Tess escolheu o caminho da esperança (The Last of Us, ep.2 — Infectados)

Leonardo Miranda
Didaticamente
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3 min readJan 25, 2023

Atenção: O texto pode ter spoilers da trama da série como um todo.

Cornel West, filósofo e teólogo afro americano, em uma de suas palestras defendeu a esperança, como força motriz para guiar as ações do ser humano na sociedade. Em suas palavras a esperança é a única posição ativa em frente ao mundo em que vivemos, enquanto a posição otimista e a pessimista seriam posições passivas em relação à realidade. Segundo West, o otimista espera que as coisas melhorem, mas não age para que essa melhora se torne realidade. Assim como o pessimista espera o pior, mas não se move para evitar essa piora.

Já a pessoa que age com esperança não está esperando nada do futuro, ela apenas age por acreditar que o certo a se fazer é tentar mudar a realidade para acabar com as dores e injustiças sociais. Em um exemplo, ele fala como uma pessoa anti racista não age acreditando que o racismo irá acabar do dia para noite, mas age por que é o certo, o certo dentro da nossa sociedade é se posicionar e lutar contra o racismo, independente dos resultados. Não que os resultados não sejam importantes, mas eles não são só o foco de sua ação.

Tess, em suas últimas horas de vida, desistiu de só assistir o mundo acabar e decidiu agir com esperança.

Assim como Joel, ela estava inebriada no pessimismo do fim do mundo, uma posição estática de sobrevivência. Dentro dessa perspectiva não há espaço nem para ser otimista, o simples ato de pensar que as coisas podem melhorar, quando o mundo conhecido acabou, provoca dor.

Tess é despertada disso com a chegada de Ellie, incrédula observa um milagre e no primeiro momento não há outro movimento possível senão o cinismo, ainda mais após 20 anos vivendo no olho do furacão do fim.

Mas tudo muda quando o milagre se prova verdadeiro e não só um truque. A partir disso Tess é convidada a sonhar, o mundo não precisa mais ser estático, há possibilidade, há esperança.

Isso fica claro quando Tess sai de um papel de guarda-costa ressabiada para um papel de tutora(mesmo que por pouco tempo). Quando percebeu a chance de mudança que apareceu na sua frente, decidiu que deveria agir, ajudando Ellie a sobreviver naquele mundo.

Ellie tem que viver, ela é a esperança.

Infelizmente, não houve tempo de ensinar para ela tudo o que aprendeu no fim dos tempos.

Sua sorte acabou, como ela mesmo disse.

Ao ser ferida e perceber que a morte e a transformação são iminentes e que os vagalumes que deveriam resgatar Ellie estão mortos, a única saída possível é passar o bastão da esperança para Joel.

Mas como convencer o homem que desistiu de tudo e aceitou o fim de que pode haver um recomeço? De que existe uma chance, mesmo que pequena, mesmo que passando por uma diminuta fresta?

Tess usa o seu último fôlego de vida, a última fagulha, para tentar empurrar Joel para o caminho certo.

Não é o suficiente para mudar esse homem (por enquanto), mas o suficiente para a missão continuar.

A esperança leva Tess a se sacrificar pelo que ela acredita que é o certo, mesmo que o futuro seja incerto.

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Leonardo Miranda
Didaticamente

Cursa Licenciatura em biologia na UFSCar - Campus Sorocaba. Professor de biologia, Filosofo de internet e Teólogo Amador.