🍃 Cannabis, um tabu a ser vencido
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Acredito que precisamos avançar mais na discussão sobre a maconha em nossa sociedade, especialmente no Brasil. Por isso, resolvi esboçar alguns pensamentos que posso evoluir ao longo dotempo.
Este não é um texto científico, mas sim um texto para incentivar reflexão de forma respeitosa.
A maconha é utilizada há milênios. Porém, pela guerra às drogas com seus preconceitos, ela se tornou proibida e tabu em algumas épocas, como a nossa.
Acredito que precisamos discutir, legalizar e regulamentar o uso e cultivo próprio tanto para fins medicinais, onde muitas pessoas adultas e crianças, encontram na cannabis uma luz no fim do túnel para continuarem vivas com menos sofrimento (uma lista de doenças de potencial tratamento: 1, 2), quanto para uso adulto por pessoas saudáveis — que se torna ainda mais tabu.
Precisamos também realizar e aprofundar mais pesquisas científicas para confirmar benefícios, riscos e realizar novas descobertas.
A maconha já vem sendo utilizada em outros países para fabricação de tecidos e roupas, fabricação de tijolos e construção de casas, fabricação de plástico reciclável e biodegradável, alimento (sementes de maconha), combustível, papel e outras coisas.
Resumindo, a legalização potencializaria benefícios em diversas áreas, sendo algumas delas:
- segurança (redução na criminalidade e homicídios; impacto positivo no sistema penitenciário);
- saúde (tratamento de doenças, espiritualidade, socialização e ludicidade);
- e economia (oportunidade de novos negócios e de plantio em terras brasileiras).
Não precisamos vender a ideia da maconha como solução de tudo ou a salvação do mundo. E nem julgar que drogas, e muitos outros assuntos, sejam uma questão simples e óbvia na sociedade, sabendo da complexidade e impacto sistêmico. Mas, por isto mesmo, fazer guerra à maconha, proibir e criminalizar, não é uma alternativa e não tem demonstrado qualquer eficácia. Só tem piorado as coisas e evitado que pessoas que teriam a planta como única alternativa de tratamento, sejam privadas.
Precisamos experimentar novas soluções e nos inspirar em países e estados que já avançaram no tema, tanto com leis quanto estudos científicos.
Preconceito, tabu, ignorância e criminalização só atrasam, dificultam, separam e até matam. A guerra às drogas foi e é um fracasso, piorando o que se desejava combater.
Aceitamos ingerir e discutir sobre álcool, nicotina, café, açúcar e refinados — substâncias potencialmente mais nocivas e viciantes do que alguns podem acreditar ser a maconha. Atualmente, mesmo a Ayahuasca já é bem vista entre alguns grupos com desejo de experiências em um caminho de espiritualidade.
Mas a maconha ainda é assustadora para muitas pessoas ou causa discriminação e até violência com quem utiliza seja para fins medicinais, sociais, de espiritualidade ou para quem planta e fabrica produtos com ela.
A questão é que muitas pessoas já usam a maconha, não é de agora e nem só no Brasil, e continuarão usando. São pessoas das mais variadas épocas, classes sociais, idades, raças e profissões.
Porém, quem mais sofre com a política de proibição e criminalização das drogas? Pessoas pobres e negras. São elas que mais são discriminadas, presas e violentatadas, infelizmente.
Curiosamente, muitos de seus colegas de trabalho homens-brancos-héteros-classe-média fazem uso e nada acontece.
“A maconha medicinal já está legalizada, mas para o rico e para a alta classe média” — Sidarta Ribeiro, neurocientista
Experiências individuais
Tenho empatia pelas pessoas que tiveram dificuldades pessoais com drogas ou com familiares que abusaram de drogas. Não estou aqui para negar sua experiência pessoal com o tema. Porém, acredito que a interpretação e conclusão da sua experiência pode ser refletida mais a fundo e ressignificada. Não é justo simplificarmos e dizer que o problema foi a maconha ou uma droga em si mesma, ou que por isso ela não possa ser permitida para outras pessoas.
O contexto é crucial para entendermos melhor.
