Sanji nos ensina a sempre fazer a coisa certa, independente das circunstâncias

Leonardo Miranda
Didaticamente
Published in
4 min readNov 19, 2020

Aviso: O texto a seguir pode conter spolier de One Piece

Para quem não está familiarizado, Sanji é um dos tripulantes do bando dos chapéus de palha, da animação japonesa One Piece (que recentemente chegou ao Netflix). Um fenômeno cultural, desenhado e escrito por Eichiro Oda e sua equipe. Dentro da organização do bando, Sanji ocupa a posição de cozinheiro do bando. Ele não é só responsável por alimentar os seus companheiros, mas também é ele quem cuida da nutrição de seus amigos. Afinal, não é preciso só estar de barriga cheia, é preciso ingerir todos os nutrientes que o corpo precisa e Sanji sabe disso.

E assim como todos os tripulantes, ele possui um sonho a ser realizado na Grand Line (o oceano mais importante dentro do universo criado por Oda), que é encontrar o denominado All Blue, um oceano onde peixes de todo o mundo se reúnem e seria um paraíso para os cozinheiros marinhos. E ele também possui um passado recheado de traumas que serviram para moldar a sua personalidade e as suas atitudes dentro da faixa de tempo que nós estamos o acompanhando.

Ele nasceu na realeza, na família Vinsmoke, seu pai é um cientistas que dominou técnicas de manipulação genética e usou isso para criar filhos “perfeitos”, com habilidades sobre humanas, principalmente em combate e sem nenhum tipo de emoção que possa atrapalhar eles em combate. Mas por intervenção de sua mãe, Sanji nasceu como uma criança “normal”, sem as habilidades sobre humanas de seus irmãos e com uma diferença fundamental: o desenvolvimento de empatia.

Tendo essa diferença, Sanji foi abandonado à própria sorte e teve que sobreviver por conta própria fugindo ao mar quando ainda era apenas uma criança. Ele passou por fome, naufrágios e todos os infortúnios que uma vida no mar pode trazer. Mas com o tempo acho o seu lugar e uma família que realmente o aceitasse. Isso gerou um Sanji um sentimento de empatia muito poderoso e um senso de justiça na direção correta.

“Pra mim, qualquer pessoa com fome é um cliente”

Esse momento de Sanji com Gin e essa sua fala representam um dos momentos mais poderosos do roteiro de One Piece. O restaurante não queria alimentar Gin, primeiro porque ele era um pirata que entrou no restaurante de maneira arrogante. E segundo porque ele não teria condições de pagar pela comida. E Sajni, o chef assistente do restaurante, simplesmente ignorou todos esses fatores e decidiu que iria alimentar Gin.

E Sanji não faz somente como um ato de caridade para ganhar pontos de bom moço ou algo do tipo. Não tem ninguém vendo, a não ser Luffy no telhado que consegue observar o ato. Sanji está ajudando um outro ser vivo, baseado na empatia, na habilidade emocional de se colocar no lugar do outro.

Sanji já passou fome, já ficou à deriva, teve que ir para o mar completamente sozinho, sem ninguém para olhar por ele. Ele sabe o que é estar em um situação de completo abandono e sabe como faz diferença alguém levantar a mão para você nessa situação, nem seja com apenas um prato de comida. O prejuízo financeiro que a não venda de um prato de comida pode causar ao restaurante não é nada perto da vida e dignidade humana para Sanji. Como ele mesmo disse, clientes não são constituídos pelo poder de comprar, mas sim pela fome.

Sanji salva a vida de Gin e ele conta a sua história, seu bando estava indo para a Grand Line, quando foi atacado e acabaram perdendo tudo, inclusive os seus mantimentos. Gin acaba partindo depois de se alimentar e trás o seu capitão e o seu bando para o restaurante para poderem se alimentar também. Isso novamente gera desconfianças dos cozinheiros, porque o capitão de Gin, Don Krieg, é um dos homens mais procurados da região. Seria melhor deixar ele morrer de fome, ser um favor para a comunidade se livrar daquele pirata. Mas novamente Sanji contraria todos.

Se você tentar pensar somente sem a empatia de Sanji, faria sentido mesmo deixar uma pessoa tão terrível, que pode te matar logo em seguida morrer de fome. Mas ele nos constrange, nos mostrando que não há justiça na vingança. Mesmo o maior criminoso não deve ter uma morte horrível dessa, mesmo ele merece algum tipo de dignidade, mesmo que isso coloque a vida de quem está o ajudando em perigo. Sanji mostra que o certo a se fazer não é volátil a circunstância, não há um relativismo em atitudes como por exemplo alimentar o próximo. Alimentar aquele que está morrendo de fome é sempre o certo a se fazer, independente do lugar, da hora e dos crimes daquele que está com estômago roncando.

--

--

Leonardo Miranda
Didaticamente

Cursa Licenciatura em biologia na UFSCar - Campus Sorocaba. Professor de biologia, Filosofo de internet e Teólogo Amador.