kairos essencial para a retórica: caracteriza o contexto temporal e espacial no qual uma oportunidade se apresenta para a verdade ser exibida, um momento que deve ser encarado com força e destreza para que o sucesso seja alcançado. Na teologia Cristã, Kairos era usado como o tempo de Deus, o tempo específico para ação de Deus, a ser diferenciado de chronos, o tempo dos homens, o tempo das horas, dos meses e das estações.

Em um mundo cercado por absurdos e atrocidades, por constantes mudanças de paradigmas, é fácil resignar-se na própria individualidade, no cinismo ou na ingenuidade do otimismo do progresso tecnológico. Mas acredito que os momentos mais cruciais da história são justamente épocas caóticas como essa, quando as turbulências da sociedade moldam e refinam os indivíduos do amanhã. São nos momentos agitados que nascem os grandes heróis e vilões que ficaram marcados nos livros de história por mudarem o mundo por completo. Indivíduos que perceberam o momento oportuno, o kairos que o Pai Tempo lhes proporcionou, para agir, seja para o bem ou para o mal.

A antiga palavra grega para “verdade” é alethes, que significa algo não esquecido/escondido. A História contém uma antiga chama que carrega a luz da verdade, clamando para que nós a aceitemos como guia para os dias sombrios que virão. Ela permanece adormecida, quieta, esperando e desejando ser lembrada, nas prateleiras empoeiradas das bibliotecas, nos bustos de mármores dos museus, esculpida nas paredes de pedra dos antigos monastérios e castelos, enterrada em nossas mentes e corações. Ela é pálida, seca e sem vida longe de um artesão. A cada geração que passa, um clamor é feito com paixão: “ lembre-se de mim, herde o meu fardo, exerça o meu poder.” Para aqueles que a escutam, para aqueles que adentram em seus corredores antigos, para aqueles que abrem seus livros envelhecidos pelo tempo e para aqueles que a usam para iluminar suas mentes, um prêmio valioso demais para qualquer mortal: milhares de anos de conhecimento.

Começo os Diários de Kairos com a intenção de compartilhar algumas das histórias e livros que leio sobre nosso passado, sobre como nossas mentes funcionam, sobre como a linguagem evoluiu ao longo do tempo, sobre como a maneira de como vemos o mundo está sempre em constante mudança e também sobre as grandes inovações tecnológicas de nossa era. Começo o blog com a intenção de lançar à luz questões que não merecem ser esquecidas por nossas vidas agitadas do século XXI, questões que, em minha opinião, podem ser muito valiosas para os próximos anos que virão e que podem mudar em muito a maneira da qual vemos o Brasil e o mundo hoje.

Convido o leitor para juntar-se a mim e outros colaboradores nessa jornada de conhecimento, seja com questionamentos sobre idéias, sugestões de leituras ou até mesmo artigos: os Diários de Kairos são um grande mural destinado a honrar a gloriosa magnitude da história.

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