Cada pessoa lida de uma forma com as substâncias e alimentos, sejam legais ou ilegais. Nossas experiências individuais não são a régua para julgar e punir outras pessoas. É possível que você deseje ou até precise se afastar de algumas coisas, mas talvez a maioria das pessoas não.
Isso acontece com muitos outros temas.
Tem gente que tem alergia a amendoim. Tem gente que pode se viciar em Dorflex. Tem gente que passa mal ao andar de elevador ou ônibus. Tem gente que viveu uma má experiência em uma cidade. Tem gente que tem pavor de altura.
Porém, nenhuma dessas experiências isoladas nos dá o direito de proibir que outras pessoas vivam suas próprias experiências e se beneficiem delas, nem nos dá direito de puni-las.
Acredito que no fim, o que juntos queremos é que as pessoas vivam bem e a sociedade possa interagir de uma maneira respeitosa e harmoniosa. Por isto a discussão sobre o tema é importante.
O outro
É fácil criticar e desejar punição de pessoas quando não temos nenhuma ligação com elas, quando não sabemos de seus contextos e quando não entendemos tanto do assunto. É fácil quando falamos do “outro” de forma despersonificada.
Porém, quando nos responsabilizamos para mudar isto: conhecer as pessoas que são discriminadas, o contexto que elas vivem e saber mais do assunto em pauta — não só pelas notícias midiáticas com opiniões prontas — nossa percepção é alterada.
Drogas em toda esquina
Vivemos em uma época onde temos o maior acervo de drogas disponíveis em cada esquina e aceitamos isso. Vemos pessoas durante todo o dia entrando e saindo das esquinas com drogas, sem qualquer medo. Estas pessoas usarão suas drogas dentro de casa e dificilmente serão questionadas.
Estou falando das farmácias e das drogas legalizadas que são vendidas nelas.
Temos cada vez mais pessoas dependentes dessas substâncias e até receitadas, sem muito critério, por médicos ou disponíveis para qualquer um comprar quando bem entender.
Tomar comprimidos diariamente se tornou normal em nossa geração. Muitas destas drogas são extremamente perigosas e suas bulas informam coisas terríveis.
Tudo isto tem um preço para o nosso organismo e sociedade. Porém, parece que nos conformamos e até defendemos uma saúde reativa em vez de uma saúde preventiva com um estilo de vida mais saudável.
Plano de saúde no fundo é um plano de doença: você só usa por estar doente.
Acreditamos que tudo é consertado com remédios, podemos comer todas besteiras industrializadas disponíveis, nos manter sedentários, trabalhar 12h por dia com estresse alto e isolados sem relações saudáveis. E na prática, com o passar do tempo, percebemos que esse conserto não funciona.
Claro, os remédios fazem parte do avanço tecnológico da medicina e que salvam milhares de vidas continuamente. Temos o privilégio de vivermos nessa era. Porém, o ponto é que precisamos discutir os assuntos mais a fundo para não generalizarmos.
Sistema e leis
Uma lei é capaz de afetar como interpretamos algo e criar discriminação, mesmo quando não há o embasamento necessário.
Se de repente surgisse uma lei que proibisse comer aveia por achar que causa sonolência e preguiça em algumas pessoas ou por alguém simplesmente achar os flocos feios, não acho que as pessoas deixariam de comer aveia por conta disto. Um novo mercado paralelo surgiria e as pessoas-comedoras-de-aveia seriam vistas como vilãs e presas. Poderia ser eu ou você, seu pai ou sua mãe.
Isso aconteceria por elas de repente se tornarem más pessoas? Não. Isso aconteceria por alguém de repente criar uma lei que mude a interpretação sobre o comportamento destas pessoas.
Precisamos lembrar que em alguns momentos o problema é a lei, não as pessoas.
“Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça” — Eduardo Juan Couture, jurista uruguaio
A maconha, por ser ilegal, continua a ser comercializada em um mercado paralelo e perigoso, sem apoio de profissionais de saúde ou de órgãos regulamentadores.
Também leva à má qualidade e mau uso da planta comercializada, e tristemente à discriminação, violência, aprisionamento e até morte intencional de pessoas que fazem uso dela.
