Precisamos rever a maneira pela qual interagimos com a internet
Do alfabeto às redes sociais, o ser humano evoluiu interagindo uns com os outros. Chegamos longe desde os primeiros humanos, mas podemos ter ido longe demais: a internet está poluída e nós estamos doentes.
A internet pode ser considerada como a maior invenção que o ser humano já concebeu. Livre acesso à informação em qualquer lugar do mundo é uma habilidade que nem o maior dos profetas poderia ter antecipado. Mas a idéia original do que a internet deveria ser já foi deixada de lado há muito tempo. Existe uma quantidade colossal de informações ruins nas redes sociais hoje e isso tem nos afetado diariamente. Para poder aprofundar-se mais neste assunto, acredito ser necessário entender como chegamos à este ponto. Convido o leitor a percorrer a história do ser humano sob a perspectiva de uma habilidade tão rara mas tão essencial para a nossa evolução: a linguagem.
“Meu nome é …”
É impressionante analisar o quão longe a raça humana chegou em um intervalo de tempo tão curto. 300.000 anos de idade pode parecer muito, mas nossa janela de existência na Terra não passa de uma fração de segundo se comparada com as nossas estimativas de quando a vida surgiu por aqui — 4.28 bilhões de anos atrás. Fomos a primeira espécie que efetivamente deixou de reagir às circunstâncias da natureza para parcialmente controlá-la em nosso favor. É altamente provável de que somos a única espécie a ser auto-consciente e a ter noção de nossa própria mortalidade coletiva.
No entanto, dentro do nosso intervalo de existência na Terra, algumas pesquisas indicam que os humanos só passaram a ter um estilo de vida de maneira similar da qual vivemos hoje entre 70.000 e 40.000 anos atrás. Este intervalo de tempo testemunhou a criação de barcos, lâmpadas a óleo, arcos e flechas, agulhas, além do estabelecimento de hierarquias, comércio e religiões. Todas essas inovações — tão comuns para o ser humano moderno — só puderam ser concebidas pela novidade biológica mais impactante da evolução: a linguagem.
A criação da linguagem, isto é, a habilidade de descrever não somente o ambiente ao seu redor, mas também o próprio estado mental do indivíduo, impulsionou a mente humana a inferir sobre a natureza e a dominar a noção de causa e efeito: uma fruta transcendeu de um simples alimento para também ser uma semente capaz de se transformar em uma árvore algum dia.
O domínio da linguagem permitiu que o ser humano trocasse informações relevantes sobre locais com alimentos e possíveis predadores. O valor que esta troca de informações gerou ao ser humano da época é incomparável. Pela primeira vez na história, as pessoas poderiam entrar em um comum acordo para delegar tarefas essenciais para a sobrevivência. Um indivíduo não precisaria preocupar-se com segurança se uma outra pessoa pudesse simplesmente avisá-lo sobre ameaças. A Revolução Agrícola e o surgimento das primeiras cidades são consequências diretas do domínio da habilidade da linguagem.
A imortalidade da escrita
A concepção do alfabeto ao redor do ano 1500 a.C. foi um ponto de inflexão nesta caminhada do ser humano. Embora a escrita já existia antes da criação do alfabeto — através de hieróglifos e a escrita cuneiforme — , seus símbolos limitavam-se a descrever objetos reais e concretos do mundo, o que não era nada prático: imagine ler um texto onde cada conceito é representado por um único símbolo. Dominar e lembrar cada um destes símbolos era uma tarefa para poucos. A grande inovação tecnológica do alfabeto foi a representação física de sons.
A escrita deixou de ser uma simbolização concreta da realidade e passou a representar a maneira abstrata da qual nós dialogamos. O leitor só precisava dominar entre vinte e trinta caracteres e saber que som cada uma dessas letras representava. A união destas letras em uma única palavra para representar objetos da realidade, não só a diminuiu a barreira para a leitura e a escrita, mas também estimulou a capacidade da mente humana de ter pensamentos abstratos.
Se antes os seres humanos dependiam da transmissão oral de conhecimento empírico para poder sobreviver, o alfabeto propiciou o registro quase que imortal de lições e conceitos que as pessoas da época acreditavam serem essenciais para a vida em sociedade (algumas legítimas, outras que a sociedade moderna já reformulou). Assim, heurísticas e tabus foram substituídas por leis que poderiam ser transmitidas para todas as cidades de uma mesma região. Não é à toa que o Antigo Testamento tenha sido um dos primeiros livros da história humana a ser escrito com o alfabeto: ignorando a parte mitológica, além de possuir lições sobre variadas áreas como dietas alimentares e pastoreio, ele também serviu como uma espécie de constituição.
