Quem é Alberto Youssef?

Diego Bonetti
Diego Bonetti
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4 min readJun 1, 2018

De vendedor de salgados para doleiro de sucesso

Por Diego Bonetti e Marina Verenicz

Filho de libaneses pobres que imigraram para o Brasil, quando criança, Alberto Youssef vendia salgados nas ruas da cidade de Londrina, onde nasceu e cresceu.

Ainda adolescente, Youssef entrou no encantador mercado do contrabando de eletrônicos do Paraguai com a ajuda de monomotores que ele mesmo pilotava. Essa sua atividade lhe rendeu cinco detenções. As primeiras de muitas.

Apesar das detenções, o caminho de Youssef não foi interrompido, apenas escalonou. Foi por meio de uma irmã, dona de uma casa de câmbio do lado paraguaio, que ele aprendeu o ofício de doleiro.

Com menos de trinta anos tornara-se um bem-sucedido “homem de negócios”, dono de uma poderosa casa de câmbio, especialista em lavagem de dinheiro e remessa ilegal de dólares para o exterior.

Aos 47 anos, Youssef acumula oito passagens pela prisão: cinco apreensões por contrabando, duas atuando como doleiro e a última, no dia 17 de março de 2014, capturado na Operação Lava Jato, acusado de liderar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões.

Há duas décadas está ligado aos maiores escândalos de desvio de dinheiro público. Fez fortuna colecionando amigos poderosos. Hoje estima-se que o doleiro tenha relações com mais de 30 políticos, de acordo com fofocas do Congresso.

Seu patrimônio é estimado pela PF entre R$ 20 milhões e R$30 milhões, sem incluir as contas abertas no exterior e eventuais propriedades em nome de laranjas.

O grande salto da carreira de Youssef foi quando participou ativamente do escândalo do Banestado. O esquema consistia em envio ilegal de remessas para o exterior através do sistema financeiro público brasileiro, na segunda metade da década de 1990. O doleiro ganhou fama e admiração pelos que atuam no segmento. À época da denúncia, em 2002, o então promotor Luiz Fernando Delazari, um dos primeiros a denunciá-lo, afirmou: “Hoje, todos os doleiros giram ao redor dele” .

Apenas na Lava Jato foi acusado de cometer o crime de evasão de divisas por incríveis 3.649 vezes. Entre 2011 e 2013, remeteu para o exterior cerca de R$ 450 milhões, através de operações fraudulentas.

De acordo com a Polícia Federal, o dinheiro movimentado por Youssef circula no crime paralelo. As operações do doleiro vão desde tráfico internacional de drogas até contrabando de diamantes de uma reserva indígena do Estado do Mato Grosso.

Youssef está envolvido nos mais famosos e recentes escândalos de corrupção no Brasil como o Banestado, o Mensalão e a Lava Jato. Além disso, também está implicado nos seguintes casos:

1 — Condenado a cinco anos e um mês por desvios de R$ 15,4 milhões na Prefeitura de Maringá entre 1993 e 1996, durante a gestão do prefeito Said Felício Ferreira.

2 — Ligado às acusações feitas ao ex-Prefeito de Londrina, Antonio Belinati, de desviar 120 mil de licitações para campanhas.

3 — Ligado às acusações feitas ao governo de Jaime Lerner de fraude no montante de mais de R$ 39 milhões.

4 — Ligado às acusações feitas a José Janene, condenado no Mensalão.

5 — Ligado às acusações feitas a Enivaldo Quadrado, condenado pelo Mensalão e preso na Lava Jato.

6 — Condenado por desvio de R$ 80 milhões da prefeitura de Maringá, entre 1997 e 2000, juntamente com José Borba, ex-líder do PMDB na Câmara.

7 — Possível envolvimento com negócios ilícitos ligados ao Ministério da Saúde, juntamente com André Vargas, que deixou a vice-presidência da Câmara por pressão do partido.

8 — Suspeito de envolvimento com Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, na cobrança de propina de fornecedores da Petrobras para repassar a políticos.

9 — Suspeito de repassar R$ 28,5 milhões a políticos do PP, como os deputados Nelson Meurer e João Pizzolatti e aos ex-deputados Pedro Henry e Pedro Corrêa.

10 — Suspeito de receber, através de uma empresa de fachada, valores envolvidos na construção do complexo de Suape, suspeita de superfaturamento.

11 — Denunciado pelo Ministério Público Federal por lavagem de dinheiro e evasão de divisas referentes a uma remessa de U$ 124 mil para o Exterior, ligada a Rene Luiz Pereira, acusado de tráfico de 698 quilos de cocaína da Bolívia.

Alberto Youssef é o protagonista na transferência de bilhões de dólares oriundos de forma ilícita a partir de atividades criminosas e de recursos desviados nas privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso.

Atualmente, Youssef cumpre pena em regime aberto. Um dos principais personagens da Lava Jato ficou preso por três anos, mas lhe foi concedido o direito de cumprir pena em liberdade por ter feito delação premiada. O doleiro segue monitorado pelas autoridades sob uso de tornozeleira eletrônica.

Diego Bonetti é publicitário, estudante do curso de jornalismo na FAAP e editor da primeira edição do LabJor FAAP.

Marina Verenicz é advogada, estudante do curso de jornalismo na FAAP e editora assistente da primeira edição do LabJor FAAP.

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