Folha deixa de publicar no Facebook. E daí?

Sérgio Lüdtke
Digital Media by Interatores
3 min readFeb 8, 2018

A Folha de S. Paulo comunica nesta quinta, 8, na sua homepage a decisão de não mais publicar conteúdo no Facebook em razão da diminuição de visibilidade do jornalismo profissional na rede. E o faz também em inglês para que o mundo, aí incluindo Zuckerberg, fique sabendo.

E daí?

Reprodução do site da Folha

Daí, nada. Há muito que os links se multiplicam, que as notícias se espalham na rede e passam a orbitar no entorno do leitor. Mais cedo ou mais tarde, esse leitor poderá se defrontar com a notícia e acessá-la se ela for capaz de atrair a sua atenção. Ao embarcar seu conteúdo na nave de Zuckerberg, a Folha estava usando uma parte provavelmente pequena de um grande canal de distribuição. As suas notícias, no entanto, continuarão a trafegar na rede por esse mesmo canal, sendo embarcadas por outros perfis e em outras páginas e grupos e irão cruzar a rota de milhões de leitores e permanecer na órbita de outros tantos.

A solenidade dada ao término oficial das cargas de conteúdo pela Folha pode ser uma decisão política, de enfrentamento, ou de marketing. De novo, tanto faz. Para o leitor pouco significará. As redes sociais, usadas pelos veículos de comunicação exclusivamente como canal de distribuição, são espaços de conversação pouco compreendidos por uma mídia que não está a fim de conversa. O algoritmo pode até dar as cartas, mas não deveríamos subestimar o papel das pessoas nesse jogo. São elas que fazem as cartas circularem. As conversas não se dão na página de um distribuidor de informação, mas no post que está sendo compartilhado. A conversa circula com o link e vai além. Se o jornalismo da Folha continuar capaz de gerar conversas, elas acontecerão no Facebook independente de quem as carregar na rede.

Modelo de negócios

Há quase cinco anos, a Globo fez um movimento semelhante justificando-o em razão do acesso direto que os anunciantes poderiam ter aos seus públicos utilizando a plataforma. Naquela época, a Globo também minimizou o potencial de geração de tráfego do Facebook. Ela voltou atrás algum tempo depois.

A Globo ainda tem na publicidade a sua principal fonte de receita e seu portal não cobra pelo acesso à grande parte do conteúdo. Ela ainda precisa "comprar" audiência. Essa já não é mais a realidade de jornais como a Folha. Com a queda da receita vinda da publicidade e o fechamento dos conteúdos, os sites de jornais buscam transformar a receita proveniente de assinaturas e venda de conteúdo na sua principal fonte de financiamento. E a Folha dá sinais de que busca apertar ainda mais o seu paywall. No novo site, lançado há poucos dias, os conteúdos de opinião, mais exclusivos, já são acessados apenas por assinantes.

Ao não insistir em um fluxo de audiência pouco "fidelizável" proveniente do Facebook, a Folha mostra que muda a sua lógica e abre mão ou minimiza a importância estratégica de gerar grande volume de audiência para, provavelmente, se fixar num leitor mais fiel. Oferecer conteúdo adequado à expectativa desse leitor é uma boa ideia, mas é preciso confirmar se isso será suficiente para cativá-lo.

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Sérgio Lüdtke
Digital Media by Interatores

Jornalista especializado em mídias digitais, diretor de interatores.com e editor do Projeto Comprova.