Junto com os primeiros conjuntos de leis, vieram os primeiros registros científicos sobre como a natureza funciona. Com a escrita, estes registros não somente poderiam ser transmitidos entre regiões diferentes, mas também entre tempos diferentes. Hoje temos conhecimento das obras de Aristóteles somente porque elas foram registradas com a escrita em livros. Assim, um jovem cientista já iniciava a sua carreira com uma enorme base de conhecimento à sua disposição e a ciência começou a dar os seus primeiros passos.
A propagação do conhecimento
Enquanto que o alfabeto permitiu que a ciência pudesse desenvolver-se de forma atemporal, a criação da impressora por Gutenberg em 1450 viabilizou que o progresso científico se alastrasse por todo espaço dominado pela civilização ocidental. A informação, antes da impressora, embora mais acessível do que em uma época sem a escrita, limitava-se a poucos exemplares de livros que muitas vezes pertenciam a pequenos grupos de interesse como a Igreja.
A possibilidade de replicar livros de uma forma rápida e barata facilitou ainda mais a propagação de novas idéias e conceitos em todas as partes do continente europeu. A Revolução Científica entre os séculos XVI e XVIII é um resultado imediato dessa nova fase da história, onde pessoas de diferentes locais puderam interagir-se de forma constante e enfim difundir os resultados de suas pesquisas científicas.
É inegável que uma maior capacidade de interação entre pessoas de diferentes locais e épocas acaba por promover maiores inovações tecnológicas e simultaneamente descobertas científicas. Em nenhum momento da história a informação encontrou um meio tão viável para o seu florescimento como nos últimos quatrocentos anos — e sua criação e transmissão foi acentuada cada vez mais desde então.
A onipresença da informação
O rádio e a televisão podem ter mudado a maneira da qual as pessoas interagem com a informação, mas apenas a internet pode ser comparada à criação do alfabeto e a da impressora como um ponto de inflexão na história do conhecimento. A internet mantém as características de imortalidade da informação e a da fácil propagação de seus antecessores, mas ela introduziu três fatores cruciais e inéditos para torná-la tão revolucionária: relativa ausência de limites físicos, fácil acessibilidade e baixos custos de compartilhamento de conteúdo.
O primeiro fator, a relativa ausência de limites físicos, faz com que a internet otimize algo tão essencial em um mundo cada vez mais urbano: espaço. A Wikipédia talvez simbolize como a internet é superior aos livros em termos de otimização de espaço físico. A maior enciclopédia do mundo possui mais de 5.5 milhões de artigos e ela não existe em forma física. A internet é capaz de permitir que qualquer um que tenha um dispositivo do tamanho de sua mão possa acessar uma base de dados do tamanho de uma biblioteca.
O segundo fator segue uma tendência histórica. Perceba como a barreira de acesso à informação somente diminuiu ao longo do tempo. Da linguagem oral à escrita. Do alfabeto aos papiros. De livros impressos à internet. A rede mundial de computadores é tão comum e frequente em nossas vidas que raramente estamos em um local sem ela: quase metade da população mundial possui acesso à internet¹. Um estudo do IBGE de 2016 mostra que cerca de 78% da população brasileira possui um smartphone². Hoje, qualquer pessoa com um dispositivo conectado à internet pode ler livros que eram proibidos pela Igreja Católica na Era Medieval sem sair de suas casas. Ela tornou-se tão comum e essencial para a vida moderna que a Organização das Nações Unidas considera que o acesso à internet como um direito de todos os seres humanos³.
O terceiro fator, os baixos custos de criação e consumo de informação talvez seja o mais importante. Nunca foi tão barato compartilhar conteúdo. Além disso, uma rede tão conectada como a internet faz o compartilhamento da informação ignorar os obstáculos da distância e do tempo — algo inimaginável por qualquer pessoa duzentos anos atrás. Como consequência, os usuários da rede criam dados à todo instante: mais de 90% dos dados da internet foram criados depois de 2016 segundo uma pesquisa da IBM. O mesmo estudo mostrou que 44 bilhões de gigabytes foram criados diariamente em 2016 na internet⁴. Para efeitos de comparação, a Bíblia no formato digital mais simples tem um tamanho de 4.2 MB — um trilhão de vezes menor do que toda a informação criada em um único dia na internet.