Claro, este e outros subtópicos que comentei merecem, por si só, um aprofundamento com discussão. Ousei tocar em alguns pontos para trazer reflexão e discussão inicial.
Acredito que juntos temos oportunidade de influenciar o sistema para gerar resultados que acreditamos melhorar a sociedade.
Sobre mim
Alguns podem pensar que, por eu trazer esse tema, eu deva ser “maconheiro”. Quanto a isso não posso fazer muita coisa, pois realmente sou e o termo nem precisa de aspas: maconheiro. Apesar de seu uso costumar ser pejorativo, não me incomoda ao pensar que a relação direta é sobre maconha.
Não tenho vergonha ou medo de assumir o uso dela. E correlação não significa causa. Uma coisa existe independentemente da outra. Defendo e apoio muitas outras causas que acredito mesmo quando não faço parte do grupo e tema que defendo.
Faço uso e me beneficio da maconha desde os meus 32 anos, estando hoje com 38, e de lá para cá assumo o uso com familiares, colegas de trabalho ou para quem pergunta.
Quem me conhece sabe dos meus hábitos e valores pessoais. Maconha em nenhum momento foi problema ou solução de vida para mim, porém se tornou uma aliada amiga.
Avalio e reflito sobre o uso e seus efeitos periodicamente, assim como faço com minha alimentação, exercícios, projetos e relações.
Atualmente trabalho como consultor e mentor em startups em temas como estratégia e gerenciamento de produto, assim como design organizacional e transformação cultural. Com meu posicionamento público talvez eu perca oportunidades de “clientes tradicionais” e “empregos tradicionais”. Enfrento isto acreditando que dar mais luz ao tema ou torná-lo menos amedrontador ajude não apenas falarmos sobre maconha mas também sobre muitos outros tabus.
De certa forma sei que os riscos que corro no alto dos meus privilégios de homem-branco-hétero-classe-média são mais baixos, apesar de ainda existirem, comparados a outros grupos que são oprimidos e violentados. E essa diferença e injustiça me incomodam e entristecem.
Quero de alguma forma potencializar a voz e direitos dessas outras pessoas, as que mais necessitam e mais sofrem.
Intenção
Escrevo este texto com intenção de criar oportunidades de diálogo, pontes onde não existiam, questionar e quebrar tabus.
Desejo para mim e para todas outras pessoas o direito próprio de plantar, adquirir e utilizar sem medo de discriminação e punição.
Desejo mais pesquisas científicas e acesso barateado à maconha medicinal.
“A maconha está para a medicina do século XXI como os antibióticos estiveram para a medicina do século XX“ — Sidarta Ribeiro, neurocientista (trecho do vídeo)
O propósito do texto não é recomendar o uso da maconha, apesar de acreditar que possa ser uma importante ferramenta para várias pessoas.
Talvez exista risco potencial de desenvolvimento com o uso contínuo de maconha por adolescentes. Em algumas outras pessoas a maconha pode desencadear efeitos indesejados e outras podem fazer parte de grupo de risco. Toda substância pode ter grupo de risco.
Por isto, considero importantes a legalização, regulamentação e mais estudos científicos para dar suporte às pessoas que precisam e desejam usar — e cultivar, para sabermos dos benefícios e riscos de forma mais aprofundada, permitir avançarmos como sociedade e criar novas oportunidades.
Desejo paz, respeito e saúde a todos nós.
Comentários
Me dou o direito de ignorar ou deletar comentários com discurso de ódio, falácias e conselhos sobre meu estilo de vida.
Testes genéticos
Atualmente já há testes genéticos que auxiliam na prescrição de canabinoides.
De acordo com Fabricio Pamplona, o objetivo dos testes é conseguir escolher qual a melhor composição de canabinoides para o seu perfil.
Quer saber mais sobre maconha?
Veja essas referências que registrei:
Este Ted Talk de 15 minutos fala sobre a maconha na perspectiva de um psicólogo pesquisador que estuda drogas e comportamento humano:
O vídeo é de 2014 e de lá pra cá já temos mais estudos e evidências que ajudam ainda mais na causa.
Deseja assistir mais vídeos informativos?
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