A Chegada e o poder do diálogo

Leonardo Miranda
Didaticamente
Published in
6 min readJan 8, 2020

Nota: spoiler do filme A Chegada, o filme está disponível na Netflix, então se você não assistiu ainda, corre lá, por que vale muito a pena :D

A história da humanidade é recheada de conflitos e se olharmos bem para todos os continentes, não houve um período completo de estabilidade e paz. Guerras foram declarados por todos os motivos possíveis e imagináveis, desde de questões puramente financeiras e pragmáticas até por questões mais complexas e espinhosas.

Na história contemporânea, vivemos uma espécie de “paz” no mundo ocidental(entenda-se América do norte e Europa ocidental), após a segunda guerra mundial e a derrota dos nazistas. Uma “paz” bem maquiada, porque como já citado, existem regiões bem específicas no globo onde os conflitos não cessaram.

Regiões da áfrica, do oriente médio, da América do sul e do leste asiático nunca experimentaram esse tempo de paz e calmaria. Tenso bélicas e politicas sempre apareceram de tempos em tempos.

Essas regiões vivem um ciclo interminável de conflitos internos e externos, basicamente de tempos em tempos esses conflitos se abrandam, mas nunca chegam a se encerrar. Muitos desses são milenares, possuindo como origem rixas genealógicas e outros são gerados por interesses econômicos de outros países ao redor do globo.

E como prova disso, mais uma vez, neste começo de um novo ano(o ano é 2020, se você está lendo no futuro e esse parágrafo se tornou datada), vemos o oriente médio(mais precisamente o Irã) ser palco de um conflito, que está escalando a cada dia que passa e ninguém sabe muito bem onde vai chegar. Essa escalada não vem de uma incidente isolado e sim de de desavenças com o Estados Unidos.

Na imagem temos o presidente Trump e o Ali Khamenei lado a lado

E o que isso tudo tem a ver com filme A Chegada?

Tudo

A chegada é um filme sobre conflitos ou melhor, um filme sobre a resolução de conflitos. O filme começa nos mostrando uma “invasão” alienígena ao nosso planeta, estabelecendo logo de cara o primeiro e mais óbvio conflito , seres espaciais estão na Terra. Esses seres chegaram e se instalaram por regiões do globo.

Mas não se trata de um invasão clássica de extraterrestres, a terra não é invadida por um exércitos de aliens. As suas naves estão simplesmente paradas, imóveis desde a chegada, esperando o contato humano. Assim o Estados Unido(assim como os outros países também), decide juntar uma equipe de cientistas para fazer a abordagem, já que é uma das regiões que foi visitada.

Dr. Louise Banks, interpretada por Amy Adams, é uma das cientistas recrutada pelo exército americano, uma linguista altamente gabaritada. Ela é recrutada por que o governo quer se comunicar com os aliens ou mais precisamente quer que eles respondam perguntas. “O que eles vieram fazer na terra”; “O que eles querem”; “São amigos ou inimigos?”.

O que leva Louise a ter contato direto com os aliens e perceber que a linguagem deles é totalmente diferente do que já foi registrado pela ciência. Ela percebe que aquilo não seria um simples trabalho de tradução e negociação. Essa experiência para dar certo precisaria ser mais profunda e muita mais complexa do que qualquer outra.

O plano elaborada por ela se baseia em não só aprender a linguagem deles e traduzir para o inglês, mas aprender tudo o que permeia essa linguá desconhecida. E assim aprender o contexto em que ela está inserida, aprendendo assim não só a a gramática e a sintaxe da linguagem, mas aprender também como esses seres espaciais enxergam o mundo.

E só quando esse conhecimento for construído e todo um diálogo estiver estabelecido, as perguntas iniciais serão respondidas.

Para poder entender os aliens não basta simplesmente realizar um série de perguntas, para entendê-los realmente é preciso entender como eles pensam e enxergam o mundo.

É preciso entender o que eles consideram vida, mundo, paz, guerra,comida e é até o que é uma arma para eles.