A tragédia dos bens comuns
Esta explosão de dados pode ser um aspecto positivo sem uma análise crítica, mas o principal ponto deste artigo é tentar ilustrar o oposto. A internet, da maneira como ela é hoje, vai contra todos os mecanismos de incentivos que tornaram a transmissão da informação tão valiosa para os nossos antepassados.
O conceito de tragédia dos bens comuns foi popularizado pelo ecologista Garrett Hardin na revista Science em 1968. Ela ocorre quando um recurso amplamente compartilhado é disponibilizado para consumo sem direitos de propriedade ou mecanismos de preços. Um exemplo prático desta idéia é a pesca predatória. O oceano talvez seja um bem comum tão grande quanto a internet. Como ninguém é efetivamente dono do oceano, qualquer um pode pescar peixes — e portanto extrair um objeto de valor econômico — e não precisar se responsabilizar em reabastecer o oceano com outro peixe. Não há qualquer incentivo econômico para um indivíduo arcar com os custos de preservar os peixes do oceano; pelo contrário, o incentivo está justamente em extraí-los. Como consequência disso, existem regiões do planeta, como os Grandes Bancos de Newfoundland, em que a quantidade de peixes caiu de forma drástica.
Embora uma tragédia similar dos bens comuns da informação não seja tão óbvia como no caso da pesca predatória, ela é inerente na maneira da qual tratamos a rede mundial de computadores hoje. Informações, boas ou ruins, têm sido cada vez mais extraídas de forma predatória na internet, sem nenhuma preocupação ou incentivo na criação de novos conteúdos de qualidade. O principal ponto aqui não é em quantidade mas sim em qualidade. A quantidade de dados sendo criada na internet naturalmente aumentou com a crescente adesão da população, mas sua qualidade média caiu de forma drástica. A teoria monetária possui um conceito que se aplica perfeitamente neste caso: a Lei de Gresham.
A Lei de Gresham afirma que moeda ruim tende a expulsar moeda boa do mercado, isto é, moeda inflacionária (moeda ruim) sempre irá se tornar o principal meio de troca enquanto que moedas não-inflacionárias (moedas boas) irão sair de circulação para se tornarem reservas de valor.
Para visualizar melhor a aplicação da Lei de Gresham, imagine por um instante que o ouro e o real são aceitos como meio de pagamento em todos os estabelecimentos do Brasil hoje e que você tenha uma mesma quantidade monetária de ouro e real no seu bolso ao pagar uma conta de um restaurante. Não há motivos para escolher o ouro como meio de pagamento visto que a outra opção tenderá a perder valor ao longo do tempo. Assim, as pessoas escolhem gastar os seus reais e guardar seu ouro como reserva de valor e por consequência, todo o sistema monetário torna-se inflacionário até ele colapsar por completo.
O mesmo fenômeno acontece com a informação hoje. Quando o custo da transmissão da informação é baixo — mais ainda quando ele é visto como quase nulo — os agentes do mercado de informações não se importarão muito com o valor intrínseco dela. Informação de má qualidade (no exemplo monetário, o real), mas de algum valor imediato (o ato de pagar a conta), será produzida e transmitida às custas de informação de alta qualidade (o ouro) que possui um valor mais temporal e remoto (reserva de valor).
A queda do custo de transmissão de informação afetou também a maneira da qual interagimos com as pessoas ao nosso redor. Um século atrás, para entrar em contato com uma pessoa do outro lado do planeta, o indivíduo tinha que arcar com os custos do serviço de correios — que não eram baratos. Dado que o preço para o envio de informação era alto, o conteúdo destas cartas era muito mais complexo do que as mensagens de bom dia que recebemos no WhatsApp todos os dias. Hoje, lembrando que podemos nos comunicar com qualquer pessoa usando o nosso celular de forma gratuita, não nos importamos mais com o valor intrínseco da mensagem a ser transmitida. A consequência é óbvia e irritante: quantos de nós não nos incomodamos com infinitas mensagens quase que irrelevantes que recebemos todos os dias?
