Ellie e a dificuldade humana de se relacionar (The Last of Us, ep.4 — Por favor, segura minha mão)

Leonardo Miranda
Didaticamente
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3 min readFeb 6, 2023

Apesar de Walking Dead popularizar o clichê de focar em relações humanas em vez dos monstros, dentro de uma produção artística apocalíptica, esse aspecto já vem sendo explorado desde os mortos vivos de Romero. O ser humano, apesar de ser um animal social e depender em diferentes níveis dessa relação, tende a complicá-las. E no fim do mundo não seria diferente.

Relações humanas são difíceis, complexas e duras de serem construídas e mantidas. Mas quando são construídas, são boas, fáceis e aconchegantes para nós. Em frente dessa dificuldade precisamos tomar decisões, de como iremos enfrentar essas dificuldades necessárias para manter esse aspecto social tão caro para a humanidade.

Kathleen, nova personagem da trama, decidiu usar a violência para encarar a dificuldade e Ellie decidiu usar o humor.

A situação de Kathleen ainda está nublada, mas podemos observar um conflito onde não parece haver espaço mais para convivência pacífica. Chegou ao nível de relação antagônica que nós humanos conseguimos construir como mestres. Somos ótimos em construir relações que tenham como base o ódio e como fim a vingança.

Já Ellie e Joel estão uns bons passos atrás.

O episódio pode parecer monótono, lento e é de fato, assim como o momento que Ellie está vivendo especificamente em sua relação com Joel. Começos de relações são complicadas, ainda mais no fim do mundo e que envolvem diretamente perdas. Mas, ao passo de Tartaruga e com muitos trocadilhos sem graça, Ellie e Joel vão entrando um no mundo do outro, conhecendo um ao outro e entendendo um pouco do outro.

E assim, bem devagarinho, sem pressa, Joel assume o seu papel de responsável por ela, mesmo ainda tratando-a como uma carga. Ainda existe uma barreira para se transpor, ainda que Joel não consiga colocar sentimentos em palavras e tenha problemas para demonstrar afeto da maneira “convencional”. Mesmo assim Joel consegue transmitir empatia ao observar que a situação de Ellie não é justa, transmite cuidado ao pensar imediatamente em um esconderijo para ela em uma situação de perigo e transmite ensinamentos ao segurar a sua mão e ensinar na prática como se segura uma arma de fogo. Item que uma criança não deveria ter, mas precisa ter nesse cenário.

E chega até ao ponto de quebrar uma de suas regras ao falar de sua vida pessoal e até ao ponto de se interessar pelo passado de Ellie e ter um diálogo muito tocante sobre ações reprováveis que eles precisam tomar para continuar sobrevivendo nesse mundo.

E não Ellie, infelizmente não fica mais fácil.

Adultos não possuem uma maior facilidade que crianças para se relacionar e tomar decisões. Eles apenas aprenderam a mentir e esconder melhor a sua dificuldade e as suas dores.

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Leonardo Miranda
Didaticamente

Cursa Licenciatura em biologia na UFSCar - Campus Sorocaba. Professor de biologia, Filosofo de internet e Teólogo Amador.