Riley e as feridas que nos moldam (The Last of Us, ep.7 — O que deixamos para trás)

Leonardo Miranda
Didaticamente
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2 min readMar 14, 2023

Spoliers a frente

Uma das tarefas mais difíceis que a minha terapeuta me deu, foi a de refletir sobre mim mesmo, mais especificamente me perguntar quem eu era de fato. Acredito que você, meu nobre leitor, deve ter essa dificuldade também.

Afinal, como se definir na imensidão de pensamentos, amores, desejos, tristezas e traumas que uma vida humana pode nos proporcionar? Ainda mais quando nós somos moldados por momentos bons, dos quais queremos lembrar e por momentos maus, que recalcamos e tentamos enterrar no mais fundo subconsciente. Se definir é dolorido porque pressupõe lembrar, lembrar da trajetória até aqui e de todos momentos, bons e ruins, que não se repetiram ou deixaram de acontecer.

Ellie ao confrontar Joel estirado no chão, ferido, dolorido e pedindo o impossível para ela, que seria continuar a viagem e deixá-lo morrer ali, se lembrou. Aquele momento ativou o elevador e na mais alta velocidade trouxe a memória mais angustiante e protegida dela. E para o bem ou para o mal, tivemos o privilégio de acompanhar essa recapitulação.

Na iminência de ter o rumo de sua vida decidido por terceiros, Riley tomou a frente e teve que tomar as rédeas do próprio destino.

E isso foi maravilhoso para ela, pode finalmente se sentir pertencente a algo novamente. Se sentiu incluída, útil e participante de algo que valesse a pena segundo a sua visão de mundo. Por conta disso, mesmo sem o seu consentimento, a vida a levou ao shopping naquela noite trágica do lado de Ellie. A decisão de se juntar aos vagalumes não só lhe trouxe a chance de experienciar o sentimento familiar novamente, mas também de experienciar uma noite inesquecível com a sua melhor amiga e lhe fez sentir o amor uma outra vez…

mas, infelizmente, foi a última.

Para Ellie ficou o fardo de não ter conseguido (por força maior) cumprir o último acordo que fez com a pessoa mais importante para ela. E a ferida enorme de ter que encerrar a vida de Riley, assim como Henry fez com Sam.

E mesmo não sendo nenhum pouco justo, a partir dessa experiência ela aprende a não abrir mão de quem se ama.

Sendo assim, a lembrança, o empurrão que ela precisava para voltar e salvar Joel.

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Leonardo Miranda
Didaticamente

Cursa Licenciatura em biologia na UFSCar - Campus Sorocaba. Professor de biologia, Filosofo de internet e Teólogo Amador.