A ilusão da liberdade digital
Em outros termos práticos, pense no quão difícil é estudar pela internet, ou ler um artigo longo como este aqui enquanto testes do BuzzFeed e vídeos de gatinhos no YouTube estão a um clique de distância. Ler um artigo científico pode ter um valor maior para o leitor ao longo prazo, mas acessar uma página de memes engraçados possui um custo muito menor e um valor retornado de forma imediata — enquanto que os anunciantes da página são remunerados pela sua atenção. A questão é: por que isto acontece?
A resposta é simples: comunismo (não, não é culpa do PT). Assim como o mecanismo de preços do mercado tende a determinar o real valor de um recurso, na ausência dele é impossível determinar a diferença de valor de certos produtos, prejudicando a alocação de recursos. O preço é justamente um tipo de informação: é o valor que as pessoas estão dispostas a pagar por um determinado produto. O ponto é que a internet trata, com algumas exceções, todo conteúdo de forma igual e com preço nulo e como consequência, a alocação dos recursos (nossa atenção) é prejudicada.
Em um cenário onde todos os produtos são gratuitos, a atenção torna-se a principal fonte de receita. Os criadores de conteúdo da internet hoje otimizam pela captação e manutenção da atenção do usuário, custe o que custar, para vendê-la para gananciosos anunciantes. Notícias sensacionalistas em canais de notícias, fake news, políticos bufões como Trump e Bolsonaro, certos canais de YouTube e certos blogs de “conteúdo” hoje não concebem informações de qualidade, mas emanam poluição informacional à todo instante para nos manter presos à este ciclo insustentável, esperando ansiosamente pela próxima dose; e nós consumimos este lixo apenas por ser de graça.
A analogia ao comunismo não se limita à ausência do mecanismo de preços. Assim como nos regimes comunistas, uma pequena elite vive às custas da população, ou melhor, dos usuários. Não somente nossa atenção é escravizada, mas nós também pagamos para que isto aconteça. Cedemos as nossas informações pessoais às grandes empresas como Google e Facebook em troca de acesso ilimitado e gratuito à suas redes (incluindo seus produtos, YouTube e Instagram). Essas empresas não estão interessadas em promover uma melhor criação de conteúdo, mas sim manter o usuário preso em suas plataformas com a ilusão de que elas não possuem custos. Os últimos parágrafos ressaltaram como esta noção de acesso gratuito não é tão benéfico quanto parece, mas é de fato espantoso que estamos pagando para ter esse acesso e para sermos escravizados por um oligopólio da informação.
Mais de 90% da receita bimestral do Facebook provém de propaganda em celulares⁵ — o que corresponde a quase 11 bilhões de dólares. Estes anúncios só são eficazes porque o Facebook fornece informações pessoais dos usuários para as empresas anunciantes. Esta receita exorbitante só é realidade às custas das informações pessoais que os usuários cedem de livre e espontânea vontade.
O tom deste artigo pode ser um pouco pessimista, mas é inegável que a internet seja uma tecnologia maravilhosa. Ter acesso a todo o conhecimento acumulado por milhares de anos de civilização de forma instantânea é um poder quase que divino para um animal como o homo sapiens. A crítica é que os benefícios da internet não estão proporcionalmente distribuídos entre os usuários. O pequeno grupo que detém o controle da internet e que possui acesso à informações privilegiadas — do Facebook ao Goldman Sachs — recebe 99% dos benefícios que ela proporciona. Acontece que nós, a população, acredita que este 1% restante é melhor do que se a internet não existisse e portanto permitimos que o status quo persista.
O Vale do Silício, outrora a luz do progresso tecnológico, tornou-se naquilo que Steve Jobs tanto se opôs ao lançar a propaganda do Macintosh em 1984. Esta luz acabou por nos escravizar e nos separar de nossos amigos e familiares para nos manter em um mundo virtual de ilusão feito para que uma pequena elite lucrasse com as milhões de horas que nós gastamos nas chamadas redes sociais.
Quebrando as correntes da escravidão digital
O problema da tragédia dos bens comuns não é irreversível — basta que as pessoas se empenhem em valorizar o bem comum que tem sido extraído de forma exploratória: a sua atenção. O tempo é o bem mais precioso que cada um de nós temos. Se você leu este artigo até aqui é porque algo na idéia central dele fez algum sentido e portanto ele tem algum valor para você. O tempo que você investiu na leitura deste artigo foi (assim espero) retornado na forma de conhecimento e reflexão — mas isto só aconteceu porque você efetivamente focou a sua atenção para as palavras aqui escritas.