Dra. Louise aprendendo a linguagem extraterrestre a frente e ao fundo o alien

Aprendendo lições para a nossa realidade

Assim como as já excelentes e conhecidas ficções científicas, A chegada usa extrapolações para falar do nosso mundo, da nossa realidade. Todo esse contexto ficcional está passando uma mensagem clara para o telespectador.

A comunicação é a chave para a humanidade, não só para se comunicar com invasões extraterrestres, mas entre si.

Ao desenrolar do filmes, os cientistas de todo o mundo se juntam e é só através de um esforço coletivo e de troca de informações, que toda a linguagem desconhecida consegue se catalogada e muitos detalhes são compartilhados entre as bases científicas. Em um esforço coletivo e sem precedentes, a humanidade consegue realizar um trabalho extremamente complexo.

Mas é um por um erro de comunicação e interpretação que o clímax do filme é atingido. Quando os seres extraterrestres comunicam a entrega de uma “arma” para a humanidade, os líderes mundiais se afobam e acabam interpretando tudo de maneira errada, achando que eles querem que os países lutem entre si.

E de novo a comunicação, o diálogo, vem ajustar tudo e mostra que os aliens queriam na verdade entregar uma ferramenta para humanidade, uma ajuda para eles.

E o motivo de oferecer essa ajuda? Anos para frente, essa mesma raça iria precisar da ajuda dos humanos e para isso, era preciso que os humanos estivessem unidos e em condições de ajudar.

A maior lição (em nível comunitário, já que em nível pessoal outras reflexões subjetivas podem ser feitas) que se pode tirar da narrativa está contida nesta narrativa do diálogo. O esforço em se entender como humanidade é o caminho mais sustentável que podemos traçar para a paz mundial.

E não está sendo colocado em pauta pela narrativa as conferências e debates que já fazemos atualmente em cúpulas da ONU por exemplo, está sendo colocado em pauta um esforço global de entendimento do outro. Não só conversas pontuais que muitas dessas cúpulas acabam se tornando.

E assim como o plano da doutora Louise é algo complexo e demorado de se fazer, esse esforço de entendimento seria algo que levaria muito tempo, não traria resultados em curto prazo, mas seria a solução mais civilizatória que poderia tentar.

Não somente sentar com países do oriente médio para discutir o preço do barril do petróleo e negócios paradisíacos. Não só olhar a África como um continente em decadência, a ásia como ponto estratégico, a América latina como países a serem explorados e a Europa e América do norte como o poço da civilização e da evolução.

Mas juntar forças e começar a entender essas regiões, suas diferenças, sua história e começar a entender como eles enxergar o mundo. Assim como a personagem da Amy Adams fez com os aliens. Não é um processo simples, não é algo que dá para fazer do dia para noite, mas é algo altamente eficiente e benéfico.

Claro que pode ser visto como algo inteiramente utópico e sem nenhuma chance de ser colocado em prática. Mas a ficção está aí para nos provocar e trazer reflexões. Será que algo assim é tão utópico mesmo ou só é a humanidade que se apegou demais a suas fronteiras, as suas identidades criadas artificialmente e se esqueceu de olhar para os outros povos como semelhantes e parentes distantes?

Ressaltando que o intuito do diálogo não é destruir todas as diferenças e abolir as fronteiras do mundo. É simplesmente conseguir viver em paz com o seu vizinho mais próximo e com o mais distante também.

E para viver em paz com seu vizinho não é preciso se tornar o amigo mais próximo e mais fiel dele, é preciso simplesmente respeitá-lo como um ser humano e entender o seu jeito, sua história e a sua importância.

Vídeo pálido ponto azul, texto escrito por Carl Sagan e no vídeo interpretado por Guilherme Briggs

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Leonardo Miranda
Didaticamente

Cursa Licenciatura em biologia na UFSCar - Campus Sorocaba. Professor de biologia, Filosofo de internet e Teólogo Amador.