Para que as pessoas possam valorizar a sua atenção e o seu tempo, elas precisam de uma informação sobre a qualidade do objeto da qual elas irão focar a sua atenção. Um filme com índice de aprovação de 98% no site Rotten Tomatoes é muito mais atraente do que um outro filme com um índice de 3%. Temos conhecimento sobre a qualidade de muitos conteúdos disponíveis na internet — as opiniões das outras pessoas já determinaram isso — , mas estes são apenas uma fração se comparado à magnitude informacional da rede mundial de computadores hoje.
O fato é que já existe um mecanismo capaz de mensurar a qualidade de um produto: o sistema de preços. Como já foi dito anteriormente, o preço é um tipo valioso de informação: ele (geralmente) determina o valor que as pessoas estão dispostas a pagar por um determinado produto. Em muitos casos, produtos mais caros tendem a ter uma qualidade intrínseca melhor do que produtos mais baratos. Estes produtos mais caros são vendidos porque existem pessoas dispostas a pagar mais para ter um objeto ou serviço de melhor qualidade.
Se a idéia de pagar por informação na internet pode parecer maluca para você, lembre que você provavelmente já faz isso. O Netflix e o Spotify oferecem serviços de streaming de conteúdo com uma velocidade, qualidade e segurança muito maior do que downloads dos mesmos conteúdos em sites desconhecidos. É claro que existem indivíduos que não estão dispostos a pagar por esses serviços, mas a alta adesão a estas empresas só mostra que as pessoas estão dispostas a pagar para ter acesso instantâneo à conteúdos de alta qualidade.
Em alguns exemplos práticos, se vídeos de gatinhos e livros best-sellers tivessem um mesmo custo de acesso na internet, é bem provável que veríamos uma maior procura por estes livros. Se, para cada mensagem encaminhada aos grupos de WhatsApp, existisse um preço a ser pago pelo remetente ao destinatário, é bem provável que as pessoas pensariam duas vezes antes de mandar histórias fictícias sobre como o Brasil vendeu a Copa do Mundo de 1998. Se as empresas de anúncios pagassem a grupos de interesse comum para poder divulgar seus produtos ao invés de pagar ao Facebook, é bem provável que veríamos uma melhor reação a estes anúncios.
Com um mecanismo de preços, os usuários teriam um incentivo real de criar conteúdos de qualidade, da mesma maneira que boa parte dos ruídos informacionais seriam filtrados através desta barreira monetária — embora seja importante ressaltar que ruído e produtos de má qualidade sempre irão existir.
Se estamos dispostos a pagar mais caro por comidas e roupas de qualidade, por que não devemos fazer o mesmo com informação? — Yuval Harari, autor dos livros Sapiens e Homo Deus
O grande diferencial de um mercado de informações contudo, é que o valor a ser pago pela informação seja destinado do usuário consumidor ao usuário fornecedor, sem a necessidade de um “homem do meio”, como é o caso da Google, do Facebook ou até mesmo do Spotify, que retém boa parte dos lucros dos artistas. Assim, qualquer pessoa pode ser de forma simultânea criador e consumidor de conteúdo. Neste cenário, mercadoria é negociada de usuário a usuário, de pessoa a pessoa de forma descentralizada.
Esta descentralização da internet só se tornou em uma possibilidade real nos dias atuais, com o surgimento de outra tecnologia revolucionária: a blockchain, a mesma por trás do Bitcoin e de outras criptomoedas. Com novas tecnologias sendo desenvolvidas, acredito que uma nova internet está ao nosso alcance e, assim como o alfabeto e a impressora antes dela, ela mudará por completo a maneira pela qual lidamos com a informação.
Nenhuma revolução é possível sem conscientizar as pessoas de que uma mudança está ao alcance delas. Escrevo este artigo com um intuito completamente educacional, a fim de divulgar idéias que acredito serem válidas para o mundo da Era da Informação.
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Referências
² Um em cada 4 brasileiros de dez anos ou mais não tem celular, diz IBGE, Valor Econômico.
³ UN says internet is a human right, Business Insider.
⁴ 10 Key Marketing Trends for 2017 and Ideas for Exceeding Customer Expectations, IBM.
⁵ Facebook revenue by segment, Statista.